Amor Entre Ódio

Capítulo 44

Jaison Narrando

Descobrimos que a Sofia tinha câncer quando ela tinha apenas três meses de vida. Ela ficou muito doente, de uma hora para outra. Achamos que iríamos perdê-la, mas ela é uma garotinha muito forte, mais forte do que eu jamais fui um dia. Foi a época mais difícil da minha vida, nunca consegui falar sobre isso com ninguém, até a Vitória. Não sei o que aconteceu entre a gente, mas ela conseguiu se tornar minha pessoa preferida no mundo. Sinto vontade de ser eu mesmo com ela, de falar sobre tudo e todas as coisas, de fazer coisas que eu jamais fiz com outra pessoa. Tudo é melhor com ela.

Naquela época, a Sofia fez um tratamento com acompanhamento médico e o câncer estabilizou, mas nunca foi embora. Ontem foi uma noite incrível com a estressadinha, onde verdades foram ditas e eu pude expressar para ela e para mim mesmo o que estou sentindo, e isso é uma loucura, mas eu estava feliz, até chegar em casa. Minha mãe estava sentada no sofá, de cabeça baixa, com as mãos apoiadas no joelho, chorando. Eu já imaginava que fosse sobre isso. Na verdade, acho que vivi a vida inteira da Sofia com medo de que esse maldito câncer voltasse. Fazia muito tempo que eu não chorava, mas foi inevitável. Ver minha mãe daquela forma e a Sofia perguntando "o que foi mamãe" me quebrou, e a única pessoa que eu pensava naquele momento, que eu queria, por algum motivo, estar perto, era a Vitória.

Sai correndo e entrei no carro, esmurrando o volante e tentando controlar as lágrimas, que me impediam de enxergar. Dei partida pra a casa dela, sem me importar quem atenderia a porta, se alguém desconfiaria de algo. Eu só precisava dela.

{...}

- Como ela ta? - Vitória pergunta, deitada na cama, enquanto visto minha roupa.

- Mal - respondo, sem olhar para ela - O câncer atingiu o cérebro, é como uma bomba relógio, ela precisa operar o mais rápido possível - fecho os olhos com força.

- Jaison, ela vai conseguir - sinto suas mãos em meu ombro e abro os olhos para encara-la - Não é fácil se livrar de você, eu já tentei, e muito - brinca, tentando descontrair, e me arrancando um sorriso sincero.

Fico olhando para ela, sentindo algo muito estranho dentro de mim, com o coração acelerado, como se pudesse saltar para fora a qualquer momento.

- O que foi? - ela pergunta, e eu demoro longos segundos para responder.

- Não quero que se livre de mim - confesso, olhando em seus olhos - Acho que nunca quis.

Ela continua me olhando, com uma feição indecifrável, como se tentasse interpretar minhas palvaras e procurar verdades nelas, antes de dizer:

- Não vou.

Desço meu olhar até sua boca e me aproximo, lentamente, até colar nossos lábios, delicadamente, mas com muita intensidade.

- Vih você viu a.. - Toby entra no quarto, e para de falar assim que nos vê. Nos separamos rapidamente, direcionando o olhar para ele - Que merda é essa? - Toby indaga, pausadamente - Vocês estão malucos?

- Não aconteceu nada Toby - Vitória tenta descoversar e ele solta uma risada irônica.

- Não aconteceu nada? - pergunta, cínico - Então vocês não estavam se pegando antes de eu chegar?

- Foi só um beijo - respondo, revirando os olhos.

- Ah, ótimo, só um beijo - ri, sarcástico - Sabe que o Scott vai te matar né?

- Ele não precisa ficar sabendo - ela afirma, em súplica. Toby expira pesadamente, ponderando.

- Desde quando? - questiona.