Capítulo 05 | A Última Mentira

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A dor era como um buraco negro no meu peito, sugando tudo o que eu conhecia. Eu ainda amava Mariana, isso era inegável, mas a raiva... A raiva não me deixava respirar. Não me deixava pensar. E, mais importante, não me deixava vê-la como ela realmente era. Eu estava cego. Cego por algo que eu mesmo criei.

A última conversa com Lorenzo ainda martelava na minha mente. Ele me contou, com aquele sorriso insidioso no rosto, que viu Mariana beijando um homem. Ele a descreveu como se fosse uma cena de filme, como se fosse uma verdade absoluta. Não me deu provas, mas o suficiente para que meu cérebro enlouquecesse, convencendo-me de que era tudo real. A mentira já estava plantada, e não havia espaço para a dúvida. Eu acreditava nas palavras dele mais do que em qualquer outra coisa, mais do que nas promessas que fizemos um ao outro.

Aquele sorriso de Lorenzo, a frieza nos seus olhos, me deixaram mais furioso do que qualquer outra coisa. Ele sabia exatamente o que estava fazendo. E o pior de tudo era que ele tinha razão. A dúvida tomou conta de mim e a raiva ficou como um veneno em minhas veias.

Naquela noite, eu voltei para casa mais cedo. Mariana estava lá, quieta, esperando, talvez achando que poderia me convencer a deixá-la explicar tudo. Eu entrei na sala sem dizer uma palavra, e ela, ao me ver, imediatamente se levantou, seus olhos tentando encontrar alguma coisa em mim.

— Victor... — ela começou, mas a interrupção veio da minha boca.

— Eu já sei, Mariana. Sei o que você fez. Sei tudo — minha voz estava baixa, tensa. Cada palavra saía com um peso imenso.

Ela não entendeu, seus olhos se estreitaram, confundidos.

— Do que você está falando? O que você sabe?

— O que você me fez, sua vadia — eu cuspi, sentindo a raiva tomar conta de mim. — Você me traiu. Eu vi, eu soube. O que mais você quer que eu saiba?

Ela deu um passo para trás, o pânico começando a aparecer em seu rosto.

— Não! Victor, você está errado! Eu não te trai! Eu nunca fiz nada com ninguém! Eu...

— Cale a boca! — eu gritei, avançando em sua direção. Ela recuou, mas não o suficiente. Eu a peguei pelo braço e a puxei até o centro da sala, os olhos queimando de fúria. — Eu vi o que você fez! Eu vi tudo, e ainda quer me convencer de que não foi nada?

Eu podia ver o medo nos olhos dela. Ela estava completamente assustada, e a coisa em mim que ainda era humana queria parar, queria abraçá-la e pedir desculpas. Mas o monstro, o monstro que Lorenzo me ajudou a criar, não me deixava parar. Não me deixava ver a mulher que amei. Só via uma traidora, uma mentirosa.

— Victor, você está fora de si! — ela gritou, tentando se soltar, mas eu apertava sua mão com força.

Eu a empurrei para trás com brutalidade, e ela caiu de joelhos no tapete, desesperada.

— Eu não sou um idiota, Mariana. Você me fez de palhaço! Você me fez de otário, e agora vai pagar por isso.

Ela tentou levantar as mãos, implorando, chorando, mas eu já não conseguia ouvir nada. A dor, a humilhação, a raiva estavam me cegando. Eu a amava, mas mais forte era o desejo de destruí-la. De mostrar que eu não era fraco, que não poderia ser manipulado.

Senti o peso da arma em meu cinto e, num gesto mecânico, a retirei, apontando para ela. Mariana ficou congelada, o olhar fixo na arma. Sua respiração ficou pesada, mas ela não se afastou, como se já soubesse o que eu faria.

— Você não vai me enganar, sua filha da puta. Vai pagar por tudo que fez, por tudo que me fez sentir. — Eu estava consumido, e nem mesmo minhas palavras faziam sentido.

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