𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝗰𝗶𝗻𝗰𝗼: 𝘝𝘰𝘤𝘦̂ 𝘲𝘶𝘦𝘮 𝘮𝘦 𝘤𝘩𝘢𝘮𝘰𝘶

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-- Narrador --

Rose tentou se levantar da cama, mas o curativo em seu rosto parecia apertado demais, puxando a pele e a lembrando do impacto que a jogou ao chão no escritório. Jonathan, parado na porta, parecia hesitar, como se decidisse entre se aproximar ou manter distância.

- O que aconteceu? Como eu vim parar aqui? - a voz dela saiu rouca, ainda pesada de cansaço.

Jonathan coçou a nuca, desviando o olhar. Ele parecia mais nervoso do que deveria estar.

- Eu... te achei no escritório, desmaiada. O prédio inteiro ficou no escuro. Achei que fosse melhor te trazer pra cá, já que... eu não sabia onde de morava.

Rose estreitou os olhos, tentando interpretar a expressão dele. Era genuína, mas havia algo errado na forma como ele evitava encará-la diretamente.

- Então... era você ontem? Por que correu atrás de mim? - Ela olhou ao redor, notando o quarto pequeno e quase vazio, exceto pela cama e um abajur de luz fraca.

- Como é? - Jonathan pergunta confuso. - Não, entrei naquele setor porque ouvi um barulho e quando entrei,você estava ali no chão.

Rose sentiu uma pontada de irritação e confusão. As peças não se encaixavam. Antes que pudesse pressioná-lo mais, ele a interrompeu com uma pergunta.

- Desculpa perguntar, mas quem é Mr. Crawling? - ele perguntou, a voz baixa e desconfiada.

- O quê? - Rose respondeu, tentando esconder seu nervosismo.

- Mr. Crawling.. você chamou por ele quase a noite toda.

Ela congelou. "Eu realmente o chamei?Mas dessa vez eu não sonhei ou tive pesadelo com nada. Na verdade, é a primeira vez que durmi bem."

- Ah... não é ninguém.

Quebra de tempo

Rose sentiu um alívio ao saber que Jonathan já havia avisado à agência que ela não poderia trabalhar naquele dia, mas agora estava extremamente desconfortável com o silêncio que pairava no carro.

Ela tentou recusar a carona, mas Jonathan insistiu em levá-la para casa. Durante o trajeto, evitava olhar para ele, e parecia que ele fazia o mesmo.

Mas Jonathan quebrou o silêncio, sua voz baixa, quase como se temesse começar algo:

- Então... você sempre desmaia no trabalho ou foi só pra ganhar uns dias de folga?

Rose não conseguiu conter uma risadinha, mesmo que estivesse tentando se manter séria. Ela olhou rapidamente para ele, que agora tinha um sorriso discreto nos lábios, claramente aliviado por ter quebrado o gelo.

- Ah, sim, com certeza foi planejado. O apagão, a queda... tudo parte do meu plano genial - respondeu, com sarcasmo brincalhão, relaxando um pouco.

Jonathan riu, sacudindo a cabeça.

- Bom, se foi um plano, preciso dizer que não funcionou muito bem. Se o baque fosse mais forte teria quebrado o nariz.

Rose concorda com a cabeça.

- Ainda não consigo acreditar que bati na parede daquele jeito.

- Acontece. - Ele lançou um olhar rápido para ela, ainda focado na estrada. - Além disso, não foi tão ruim. Quero dizer, ninguém viu sua queda dramática. Só eu.

- Nossa,me sinto bem melhor agora. - Rose, revirou os olhos, mas com um sorriso sincero dessa vez.

Jonathan deu de ombros, rindo mais um pouco.

- Bom, pelo menos você tá viva pra contar a história. Já é alguma coisa.

O tom leve da conversa foi uma distração bem-vinda para Rose. Por alguns minutos, ela conseguiu esquecer o desconforto e a sensação estranha que ainda pairava no ar desde o escritório.

- E você? - perguntou ela, tentando manter a conversa. - Sempre resgata colegas desmaiados ou foi só pra variar sua rotina?

Jonathan arqueou uma sobrancelha, fingindo refletir.

- Ah, na verdade, resgatar pessoas no trabalho é meu hobby secreto. Tá na minha lista de talentos. Logo abaixo de "esquecer datas importantes" e "fazer café ruim".

Rose riu de novo, balançando a cabeça.

- Bem, obrigada, herói. Mas na próxima vez, vou tentar cair de um jeito mais elegante.

Jonathan olhou para ela de lado, com um sorriso cheio de implicância.

- Por favor, faz isso. Assim eu não preciso arriscar minha coluna pra te carregar de novo.

Os dois riram juntos dessa vez, e o clima finalmente parecia mais leve. O silêncio no carro agora não era mais desconfortável, mas um intervalo tranquilo entre trocas de olhares e sorrisos sutis.

A conversa continuou por mais alguns minutos, descontraída e leve. Jonathan puxava assuntos aleatórios, como se fossem amigos recém-conhecidos que já tinham uma conexão inesperada. O tempo no carro passou rápido, e logo Rose estava em frente à sua casa.

- Obrigada pela carona... - disse ela, hesitante, enquanto abria a porta do carro. - E pela conversa também.

- Que isso. Sempre que precisar de alguém pra te "salvar" de novo, é só chamar. - Ele respondeu com um sorriso tranquilo antes de seguir seu caminho de volta ao trabalho.

Rose ficou parada na calçada por um momento, observando o carro de Jonathan desaparecer ao longe. Soltou um suspiro leve, ainda refletindo sobre as coisas que haviam acontecido.

Quando se virou e abriu o portão, foi surpreendida pelo som de um choro familiar e, logo em seguida, um abraço apertado envolvendo suas pernas.

- ∆Pርቿ §ጎክπል πቿ ዕቿጎሸልዕዐ,የዐዪ ዒሁቿ πቿ ዕቿጎሸዐሁ? (Você me deixou.)

Rose olhou para baixo e encontrou Mr. Crawling, que soluçava e a apertava como se tivesse passado horas esperando por ela.

- Crawling... - murmurou, surpresa e um pouco culpada. Ela se agachou, passando os braços ao redor dele e acariciando seus cabelos pretos. - Não chore. Eu tô aqui agora.

Ele apenas ronronou em resposta, esfregando o rosto em sua perna como um gato carente. Rose soltou um pequeno riso, aliviada por estar em casa, mas ainda sentindo uma pontada de culpa por deixá-lo sozinho.

Mr. Crawling ergueu os olhos, ainda com as bochechas úmidas, mas parecia começar a se acalmar.
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Continua.

Revisado.

Coração Marcado | 𝗛𝗼𝗺𝗶𝗰𝗶𝗽𝗵𝗲𝗿Onde histórias criam vida. Descubra agora