II

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A atmosfera na maternidade era carregada de tensão e indignação. Assim que Agatha e Rio chegaram para confrontar o hospital, o saguão de atendimento tornou-se o epicentro de uma série de discussões acaloradas. As duas mulheres, agora lado a lado, lançavam olhares furiosos para as enfermeiras e administradores que tentavam se justificar.

— Isso é um absurdo! — exclamou Agatha, a voz fria e controlada, embora carregada de raiva. — Como vocês podem ter cometido um erro tão grosseiro? Não estamos falando de pacotes de mercadorias. Estamos falando de nossas filhas!

Rio assentiu, mas sua abordagem era diferente; a indignação era visível, porém marcada por uma tristeza contida. Ela apertava as mãos, tentando acalmar-se.

— Minha filha passou meses sendo criada por outra pessoa. Como… como isso foi acontecer? — murmurou ela, os olhos marejados.

As enfermeiras, visivelmente desconcertadas, tentavam explicar que um erro no sistema de identificação dos bebês levou à troca.

— Nós lamentamos profundamente o erro, e garantimos que isso nunca aconteceu antes… — começou a falar a supervisora da ala pediátrica.

Agatha interrompeu, aumentando o tom de voz.

— Eu não quero desculpas! Quero justiça! Esse hospital cometeu uma violação gravíssima e inaceitável. E eu farei questão de processar cada um de vocês até que esse lugar feche as portas! — bradou, os olhos faiscando de fúria.

Rio olhou para ela, surpresa com a reação intensa. Embora compartilhasse da indignação, sentia que processar o hospital não resolveria o problema mais urgente: o bem-estar das crianças.

— Agatha, espere… talvez não seja essa a melhor solução — disse Rio, tentando intervir.

Agatha virou-se para ela, irritada.

— Como assim, Rio? Você não está furiosa com o que fizeram? Eles roubaram meses das nossas vidas, das vidas das meninas!

— Claro que estou, mas o mais importante agora é garantir que as meninas fiquem bem, que consigam se adaptar a esse novo cenário. Processar o hospital pode até ser justo, mas e as nossas filhas? Precisamos cuidar delas — respondeu Rio, tentando manter a calma.

As duas mulheres se encararam por um momento, um abismo de diferença na forma de pensar separando-as. As famílias ali presentes, incluindo os pais das crianças, também estavam em choque, trocando acusações sobre como a situação poderia ter sido evitada.

— Se não fosse por você, isso nunca teria acontecido — murmurou Ralph, o marido de Agatha, dirigindo-se a Rio.

Rio lançou-lhe um olhar severo, ofendida pela insinuação.

— Isso não tem nada a ver comigo! Não foi culpa minha que o hospital cometeu um erro tão grave. Estamos todos no mesmo barco!

A tensão aumentava a cada segundo. Agatha, percebendo que a discussão estava fugindo do controle, tomou uma decisão repentina.

— Olha, se o problema é onde Olivia ficará, estou disposta a adotá-la — disse Agatha, sua voz carregada de convicção. — Ela passou esses meses comigo. Eu a conheço, e sei como cuidar dela.

Rio ficou pasma com a proposta, sentindo uma raiva inesperada emergir.

— Como é que é? Adotar Olivia? Ela é minha filha, Agatha. Eu sou a mãe dela! — Rio retrucou, incrédula. — Você pode até ter passado um tempo com ela, mas isso não lhe dá o direito de tirar a minha filha de mim.

Agatha ergueu o queixo, sem recuar.

— Mas, pelo visto, você não consegue oferecer a estrutura que ela precisa. Olivia se acostumou com uma vida organizada, com horários, com segurança. Talvez seja o melhor para ela — argumentou, o tom condescendente.

Casos Do AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora