Chapter 32

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A minha respiração estava irregular. Toda a dor que ele já me proporcionara voltou em mim no momento em que eu olhei nos seus olhos, as minhas pernas enfraqueceram, a minha boca secou e os meus músculos perderam toda a força alguma vez adquirida.

- Adoro ver-te sem palavras.. - Ele sorriu forçando o seu corpo a entrar no interior da minha casa. O seu sorriso mostrava problemas. - No que pensas, princesa? - Fechei os olhos com força mas ainda conseguia ouvi-lo, a sua voz gesticulava felizmente, num tom irônico.

- Eu.. Eu estou bem, eu estou livre.. - Sussurrava para mim mesma as palavras que Jeff utilizava para me reconfortar quando eu tinha os meus pesadelos a meio da noite. Inútil. O cheiro de Desmond já se estava a aproximar cada vez mais do meu corpo assim como o seu bafo. Sentia o seu toque, mesmo ele não me estando a tocar.

- Por pouco tempo.. - Queria afastar-me mas sentia-me imóvel na altura. Ele estava mesmo à minha frente. - Sabes bem o que eu faço a meninas que tentam escapar.. - Ele desviou o cabelo que estava à frente da minha orelha e encaixou-o detrás da mesma aproximando os seus lábios do meu ouvido. - Imagina o que eu faço aquelas que conseguem.. 

Estremeci completamente. Arregalei os olhos e empurrei-o para longe. Estava cansada de ser a sua submissa e, apesar de ter medo e de sentir o meu corpo ceder aos tremores, encarei-o de cabeça erguida.

- Deixa-me em paz, Desmond. - Disse com a maior confiança que encontrei na altura, esta, mesmo sendo pouca, foi o suficiente para impressionar Desmond. Eu nunca fora tão ousada na minha vida.

Ele fez uma pausa.  A sua expressão passou de confusa para risonha e ele riu-se. Riu-se da maneira mais nojenta que poderia ter rido naquela altura.

- Soas tal e qual o teu namorado.. - Foi como se uma faca tivesse ultrapassado o meu coração de uma só vez, sem hesitação. Ele estava a dizer o que eu penso que estava? Ele encontrou-se com Jeff? Jeff disse que o ia matar, será que ele morreu antes de o poder fazer?

- O que que lhe fizeste? - A minha voz já estava extremamente mais trêmula a esta altura. Os meus olhos já estavam em mar. Despedaçava-me só de pensar que Jeff poderia ter sofrido sequer um arranhão que fosse nas mãos de Desmond.

Ele aproximou-se. Eu afastei-me, cada vez mais. Conseguia mexer-me, conseguia falar e defender-me na sua presença. Nem me reconheço, eu nunca tive coragem de fazer isto! Ele chicoteava-me..

- Ele teve o mesmo destino do Kaleb, és minha e não vais a lado nenhum! - Ele berrou, claramente irritado. Estremeci, tapei os ouvidos e gritei, encolhendo o meu corpo. Estava de volta ao armazém de madeira, ouvindo os seus gritos conforme ele me chicoteava. Estava de volta a todo o lado que ele alguma vez gritara comigo. Há tanto tempo que não ouvia tal som ensurdecedor. - Ouviste-me? - Ele só teve tempo de dizer mais isto quando reparei que ele se calou. E parou de se aproximar.

Abri os olhos e reparei numa almofada no chão, aos pés de Desmond. Ele olhava na direção do topo das escadas, mesmo na cara de Will. A sério, Will? Uma almofada?

- Sai, Desmond. - Carl disse, mesmo por detrás do corpo de Will. Ambos tinham expressões sérias e carrancudas formadas. De uma maneira que eu nunca antes havia visto e esperava nunca mais ver na minha vida.

