V. o lado bom da vida.

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Oii, cheguei tarde mas cheguei, rs!


POV PEDRO.


O relógio marcava 7h15 quando acordei, o corpo ainda envolto pelo torpor de um sono agitado. Minhas noites têm sido terríveis, bem mais do que o normal. Nunca fui o tipo de pessoa que dorme por horas a fio, sempre acordo de madrugada e não é raro que isso resulte numa noite em claro e olheiras profundas pela manhã. Um raio de sol atravessava a fresta das cortinas bege, espalhando-se em linhas sinuosas pelo quarto. A manhã estava quente, mas não o suficiente para me fazer levantar de imediato. Permaneci deitado por alguns minutos, observando os pequenos detalhes do meu quarto: os quadros pendurados na parede, a pilha de livros sobre a escrivaninha, os tênis espalhados pelo chão. Tudo parecia ao mesmo tempo familiar e cansativo. A ideia da viagem de oito horas até Minas Gerais já pesava em meus ombros, o cansaço psicológico se instalando por antecedência, já que vai ser um tortura aguentar a interesse excessivo de meu pai pelo meu falso namoro.

Me levantei, espreguiçando-me enquanto os primeiros pensamentos sobre o dia vinham à tona. A mala, fechada e arrumada na noite anterior, estava ao lado da porta. Dentro, havia roupas suficientes para os dez dias que eu passaria na casa de campo da família, incluindo algumas peças formais que minha mãe insistiu para que eu levasse. "Nunca se sabe quando um jantar inesperado aparece", ela dissera. Acho que no fundo ela tem razão, mas sinceramente não espero ter que usar outra coisa além de conjuntos de moletons quentinhos, toucas e cachecois.

Ainda de pijama, passei um café e o tomei em silêncio, o som da cidade ao fundo preenchendo o ambiente vazio. Sempre considerei meu apartamento como um lugar aconchegante, mas ultimamente tenho tido a impressão de que falta alguma coisa na sala, ou talvez no quarto, não sei ao certo. Era cedo, mas eu sabia que não demoraria muito para que minha família chegasse para me buscar. A viagem de van seria longa e desconfortável, mas inevitável. Poderíamos ir de avião, mas já era uma tradição que a viagem acontecesse de carro. Assim, o espírito da discórdia já começava a ser semeado desde a saída de São Paulo, eu odiava as discussões, mas com o tempo entendi que a lavação de roupa suja talvez fosse uma tradição ainda maior do que a viagem em si.

O toque da campainha me arrancou dos pensamentos. Caminhei até a porta, descalço, e, ao abri-la, deparei-me com João. Ele parecia tão deslocado no meu pequeno apartamento quanto uma peça de arte em um bazar improvisado. Me perguntei como diabos ele havia convencido o porteiro a deixá-lo subir sem nem ao menos interfonar, mas logo que me lembrei do fato de que nossos rostos estão estampados em revistas e jornais como o casal do momento, talvez o porteiro tenha imaginado que me faria um favor ao deixá-lo subir sem me incomodar. O sorriso travesso no rosto de João indicava que tinha sido exatamente o que havia acontecido.

João vestia uma camisa de linho branca, levemente desabotoada, e jeans escuros que moldavam suas pernas de forma impecável. Nos pés, mocassins de couro que brilhavam discretamente à luz do corredor. Ele carregava a casualidade de quem está sempre preparado para impressionar, mesmo sem querer.

— Bom dia — disse ele, com aquele tom de voz que parecia combinar gentileza e autoridade.

— Bom dia — respondi, tentando não transparecer tanta surpresa.

— Como descobriu meu endereço? — perguntei um tanto irritado pela intromissão.

— Malu — respondeu ele dando de ombros.

Vou matar essa traidora.

Ele entrou sem esperar um convite, os olhos percorrendo minha sala como se estivesse catalogando cada detalhe. Fiquei ali, parado, observando-o enquanto fechava a porta. João sempre parecia ter uma intenção oculta por trás de cada movimento, e naquele momento não foi diferente.

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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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