Rose Maeve
Eu e Mr. Crawling brincávamos com as cartas de Uno. Bem, eu brincava - ele apenas jogava as cartas aleatoriamente no chão por não ter entendido as regras. E a mulher sem cabeça que estava aqui na sala minutos antes? Ela levou meu pote de bolo e, como agradecimento, me deu um vestido branco. Admito que o vestido era fofo, mas eu ainda preferia ficar com meu bolo de morango. Queria que Mr. Crawling pudesse provar... embora, por outro lado, preferisse não arriscar ser assombrada por aquela noiva. Ao menos ela foi gentil.
Fui tirada dos meus devaneios quando Mr. Crawling jogou todas as cartas que tinha na mão no chão, soltando uma risada estridente. Sua risada era do tipo: ganhei.
- É... ganhou. - Concordei, meio desconcertada, enquanto me levantava do chão. - Guarde as cartas. Vou tomar um banho. - Disse isso me espreguiçando antes de sair da sala, ouvindo o som de mais cifras incompreensíveis como resposta.
Tranquei a porta do banheiro, não por medo de Mr. Crawling entrar, mas mais por uma paranoia que insistia em me seguir. O banho quente foi um alívio bem-vindo. Quando terminei, decidi experimentar o vestido branco que a mulher me deu. Para minha surpresa, ele coube perfeitamente. Passei os dedos pelo tecido macio de cetim, admirando o quão confortável era. Admito, ela tinha bom gosto.
Saí do banheiro com uma toalha na cabeça, ainda secando o cabelo. O corredor estava parcialmente às escuras, iluminado apenas pela luz do banheiro atrás de mim. Parei, hesitando, meus olhos fixos na penumbra. Esperei por qualquer som... algo que indicasse a presença de Mr. Crawling.
Então ouvi. Um ruído úmido e abafado, como unhas longas arranhando o chão, seguido por estalos secos, parecendo ossos se juntando a cada movimento. A silhueta dele surgiu na luz do banheiro. Notei as cartas de Uno dentro das mangas e pelo decote do vestido preto que ele usava. Ao me ver, ele sorriu de forma peculiar, suas bochechas assumindo um leve tom rosado, enquanto deixava escapar um som indecifrável.
- Λ ПӨIVΛ πΣM ЦM 8ӨM €ӨƧπӨ. - Murmurou, estendendo a mão e tocando o tecido do meu vestido. As cartas cairam de suas mangas e escorregaram para o chão. Acho que ele não entendeu quando eu pedi para guardar as cartas.
Se entendi bem, ele quis dizer que a amiga decapitada tem bom gosto, referindo-se ao vestido que estava usando.
- Por que está tudo escuro? - Ignorei as cartas no chão. Estava mais preocupada com o súbito clima estranho.
- 8ЯIПᄃΛЯ. ΣƧᄃӨПDΣ - ΣƧᄃӨПDΣ.
- Brincar? - Repeti, incrédula. Eu só queria descansar, mesmo sabendo que dormir de verdade era impossível naquele lugar.
Antes que pudesse protestar, ele sumiu na escuridão. Acho que Mr. Crawling queria brincar de esconde-esconde.
Suspirei antes de começar a andar pelo corredor, tateando em busca do interruptor. Quando finalmente o encontrei, apertei o botão, mas a luz não acendeu. Meu coração disparou. Paralisei no instante em que a luz do banheiro se apagou sozinha, mergulhando tudo em uma completa escuridão. Não havia mais nenhuma fonte de luz, nenhum som, apenas um silêncio denso. De longe, o canto solitário de um grilo que cantava, deixando-me ainda mais apavorada.
- Mr. Crawling, eu não estou brincando com você. Apareça! - Minha voz falhou, ecoando no vazio. Mas ele não respondeu.
Quando percebi que ele não iria se mostrar, forcei-me a sair do meu estado de paralisia. Comecei a me mover devagar, com cuidado, temendo tropeçar em algo ou perder a orientação. Tentava me guiar pela memória, tocando as paredes e os móveis ao meu redor. No final do corredor, estava meu quarto. Entrei com cautela, e um alívio me percorreu ao ouvir aquela risada estridente vindo do guarda-roupa. Te achei.
Cruzei minha cama com cuidado, usando a cômoda ao lado para me apoiar enquanto descia. Foi quando minha mão tocou algo estranho em cima da escrivaninha. Tinha o formato... de uma cabeça. Um grito escapou de meus lábios enquanto eu soltava o objeto imediatamente. Ele emitiu um som abafado e bizarro, como um estalo oco.
Antes que eu pudesse processar o que acabara de acontecer, as luzes voltaram, piscando algumas vezes antes de estabilizarem. Pisquei rapidamente, tentando me acostumar com a claridade repentina. Olhei ao redor, procurando pela "cabeça" que eu havia sentido, mas não havia nada ali. Nada.
- Isso é mais uma brincadeira sua, Mr. Crawling? Ou foi mais uma amiga? - Minha voz estava tremendo, mas o medo logo deu lugar à raiva.
Marchando até o guarda-roupa, abri a porta com força. Lá estava ele. Só consegui ver seus pés, já que o resto do corpo estava escondido entre minhas roupas penduradas. Ele soltou outra risada estridente, tentando sair do armário. Mas, se enrolou todo nas roupas, causando um pequeno caos antes de finalmente aparecer.
- yӨᄃΣ̂ 6ΛПΗӨЦ!
(Você ganhou!)Ele bateu palmas alegremente, como uma criança orgulhosa de seu jogo. Mas eu ainda estava tremendo, apavorada pelo que havia acabado de acontecer.
- Isso nunca mais, entendeu? - Minha voz saiu alta, quase um grito, o suficiente para que até os vizinhos ouvissem, se eles não morassem tão longe. - E nem pense em trazer outro amigo demoníaco, entidade ou qualquer coisa desse tipo para a minha casa!
Minha respiração estava pesada, e eu me sentia molhada de suor. Não sabia se era por causa do medo ou da raiva. Provavelmente ambos.
Não sei se foi exatamente culpa do Crawl,mas eu precisava de algo para 'descontar' minha frustração e não foi uma boa opção fazer isso com ele já que o mesmo se escondeu novamente atrás da roupas,logo ouvi seu som de choro estridente. Ah, que ótimo.
_________________________________________________Continua.
Revisado.
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Coração Marcado | 𝗛𝗼𝗺𝗶𝗰𝗶𝗽𝗵𝗲𝗿
FanficEm um desespero para salvar a mãe do câncer terminal, Rose encontra uma solução sombria em fóruns da internet: um pacto que oferece um ritual de sangue para curar a doença, mas a um preço horrível pra isso,ou não. Conteúdo maduro.