Estranha sensação

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POV Rafaella

— Você vai usar o vestido vermelho ou eu vou te matar — disse Manu na "área da comida", que era minha nova maneira de chamar aquele espaço. Com certeza não era grande o suficiente para ser chamado de cozinha.

Saí de um grande prédio de estilo vitoriano nos subúrbios de Chicago para um adorável apartamento no East Village do tamanho da minha antiga sala de estar. Parecia ainda menor depois que desfiz as malas, coloquei tudo no lugar e recebi minhas duas melhores amigas.

A sala de estar/sala de jantar/área da comida era cercada por grandes janelas que se projetavam para fora do prédio, mas o efeito deixava o espaço menos elegante e mais como um aquário. A Manu ficaria apenas o fim de semana, para uma noite de celebração, mas ela já tinha perguntado ao menos dez vezes por que eu havia escolhido um lugar tão pequeno.

A verdade era que eu tinha escolhido por ser diferente de tudo que já experimentei. e porque apartamentos pequenos são basicamente a única opção em Nova York quando você vai morar lá pela primeira vez. No quarto, experimentei o vestido vermelho e apertado que marcava até demais minha bunda e mostrava mais do que eu era acostumada a mostrar, fiquei olhando a quantidade de perna torneada que eu mostraria à noite. Odiei quando meu primeiro instinto foi pensar se o Allan consideraria revelador demais.

— Diga uma única boa razão para eu não vestir isto hoje.

— Não consigo pensar em nenhuma — Juliette entrou no quarto usando um vestido azul marinho que parecia flutuar como se fosse algum tipo de aura. — Vamos sair para beber e dançar, então mostrar um pouco de pele é essencial.

— Não sei o quanto de pele quero mostrar — eu disse. — Estou dedicada a manter meu status de garota solteira por um tempo.

— Bom, algumas garotas vão mostrar até a bunda, então você não vai se destacar na multidão, se é isso que está te preocupando. Além disso — ela disse, apontando para a rua lá fora — É tarde demais para trocar de roupa. A limusine já chegou.

Bufei pegando minha bolsa e desci as escadas rumo a limusine que nos aguardava

— Vamos lá, minha linda. Eu passei as últimas semanas com a Sarah. Está na hora de ter uma noite com minhas amigas.

Entramos no carro e Manu abriu o champanhe. Com apenas um gole borbulhante, o mundo inteiro ao meu redor pareceu evaporar e nos tornamos apenas três amigas numa limusine cruzando as ruas para celebrar uma nova vida. E não iríamos apenas celebrar a minha chegada: Juliette estava noiva, Manu estava nos visitando e a nova Rafaella solteira tinha um pouco de vida para viver.

A boate estava escura, ensurdecedora e cheia de corpos se contorcendo: na pista de dança, nos corredores, no bar. Uma DJ tocava num pequeno palco, e cartazes cobrindo toda a entrada asseguravam que ela era a mais nova e mais quente DJ que o Chelsea tinha para oferecer.

Manu e Juliette pareciam estar completamente ambientadas. Eu me sentia como se tivesse passado a maior parte da infância e da vida adulta em eventos calmos e formais; agora, era como se tivesse saído de vez da minha silenciosa história em Chicago e entrado no mais típico conto nova-iorquino. Era perfeito.

Forcei o caminho até o bar para pedir pelo menos algo para beber

— Com licença! — gritei, tentando chamar a atenção do barman. Eu nem sabia o que eram, mas já tinha pedido os seguintes drinques: "mamilos escorregadios", "mistura de cimento" e "peitos roxos".

Com o clube lotado ao máximo e a música tão alta que até fazia meus ossos tremerem, o barman nem levantava a cabeça para me olhar. É verdade, ele estava realmente super ocupado, e fazer os mesmos drinques chatos a toda hora era um trabalho tedioso. Mas eu tinha uma amiga recém-noiva, dançando feito louca na pista e querendo mais bebidas.

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