𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝘁𝗿𝗲̂𝘀: 𝘈𝘯𝘤𝘰𝘳𝘢𝘥𝘢

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Rose Maeve

- Desculpa, Mr. Crawling, não foi minha intenção gritar com você. - Minha voz saiu mais baixa, quase um sussurro, enquanto eu tentava me desculpar. Mas as roupas penduradas no cabide atrapalhavam o contato visual. Frustrada, afastei as peças para enxergá-lo melhor. Ele estava com a mão no rosto, os ombros tremendo como se ainda estivesse chorando. Suspirei, tentando buscar paciência. - Olha só, não tô mais com raiva, tá bom? Podemos brincar mais, se você quiser.

Eu odiava a ideia de "brincar" novamente, mas não podia negar o efeito que minhas palavras tiveram. Ele foi parando de chorar, aos poucos, mesmo sem ainda mostrar o rosto.

Respirei fundo e arrisquei um gesto de carinho, levando a mão até sua cabeça de forma cuidadosa. Quando toquei, ele fez um som estranho, algo entre um ronronar e uma risada abafada, mas parecia feliz. Mr. Crawling riu de verdade, tirando a mão do rosto e revelando um sorriso enorme, de orelha a orelha.

- π5iک! - Ele falou algo incompreensível antes de se jogar nos meus braços com tanta força que caímos juntos no chão. Soltei um gemido de dor ao sentir o impacto, mas me forcei a manter a calma. Não queria brigar com ele de novo.

Porém, algo me incomodou. Dessa vez, ele disse mais algumas coisas,mas não entendi uma única palavra do que ele disse. Fiquei confusa, mas antes que pudesse perguntar, um cansaço avassalador me tomou de surpresa. Meus olhos pesaram, e o sono acumulado de dias sem descanso finalmente venceu. Adormeci ali mesmo, no chão frio.

...

Eu sentia minha pele arder, como se o chão abaixo de mim estivesse em chamas. A dor era intensa, consumindo cada fibra do meu corpo. Lentamente, abri os olhos, mas a visão estava turva. O suor escorria por todo o meu corpo, e a sensação de estar sendo queimada viva só aumentava.

Quando minha visão finalmente se ajustou, percebi que estava em um lugar que lembrava um cativeiro. O ar era pesado, opressivo, e pedaços de corpos estavam espalhados pelo chão em um cenário grotesco. Tentei me convencer de que aquilo era um pesadelo, mas algo estava diferente. Tudo parecia real demais.

Enquanto meu olhar vagava pela sala, avistei algo que fez meu estômago revirar: aquela cabeça. A mesma que eu havia sentido sobre a escrivaninha. Não sabia como, mas algo em mim tinha certeza de que era ela. Tentei me mexer, mas meu corpo parecia preso, como se o terror tivesse me paralisado por completo.

Então, ele sorriu. A cabeça. E ficou me encarando, imóvel, por um tempo que pareceu uma eternidade. Eu queria gritar, mas não conseguia emitir nenhum som.

E como se isso não bastasse, ouvi uma porta se abrir. Passos ecoaram pela sala, lentos, calculados. Meu coração disparou quando aquele mesmo homem apareceu. Ele. O homem que já havia invadido meus pesadelos antes. Seus cabelos brancos, quase brilhantes, contrastavam com a faixa que cobria seus olhos. Na última vez que o vi, ele tentou me injetar algo. Só não conseguiu porque Mr. Crawling me acordou antes.

Dessa vez, porém, o Mr. Silver,o homem de branco - sim,eu batizei a criatura; tem sido um mecanismo de sobrevivência minha com essas criaturas - não carregava nada em suas mãos. Mas isso não me trouxe alívio. Senti as lágrimas rolarem pelo meu rosto quando ele começou a se aproximar, cada passo dele retumbando como trovão em minha mente.

Ele parou diante de mim e se ajoelhou, suas mãos estendendo-se até o meu pescoço. Quando seus dedos frios tocaram minha pele, ele começou a apertar, me sufocando. O ar escapava lentamente dos meus pulmões enquanto eu lutava inutilmente para respirar. Meu corpo inteiro entrou em pânico, mas não havia o que fazer.

Eu queria acreditar que era apenas um sonho, mas era tão real. Tão visceral.

Com minhas forças se esvaindo, tudo que consegui fazer foi sussurrar:

- Crawling...

Fecho os olhos com força, tentando afastar o pânico, mas quando os abro novamente, tudo havia mudado. Não estava mais naquela sala, naquele cativeiro infernal. Estava no meu quarto, deitada na cama. O ar finalmente preenchia meus pulmões, mas meu corpo ainda tremia, o suor escorrendo em desespero. Foi só depois de alguns segundos que percebi: Crawl estava em cima de mim.

- £ ዒሁቿ ል6ዐክፕቿርቿሁ? 9ዐዪ ዒሁቿ πቿ 6ዘልπዐሁ?
(Aconteceu o quê? Você chamou?)

Não consegui responder. Fechei os olhos novamente, tentando segurar meu peito que subia e descia em ofegos. Minha mente estava embaralhada, incapaz de processar o que tinha acabado de acontecer.

Então, senti as mãos gélidas de Mr. Crawling acariciarem minha cabeça, com um toque que, apesar do frio, era incrivelmente reconfortante. Aos poucos, o peso do medo começou a diminuir.

Calma. Foi só mais um pesadelo. Tentei me convencer.

Abri os olhos e encarei Crawl. Não disse nada, e ele também permaneceu em silêncio,mas uma preocupação em seu rosto quase visível. Ficamos assim, apenas nos olhando, num silêncio que não era desconfortável. Pelo contrário, era quase acolhedor. Não havia perguntas ou risadas, apenas o som da minha respiração finalmente se estabilizando.

Aquele silêncio parecia exatamente o que eu precisava.

Deitei a cabeça no travesseiro, tentando me aconchegar, e logo senti Crawl apoiar a própria cabeça em meu peito. Seu peso não era incômodo; era como uma âncora me trazendo de volta à realidade.

Eu me sentia melhor. Não o suficiente para voltar a dormir, mas o suficiente para sentir que, pelo menos naquele momento, eu não estava sozinha.
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Continua.

Antes que pareça muito confuso, a tradução abaixo de cada fala do Mr. Crawling não é exatamente o que ele disse, mas sim como a Rose entendeu.

Revisado.

Coração Marcado | 𝗛𝗼𝗺𝗶𝗰𝗶𝗽𝗵𝗲𝗿Onde histórias criam vida. Descubra agora