- Carl, Will. - Desmond cumprimentou-os ''formalmente'' soltando um pretensioso sorriso. Ele sabia que ia ganhar a guerra. - Que bom saber que cuidaram tão bem da minha menina.. - Ele comentou referindo-se a mim com um ligeiro aceno de mão e cabeça. - Mas, tudo chega a um fim, está na hora de ela ir para casa e vocês sabem disso, por isso. - Nem houve tempo de reação ou de acabar a frase, o meu braço foi puxado e o meu corpo foi atrás, em direção à rua.

Desmond fechou a porta e apressou-se a puxar-me até o carro. Eu tentava resistir mas era inútil. Eu sou tão fraca. Ele levava-me como levasse uma pena no nariz. No momento que os rapazes abriram a porta, estava eu dentro do carro de Desmond e ele estava a entrar no carro. Eu ainda tentei abrir a porta para voltar a sair mas ele agarrou-me pelos cabelos e manteve-me no interior do veículo.

- Não! Deixa-me em paz! Por favor! - Chorava. Sabia qual era o meu destino e sentia todas as células do meu corpo chorarem com as suposições. O carro andava rapidamente e tudo o que eu via era os rapazes a correrem atrás do carro. Eles desapareceram. Nós estávamos na auto-estrada, em direção a uma ponte.

- Tu és minha, percebes? - Como é que foi tão fácil? Jefferson disse que nunca iria deixar nada disto acontecer-me. Ele disse que me ia proteger. Onde ele estava agora? - Aceitaste o meu doce quando tinhas 6 anos, Melody! Os teus pais nem sequer se aperceberam que havias desaparecido até eu já te ter levado para fora do estado, eu esforcei-me imenso para te manter em segredo da tua maldita família policial! Eles mataram o meu filho! Por isso eu vou matar o deles, depois eu vou pegar todas as fotos tuas que tenho, desde criança até agora. Todos os vídeos que eu fiz de tudo aquilo que te fiz passar e vou mandar-lhes. Depois vou ver a dor na cara deles. Vou ver o luto instalar-se neles, e vou sorrir por ter sido eu, a minha vingança. Vou vê-los desfazerem-se por saberem que eles são culpados pelo sofrimento da filha.. - Ele estoirou. Ele aparentava um total psicopata. Eu sabia que ele era um, mas ele nunca realmente mostrou sinais disso. Finalmente sei a verdade. É o fim, mas é a verdade.

- É por isso que me tens? Por vingança? - Berrei, irritada e magoada. A minha família é policial e eles nunca foram capazes de me encontrar? Desmond teve um filho? Doce? - A culpa não é minha Desmond. Por favor, deixa-me ir! - A minha cara estava completamente molhada, o meu queixo já tinha diversos vestígios de água salgada e a minha camisola de dormir também começava a ficar molhada. Eu soluçava, implorando por perdão.

- Eu vou-te matar. E é hoje. - Ele estava completamente maníaco com tudo aquilo. Parecia já ter o seu plano todo engendrado na tua cabeça, desde há muito tempo.

Tiros. Ouvi tiros. Três. Dois utilizados para partir o vidro traseiro do carro enquanto que o terceiro foi ter diretamente com o crânio de Desmond, espalhando sangue e miolos por todo o lado, incluindo no meu corpo. Ele estava ali, morto, no volante, a alta velocidade em cima de uma ponte, sobre um rio. Merda. Só conseguia gritar por ajuda, apavorada. Olhei para trás e pude observar Jeff, de tronco de fora do tejadilho do carro, com a sua bela arma à frente, entre mãos.

Ele salvou-me.

O carro perdeu o controle.

Batemos contra a proteção da ponte.

A proteção partiu-se.

O carro caiu.

E caiu.

E caiu.

Água.

Água.

Muita água.

Estava a afundar-me com o cadáver de Desmond ao meu lado. Eu ia mesmo morrer hoje. Nem conseguia pensar nem fazer mais nada. Estava paralisada de medo. Estava a aceitar a morte.

Splash!

Submersa.

Sufocante.

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

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Fiquem por aí, haverá o epílogo ;D Espero que tenham gostado e que eu tenha superado as vossas expectativas hehe

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