III

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Naquela noite, a casa estava em completo silêncio, mas Rio, que ainda se adaptava ao novo ambiente, não conseguia dormir. Sentia-se perdida naquele espaço luxuoso, diferente de tudo o que conhecia, e estava inquieta com a decisão de ter aceitado morar ali.

Sem fazer barulho, ela saiu do quarto, desceu as escadas e foi para a cozinha em busca de um copo d'água. Quando entrou no ambiente, o que viu a fez parar imediatamente.

Agatha estava ali, sentada em um dos bancos altos da bancada de mármore, vestindo apenas uma camisa masculina — provavelmente de Ralph. Os cabelos estavam soltos, caindo em ondas leves, e uma caneca de chá repousava em sua mão enquanto ela olhava concentrada para a tela do notebook. A luz suave da cozinha parecia envolvê-la, criando uma cena inesperadamente íntima.

Agatha levantou os olhos ao perceber a presença de Rio, e as duas trocaram um olhar surpreso.

— Ah, Rio… — disse Agatha, com um sorriso leve, mas um pouco embaraçada por ter sido pega desprevenida. — Também não consegue dormir?

Rio deu de ombros, tentando disfarçar a sensação de estar invadindo um momento privado.

— Acho que ainda estou me acostumando com a casa… tudo parece tão... diferente. Achei que um pouco de água pudesse ajudar.

Agatha assentiu, indicando a chaleira no fogão.

— Quer um pouco de chá? Pode ajudar a acalmar os nervos. — Ela se levantou e pegou uma xícara para Rio, enchendo-a com a infusão.

Rio aceitou a xícara, sentando-se ao lado de Agatha, ainda intrigada com a forma descontraída da anfitriã. O cheiro do chá era reconfortante, e, por um momento, o ambiente tenso que normalmente cercava as duas pareceu relaxar.

— Como você consegue trabalhar a essa hora? — perguntou Rio, tentando manter uma conversa leve.

Agatha deu um sorriso, levando a xícara de chá aos lábios.

— É um hábito, eu acho. A noite é o único momento em que a casa está completamente silenciosa. Consigo me concentrar melhor.

— E Ralph? Ele não se importa? — perguntou Rio, meio sem jeito, com curiosidade sobre o casamento de Agatha.

Agatha soltou um leve suspiro.

— Ralph tem seu próprio quarto, então raramente percebe quando estou por aqui. Na verdade, acho que ele não se importa muito com essas coisas.

Rio notou um toque de amargura nas palavras de Agatha, e aquilo a deixou intrigada.

— Imagino que a vida aqui seja… bem diferente da minha. — Rio sorriu, sem saber exatamente como tocar nesse assunto, mas ainda assim curiosa.

Agatha deu de ombros.

— Talvez seja, mas, no fundo, acho que todas temos nossas dificuldades, independentemente do tamanho da casa ou da conta bancária.

As duas trocaram um olhar compreensivo. Rio percebeu que, por trás da segurança e da sofisticação, Agatha também guardava suas vulnerabilidades.

Elas ficaram em silêncio por alguns momentos, apenas saboreando o chá e a presença uma da outra. Era a primeira vez que sentiam uma conexão que ia além das tensões das últimas semanas.

Finalmente, Rio quebrou o silêncio.

— Sabe, quando aceitei sua proposta de vir morar aqui, não imaginava que teria noites assim. Na verdade, achei que seria... mais difícil.

Agatha sorriu.

— Quem sabe isso signifique que, talvez, conseguimos conviver. Afinal, estamos aqui pelas meninas, mas… também não precisamos tornar as coisas mais complicadas do que já são.

Casos Do AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora