Skyfall

fighter

Mingi disparou pela floresta como um animal ferido, o som abafado de seus pés descalços ressoando no solo úmido. Cada passo parecia um golpe contra o chão e a su respiração saía em arfadas curtas, quase desesperadas, enquanto ele se esforçava para manter o ritmo. Ele conhecia aquela clareira, tinha corrido por ali a vida inteira, pés firmes e olhos fechados, guiado apenas pelo instinto. Mas agora, tudo parecia errado.

As árvores, antes familiares, tornaram-se sombras hostis, os galhos pendendo como garras prontas para agarrá-lo, arranhando sua pele. O solo, que ele sabia de cor, parecia se retorcer sob seus pés, desacelerando seus movimentos, como se estivesse vivo, conspirando contra sua fuga. Era como se a floresta inteira tivesse sido contaminada pela presença daquela coisa,  aquela sombra negra que o perseguia.

Mingi arriscou um olhar por cima do ombro e quase tropeçou. Não havia olhos, nem forma discernível, apenas uma massa densa e pulsante de escuridão que parecia engolir a luz ao seu redor. Cada vez que ele mudava de direção, o caminho à frente se distorcia, fechando-se em labirintos de raízes e troncos retorcidos. Era como se a própria natureza conspirasse contra ele, puxando-o inexoravelmente para a criatura que o caçava.

O som do vento entre as árvores era agora um sussurro baixo, gutural, como se a floresta estivesse viva e tivesse se transformado em outra coisa. Uma sensação fria escalou pela sua coluna, o tipo de frio que não vinha do ar, mas do medo.

Sangue pingava por onde ele passava, vazando de um ferimento na sua costela que ao mesmo tempo lhe tornava muito lento e o impedia de se transformar completamente. Mingi tinha sido estúpido. E agora ele estava sozinho na floresta e não estava se curando. Ele não conseguia completar a transformação com a lateral ferida e o corte que aquela coisa fez na sua pele com as garras negras e afiadas não paravam de drenar sangue.

A lua parecia apenas uma lembrança distante no céu, visível como um fiapo de luz filtrado pelas copas altas das árvores. Mingi ergueu os olhos para ela, ofegante, sua respiração se arrastando como um eco quebrado em sua garganta seca. Cada músculo doía, cada passo era um esforço e o peso do cansaço ameaçava esmagá-lo. Ele estava perdido. Não havia trilhas, nem sinais familiares. O vínculo que ele tinha com a floresta, aquele laço primitivo que sempre o guiava, estava silenciado pela presença sufocante do demônio que o caçava. floresta ao seu redor parecia morto.

Não havia farfalhar das folhas, canto de pássaros ou o som tranquilizador do riacho. Apenas o silêncio opressor, pesado como chumbo. Seus passos vacilaram, a força em suas pernas começaram a ceder, mas ele não podia parar. Não agora. Mingi lançou outro olhar por sobre o ombro, o terror pulsando em seu peito. Foi então que a curva surgiu à sua frente.

Antes que ele pudesse reagir, seus pés deslizaram na terra úmida e Mingi foi engolido pelo impulso cruel da gravidade. Um grito abafado escapou de sua garganta enquanto seu corpo era jogado ladeira abaixo, batendo contra pedras e raízes em uma queda descontrolada. O mundo girou, um turbilhão de escuridão e dor, até que ele finalmente parou.

O impacto o congelou no chão, cada músculo gritando em agonia. O tempo pareceu desacelerar e o som de sua própria respiração se tornou ensurdecedor. Mas Mingi não tinha tempo. O instinto de sobrevivência o empurrou a tentar se levantar, ignorando os protestos de seu corpo ferido. Mas antes de conseguir se sustentar de joelhos, algo emergiu da terra.

Raízes, negras e pulsantes como veneno vivo, irromperam do chão ao seu redor. Elas o agarraram pelos tornozelos primeiro, subindo rapidamente por suas pernas. Mingi tentou se desvencilhar, mas as garras frias e ácidas o seguraram firmemente, arrastando-se pelo seu corpo. Um grito rasgou sua garganta quando o toque da sombra alcançou seu peito, queimando como ácido, enquanto a dor se espalhou como fogo.