Capítulo 7

558 51 9
                                        

Ana Flávia

Uma das vantagens de ser mulher era usar da própria aparência pra conseguir o que quero dos homens. Minha primeira opção sempre era agir com arrogância e valentia, mas quando não funcionava, eu optar pelo mei charme.

Normalmente, eu só precisava partir para o segundo caso com homens mais poderosos, difíceis de amedrontar, nunca antes eu precisei jogar meu charme em um funcionário pra que ele me obedecesse. Gustavo era um homem que me deixava confusa e fora de mim.

Depois do expediente, fui para casa e me deixei relaxar. Isso era tudo o que eu fazia quando chegava em casa.

Deitada em minha cama, eu comecei a olhar o meu quarto. Fotos com meu pai, minha mãe e meu irmão. Nenhuma foto com amigos. Não se pode tirar fotos com o que não se tem, certo?

Mesmo me sentindo totalmente superior à todos da empresa, tinha algo neles que eu invejava. Todos eram cercados de amigos e toda vez que eu passava pelo refeitório, ouvia as risadas e conversas engraçadas entre eles. Sentia falta desse tipo de conexão com alguém.

Eu tinha muitas amigas no colégio, mas com o tempo, essas amizades diminuíram até se perderem.

Zerei meu número de amigos depois de me tornar uma mulher de negócios e ter sido enganada por um deles. Passei um tempo sem confiar nas pessoas e acabei afastando todos. E agora que sinto falta disso tudo, não tenho ninguém.

Na maioria dos dias, eu não me importava, gostava da minha própria companhia. Mas em dias específicos, meu peito se envolve numa melancolia e um vazio que eu não sabia com o que preencher. E hoje era um desses dias.

Peguei meu celular sobre a cômoda e disquei o número da minha mãe.

— Alô? — respondeu ao atender.

— Oi, mãe. Tudo bem?

— Você está bem, querida? Não é comum me ligar a noite e no meio da semana.

— Estou me sentindo um pouco sozinha. — suspirei.

— Isso é uma pena, querida. Por que não chama suas amigas pra sair com você?

— Sabe que não tenho amigas.

— Deve ter alguma falsa que fica do seu lado a qualquer custo. — dei risada da naturalidade com que ela falava aquilo.

— Não ando com pessoas falsas.

— Ah, meu bem, quando se é uma mulher rica, tudo o que vai achar é falsidade. Temos duas escolhas, engolir isso ou ficar sozinhas.

— Não quero ficar sozinha, mas queria alguém de verdade ao meu lado.

— Infelizmente, o dinheiro não compra isso.

— É uma pena...

— Mas tem um jeito de ter nem que seja algo próximo à isso.

— O que seria?

— Visite uma psicóloga. Elas conseguem ser ótimas amigas depois de algumas sessões.

— Não preciso de psicóloga, Michele.

— Todo mundo precisa.

— Não sei... não acho uma boa ideia.

— Bom, pense bem nisso. Querida, é sempre ótimo falar com você, mas eu preciso ir. Estou vendo um desfile de moda e estou na primeira fila. Tenho que desligar.

— Tudo bem. Até mais.

— Até.

E então, ela desligou. Michele não era a melhor mãe do mundo, mas sempre que eu precisava de um conselho, ela se esforçava pra dizer algo com coerência.

DONA DE MIM/ MIOTELAOnde histórias criam vida. Descubra agora