3 - Esfregão

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As baladas da cidade de Nova York.

A música é tão alta que, se você quiser conversar, só conseguirá se for capaz de ler lábios. Caras suados com camisas sou-muito-sexy de seda, que acham que, só porque você respira, significa que já está querendo algo. Filas enormes no bar e bebidas aguadas extremamente caras.
Não é o meu lugar favorito. Prefiro muito mais um barzinho. Cerveja de garrafa, jukeboxes, mesas de sinuca – quando preciso, sou uma ótima jogadora de
sinuca.

Não que não tenha curtido uma ou duas boas raves na minha vida.

O quê? Você achou que maconha tinha sido a única substância ilegal a encantar minha corrente sanguínea? Infelizmente não.
Ecstasy, LSD, alucinógenos, já experimentei todos eles.

Acho que te choquei. Não deveria ficar.

Toda essa cultura de drogas começou com intelectuais em instituições de ensino superior. Não me venha com essa de que Bill Gates inventou o Windows – um labirinto de caminhos interconectados e multicoloridos – sem algum suporte psicodélico. Bom, de qualquer modo, apesar das minhas preferências, quatro
semanas depois que voltamos de Cabo, Lisa e eu acabamos na balada mais popular do momento. Com nossos melhores amigos,
Matthew e Deloris. Para celebrar o primeiro aniversário de casamento deles. Não sabia que eles se casaram? Foi ótimo.

Vegas. Preciso dizer mais alguma coisa?

Deloris adora baladas. Ela curte qualquer tipo de estímulo sensorial. Quando tínhamos dez anos, sua mãe, Amélia, comprou um estroboscópio para seu quarto. Deloris sentava e ficava encarando-o durante um bom tempo, como se fosse uma bola de cristal ou uma pintura de Jackson Pollock.

Pensando bem, isso explica muita coisa.
Então, está nos vendo ali? Deloris e Matthew estão saindo da pista de dança, vindo até onde estou sentada, em uma roda de cadeiras vermelhas estofadas que estão na moda. Lisa saiu para pegar outra bebida. Estou muito cansada para dançar esta noite. Deloris se joga na cadeira ao meu lado, rindo.

Eu bocejo.

– Você tá horrível, Jen.

Uma boa amiga deve ser capaz de te contar qualquer coisa. Em qualquer situação, se elas não forem corajosas o suficiente para lhe dizer o que quer que seja? Elas não são suas melhores amigas.

– Obrigada, Dee Dee. Também te amo.

Ela joga seu longo cabelo loiro para trás, ondulado, e brilhando com a purpurina que ela colocou para as festividades desta noite.

– Só estou dizendo que você tá precisando de um dia em um spa.

Ela não está errada. Estive exausta a semana inteira, daquele jeito que pega o corpo inteiro, parecendo que você está com um peso nas costas. Ontem, eu caí no sono na minha mesa. Acho que peguei aquela gripe que está rolando.

Deloris se abana com a mão.

– Cadê a porra da Lisa com aquelas bebidas? Estou morrendo aqui.

Ela desapareceu há alguns minutos, o que não é incomum em um lugar como este.
Ainda assim, meus olhos analisam o ambiente. Aí eles encontram a Lisa. No bar, segurando as bebidas, conversando com uma mulher. Uma linda loira, com pernas do tamanho do meu corpo inteiro. Ela está com um scarpin prateado e um vestido curto com lantejoulas. Ela parece… legal. Sabe aquele tipo? Ela está sorrindo.

O pior de tudo é que Lisa também está.

E está vendo como ela se curva pra ela? A inclinação da cabeça dela? O embaraço sutil de suas coxas? Elas já transaram. Sem dúvida alguma.

Maldita filha da puta.

Esta não é a primeira vez que encontro alguma das ex-ficantes da Lisa. Na verdade, isso costuma ocorrer diariamente: a garçonete no Nobu, a bartender no McCarthy’s Bar and Grill, diversas clientes
aleatórias no Starbucks. Lisa é educada, porém rápida, dando-lhes a mesma atenção que você dá quando encontra um colega da escola do qual nem se lembra do nome.
Então, isso não costuma me incomodar.
Mas como disse, esta não é uma semana normal. A fadiga me deixou ranzinza. Sensível demais. Puta.

Muito, muito puta.

Meus nervos estão a flor da pele.

Porra, ela continua conversando com ela.
Ela coloca a mão no braço de Lisa e aí minha mulher da caverna interior bate no peito como o King Kong com roupas. Tem um copo vazio na minha frente. Lembra-se da Marcia Brady e o futebol? Acha que consigo alcançá-los daqui? Já repararam que assassinos em série e terroristas quase sempre são do sexo masculino? É porque os homens gostam de espalhar agonia. As mulheres, no entanto, guardam a dor internamente.

Guardamos para nós. Até a morte.

Sim, eu fiz aula de Introdução à Psicologia na faculdade.

Mas o que importa é que, em vez de ir até lá e arrancar os fios de cabelo da loirinha, e principalmente, os da Lisa, como eu realmente gostaria de fazer, eu me
levanto.

– Vou pra casa.

Deloris pisca.

– O quê? Como assim? – aí, ela repara no meu rosto. – O que aquela idiota, filha do satã fez agora?

Um conselho: quando estiver nervosa com sua companheira, tente não contar isso para as amigas. Mesmo depois que você
perdoá-la, pode apostar que elas nunca se esquecerão.

Em vez disso, recomendo reclamar para a família dela. Eles já viram seus traços negativos, egoístas e imaturos em alta definição, então não é como se estivesse abrindo o jogo.

Mexo a cabeça.

– Nada. Estou apenas… cansada.

Ela não engole essa desculpa. E seu olhar se fixa na direção em que continuo olhando. A Pernuda joga sua cabeça para trás e ri. Seus dentes são branco-perolados e perfeitos. Aparentemente, a bulimia ainda não apodreceu seu esmalte.

Ainda.

Deloris vira para o marido.

– Matthew, vá buscar seu amigo. Antes que eu vá, porque, se eu for, você vai precisar de um esfregão para pegá-la.

Mantenho meu queixo erguido, teimosamente.

– Não, Matthew, não vá. Lalisa está, claramente, feliz lá. Por que tirá-la de lá?

Imaturo?

Provavelmente.

Eu me importo?

Não.

Matthew olha de um lado para o outro para nós. Em seguida, sai correndo até a Manoban. Dee Dee o treinou direitinho. Ela deixa o Encantador de Cães no chão.

Dou um abraço de despedida.

– Te ligo amanhã.

Depois, vou até a porta sem olhar para trás.

Atraída 2 (JenLisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora