CAPITULO DOS

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Era noite na Cidade do México, e o clima não poderia estar mais carregado de ansiedade e adrenalina. Meu primeiro show como vocalista de As Garotas Revoltadas estava prestes a começar. As luzes vibrantes iluminavam o palco enquanto uma multidão gritava, aguardando impacientemente pelo início. Nos bastidores, minha cabeça estava a mil. Eu nunca imaginei que estaria aqui, seguindo os passos da minha mãe, mas com meu próprio estilo, minhas próprias regras.

— Andy, você está pronta? — perguntou Larissa, minha baixista e uma das minhas melhores amigas.

— Pronta? Nunca estive tão pronta em toda a minha vida. — tentei soar confiante, mas por dentro, eu estava um caos.

Enquanto terminava de ajustar o figurino — uma jaqueta preta cheia de tachas e uma calça rasgada que era puro estilo —, lembrei das incontáveis vezes em que acompanhei minha mãe nesses bastidores. Mas hoje era diferente. Hoje, o palco era meu.

De repente, uma notificação no celular chamou minha atenção. Era um vídeo postado pela filha da Mia — Emília. Lá estava ela, esbanjando sorrisos falsos com a banda dela, As Garotas Malvadas. Elas eram tudo o que eu não era: certinhas, previsíveis e, honestamente, meio sem graça. Apesar disso, elas tinham uma base de fãs absurda, o que me irritava profundamente.

— Que bando de plásticas sem personalidade — murmurei, desligando o celular.

— Relaxa, Andy. Hoje a gente vai mostrar quem manda — disse Larissa, me dando um leve soco no ombro.

Antes que eu pudesse responder, minha mãe apareceu.

— Filha, você vai arrasar. Mostre ao mundo que você é uma Pardo. — Ela tentava me motivar, mas às vezes parecia mais um peso do que um incentivo.

— Não vou mostrar que sou uma Pardo, mãe. Vou mostrar que sou a Andy. Entendeu? — rebati, com firmeza.

Minha mãe soltou um suspiro, como quem dizia “você nunca vai mudar”. E realmente, eu nunca mudaria.

A produção sinalizou que estava na hora. As luzes no palco se apagaram, e o som da multidão aumentou. Era o momento. Peguei o microfone com firmeza e olhei para as meninas da banda. Larissa, Sofia e Clara estavam tão empolgadas quanto eu. Era tudo

Os primeiros acordes da guitarra ecoaram pelo local. A cortina subiu lentamente, revelando o cenário caótico e rebelde que havíamos criado. Tudo ali tinha o nosso toque, desde as luzes vermelhas pulsantes até as projeções psicodélicas no telão. Quando dei o primeiro passo no palco, senti o chão vibrar com os gritos ensurdecedores do público.

— BOA NOITE, CIDADE DO MÉXICO! — gritei no microfone, enquanto a multidão respondia em êxtase.

Iniciamos com nossa música de abertura, "Revolta e Liberdade", um hino que falava sobre sermos fiéis a nós mesmos, independente das expectativas. O som era cru e intenso, exatamente como queríamos. Cada nota que saía das nossas guitarras parecia incendiar o público. Eu me movia pelo palco com energia, interagindo com Larissa e nossa baterista, Camila, enquanto o público cantava junto em coro.

Quando chegamos ao refrão, vi minha mãe na lateral do palco, observando em silêncio. Não sei se ela estava orgulhosa ou apreensiva, mas, honestamente, naquele momento, isso pouco importava. Eu estava vivendo o meu sonho, e nada poderia tirar isso de mim.

“E quem disse que não podemos?
Quebrar as regras e mudar o jogo?
Somos nós, as revoltas,
Gritando alto, livres de novo!"

O som de milhares de vozes cantando as letras que escrevi era surreal. Por um instante, senti meus olhos marejarem. Eu tinha lutado tanto para chegar até ali, para ser reconhecida pelo que eu era, e não apenas como "a filha da Roberta".

O show continuou com outras músicas autorais, como "Sem Regras" e "Mentes Livres", cada uma carregada de mensagens sobre independência e resistência. A interação com o público foi além das minhas expectativas. Pessoas seguravam cartazes, algumas choravam, outras pulavam sem parar. Era uma energia que nunca tinha experimentado antes.

Mas foi na penúltima música que algo inesperado aconteceu. Durante a execução de "Coração de Ferro", Larissa começou a rir no meio do refrão, me obrigando a olhar para onde ela apontava. E lá estava Emilia, no camarote VIP, junto com as integrantes de As Garotas Malvadas. Elas estavam debochando descaradamente da nossa performance.

— Não acredito que elas estão aqui — sussurrou Camila, enquanto batia furiosamente na bateria.

— Ignorem. Isso só prova que elas estão com medo — respondi, voltando minha atenção ao público.

Por dentro, eu queria gritar. Emilia parecia fazer questão de tirar meu foco, mas eu não ia deixar. Voltei ao microfone com ainda mais força, cantando o último refrão como se fosse uma declaração de guerra.

O show terminou com nossa música mais aguardada, "Fúria Jovem", e quando as últimas notas ressoaram, a multidão explodiu em aplausos e gritos. Senti um arrepio percorrer meu corpo enquanto agradecia.

— OBRIGADA, MÉXICO! ISSO FOI INESQUECÍVEL! — gritei, me curvando junto com as meninas para agradecer.

Voltamos para os bastidores suadas, exaustas, mas com o coração cheio. Larissa jogou uma toalha sobre os ombros e me deu um tapa amigável nas costas.

— Foi incrível, Andy. Você arrasou.

— Nós arrasamos, Larissa. Isso foi só o começo.

Minha mãe apareceu logo depois. Seu olhar era indecifrável, mas suas palavras me surpreenderam.

— Eu não vou mentir, achei que você não estava pronta. Mas hoje você provou que tem talento. Parabéns, Andy.

Meu coração deu um salto. Não era exatamente o elogio mais caloroso do mundo, mas vindo dela, era um grande avanço.

Mais tarde, enquanto saíamos do local, cruzei novamente com Emilia. Ela olhou para mim com aquele sorrisinho de superioridade.

— Parabéns pelo show, Andy. Foi… interessante. — disse ela, com ironia evidente.

— Obrigada. Espero que o seu seja bom o suficiente para superar o nosso. — retruquei, sorrindo de volta com falsa simpatia.

A guerra estava declarada, e eu sabia que aquele era só o começo de algo muito maior. Mas, por enquanto, eu estava disposta a aproveitar a vitória do meu primeiro show. Afinal, nós éramos As Garotas Revoltadas, e não iríamos recuar.

A GAROTA DA BANDA RIVALOnde histórias criam vida. Descubra agora