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𝘽.𝙏

Dizem que os momentos mais importantes da sua vida passam como um filme quando você pensa no passado. Se isso for verdade, o meu filme começa aos 14 anos, no verão em que eu e Rafe Cameron nos beijamos pela primeira vez. Nossas famílias eram amigas de longa data, com laços que pareciam inquebráveis. Crescemos juntos, em casas vizinhas, dividindo tudo: festas, férias, segredos. Rafe sempre esteve lá, com seu sorriso confiante e aquele jeito de menino que sabia como fazer qualquer momento parecer especial.

No começo, era só amizade, ou pelo menos era o que eu achava. Mas naquela noite, na fogueira que nossos pais organizaram no quintal da casa de praia, algo mudou. Ele me puxou para longe do barulho, perto do píer. "Você sabia que eu gosto de você, né?" ele perguntou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Eu ri, achando que ele estava brincando. Mas quando ele segurou meu rosto e me beijou, soube que ele estava falando sério.

Namorar Rafe era como viver dentro de um sonho. Ele sabia exatamente como me fazer sentir especial, como se eu fosse a única pessoa no mundo que importava. Passamos dois anos juntos, aprendendo o que era amor, ciúme, paixão. Ele era meu porto seguro, e eu era o dele. Ou pelo menos era o que eu pensava.

No final do nosso segundo ano de namoro, Rafe recebeu uma notícia: um intercâmbio na África, a oportunidade de estudar em uma das melhores escolas do mundo e viajar para lugares que só víamos em revistas. Eu sabia que ele queria ir, mas também sabia que isso significava o fim. Ele tentou me convencer de que daríamos um jeito, de que ainda seria "nós", mesmo a quilômetros de distância. Mas eu sabia que não era verdade.

Quando ele foi embora, algo dentro de mim quebrou. Era como se ele tivesse levado uma parte de mim com ele, deixando apenas o vazio. Eu chorei sozinha no meu quarto durante semanas, mas ninguém percebeu. Afinal, o mundo achava que eu era a garota forte, a filha perfeita dos Thorton.

E talvez eu fosse mesmo. Provar isso se tornou minha missão. Quando recebi a carta de aceitação da Georgetown University para o curso de Medicina, senti algo que não sentia há tempos: orgulho. Meus pais ficaram radiantes, meu irmão Topper fez piada dizendo que agora tinha que me chamar de "doutora". Pela primeira vez desde que Rafe partiu, senti que minha vida estava se encaixando de novo.

Mas a vida tem um jeito cruel de nos derrubar quando achamos que estamos no controle.

Era uma terça-feira qualquer. Eu estava no meu quarto, cercada por anotações e livros, tentando me preparar para as provas da faculdade. O celular tocou. Era uma ligação de um número desconhecido, mas atendi mesmo assim. A voz do outro lado era fria, profissional. "Blair Thorton? Sentimos muito informar, mas..."

O resto das palavras se transformou em um ruído distante. Meu mundo parou ali, naquela frase. Meus pais, em um avião particular voltando de uma viagem de negócios, sofreram um acidente. Não houve sobreviventes.

Fiquei sentada no chão do meu quarto por horas, incapaz de processar. Quando finalmente consegui ligar para Topper, percebi que ele estava tão perdido quanto eu. Ele tentou ser forte, mas a verdade é que nenhum de nós sabia o que fazer. Nossos amigos estavam em Miami, curtindo férias, e eu não quis incomodá-los. Como poderia explicar o que estava sentindo?

Os dias seguintes foram um borrão de ligações, arranjos e condolências vazias. As pessoas me abraçavam, diziam coisas como "seja forte", mas ninguém via as crises que vinham no silêncio da noite. Eu não dormia, não comia. Meu peito parecia esmagado por uma dor que não tinha fim.

Topper estava lá, mas ele também estava lidando com o luto à sua maneira. Ele saía de casa por horas, voltava cheirando a álcool, tentando escapar da realidade. E eu? Eu ficava sozinha. Tentando segurar os pedaços de uma vida que já não fazia sentido.

𝗣𝗔𝗦𝗧 - '𝗥𝗔𝗙𝗘 𝗖𝗔𝗠𝗘𝗥𝗢𝗡Onde histórias criam vida. Descubra agora