POV Rafaella
Encontrei Manu e Juliette na mesa, acabadas e suadas, e deslizei os drinques na frente delas, Manu colocou um na frente de Juliette e levantou o outro.
— Que todos os seus boquetes desçam redondos. — Assim ela envolveu o copo com a boca, levantou as duas mãos para o alto e jogou a cabeça para trás, engolindo tudo de uma só vez,
— Caramba... — Murmurei, olhando para ela admirada, enquanto Juliette ria ao meu lado.
— Assim que eu tenho que fazer? — Abaixei a voz e olhei ao redor. — Como um boquete de verdade?
— Já virei mestre em não engasgar. — Manu limpou a boca com o braço sem cerimônia e explicou. — É assim que a gente bebia na faculdade. Agora, vamos lá — Ela cutucou Juliette. — É a sua vez.
Juliette se inclinou na mesa e tomou o copo com a boca sem usar os braços, como Manu havia feito, e depois chegou a minha vez. Minhas duas amigas se viraram para mim.
— Conheci uma mulher gostosona e linda, muito linda — Eu disse sem pensar.
Manu deixou o queixo cair.
— Então por que você está aqui tomando boquetes de mentira com a gente? — Eu ri, balançando a cabeça. Não sabia como responder.
— Hoje é a noite das amigas. Você só vai ficar aqui por dois dias. Eu estou bem assim.
— Foda-se isso. Va aproveitar agora. — Juliette veio me socorrer
— Estou feliz por você achar alguém que considera gostosa. Faz uma eternidade que você não sorri assim por causa de alguém. Para falar a verdade, acho que nunca vi você sorrir por causa de homem ou mulher nenhuma.
Com a verdade tão exposta naquela mesa, peguei meu drinque e, ignorando os protestos de Manu, virei o copo com a mão e bebi tudo de uma vez. Era doce, delicioso e exatamente o que eu precisava para clarear a mente e esquecer o idiota em Chicago e a estranha bonitona no bar.
Então arrastei minhas amigas para a pista de dança. Em questão de segundos eu me senti com a cabeça leve, como se estivesse flutuando por aí. Manu e Juliette pulavam ao meu redor, gritando a letra das músicas, também perdidas no mar de corpos suados que nos envolvia. Desejei que minha juventude se prolongasse um pouco mais.
Longe da minha vida rotineira e cheia de compromissos em Chicago, eu conseguia agora enxergar o quanto tinha deixado de aproveitar. Apenas ali, com a DJ embalando música após música, fui capaz de perceber como eu poderia ter passado meus dias quando tinha vinte e poucos anos: debaixo das luzes, dançando num vestido curtinho, conhecendo pessoas que desejavam me devorar, vendo minhas amigas agirem como loucas, selvagens e bobas. Eu não precisava ter ido morar com meu namorado aos vinte e dois anos. Eu poderia ter vivido uma vida longe do mundo certinho dos sorrisos forçados e das aparências sociais.
Eu poderia ter sido esta garota: vestida para matar, dançando até o mundo acabar. Para minha sorte, ainda não era tarde demais. Abri os olhos e vi Juliette sorrindo para mim e respondi com outro sorriso
— Estou tão feliz por você estar aqui! — Ela gritou. Comecei a responder com outro juramento de amizade eterna, mas, logo atrás de Juliette, no meio das sombras da pista de dança, estava a minha estranha.
Nossos olhos se encontraram e não paramos de olhar uma para a outra. Ela estava bebericando seus três dedos de uísque com um amigo, e, percebi como pouco se surpreendeu por ser flagrada me olhando.
Entendi que vinha observando a noite toda, cada movimento que eu fazia. O efeito dessa percepção foi mais potente do que o álcool. Aqueceu cada centímetro da minha pele, queimou o meu peito e continuou descendo: o calor passou pelas minhas costelas e se concentrou em minha barriga.
Ela levantou o copo oferecendo um brinde, tomou um gole e sorriu. Senti meus olhos se fecharem lentamente. Eu queria dançar para ela. Nunca em minha vida eu me senti tão sexy, tão completamente no controle daquilo que eu queria. Eu tinha feito pós-graduação, encontrado um bom emprego e até redecorado minha casa com pouco dinheiro. Mas nunca me senti uma mulher madura como estava me sentindo ali, dançando como louca com uma linda estranha em pé nas sombras, me observando.
Aquele momento, aquele exato momento, seria meu recomeço. O que significava ser devorada? Será que ela quis dizer aquilo de maneira tão explícita como parecia? Com sua cabeça entre minhas coxas, braços envolvendo meus quadris e mantendo minhas pernas abertas? Ou ela quis dizer por cima de mim, dentro de mim, chupando minha boca, meu pescoço, meus seios?
Um sorriso se abriu em meu rosto e joguei meus braços para o alto. Eu podia sentir a barra do meu vestido subindo pelas minhas coxas, mas não me importava. Fiquei pensando se ela havia notado. Eu esperava que tivesse notado.
Pensei que, se ela fosse embora, então o momento seria arruinado, por isso não olhei de novo. Eu não estava acostumada com o protocolo das paqueras em boates; talvez sua atenção durasse apenas cinco segundos, talvez durasse a noite toda. Não importava. Eu podia fingir que ela estava lá no escuro pelo tempo que eu quisesse.
Aprendi a nunca esperar muita atenção do Allan, mas, com aquela estranha, eu queria seus olhos queimando através da minha pele até atingir meu coração, que batia descontrolado em meu peito. Eu me perdi no ritmo da música e na memória recente de sua mão em meu ombro, seus olhos castanhos e a palavra devorar.
Devorar, talvez não fosse uma má ideia
Uma música se misturou com a próxima, depois a próxima, e mais uma, e, antes que eu pudesse tomar ar, os braços de Juliette envolviam meus ombros e ela ria no meu ouvido, pulando para cima e para baixo junto comigo.
— Você atraiu uma plateia! — Ela gritou tão alto que eu estremeci e me afastei um pouco. Ela fez um gesto chamando atenção para o lado, e só então percebi que estávamos cercadas por um grupo de pessoas, a maioria homens, dançando de um jeito sugestivo.
Olhando de volta para Juliette, vi que seus olhos estavam acesos de uma maneira muito familiar: era aquela mulher obstinada que eu conhecia tanto, que trabalhou muito até chegar ao topo de uma das maiores empresas de marketing do mundo e que sabia exatamente o que aquela noite significava para mim. De repente, um vento frio se espalhou em minha pele vindo de ventiladores no teto e eu pisquei de volta para a realidade, ainda incrédula por estar de verdade em Nova York e por estar de verdade começando tudo de novo. E me divertindo de verdade.
—-----
E aí? Primeiras impressões?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Strange
FanfictionRafaella Kalimann se muda para Nova York em busca de agitação e paixão sem compromisso. É assim que ela encontra uma sexy e irresistível britânica em uma boate que não deveria significar nada além de uma noite de diversão. Mas a maneira e a velocida...