Chapter 17

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Comecei a ver a imagem a desvanecer à frente dos meus olhos. O Will estava a ficar esbranquiçado. Era impossível. Quase que senti aquela realidade a escapar pelos meus dedos e acabei por abrir os olhos assim que tudo ficou branco.

Olhei em volta e não vi nada. Só mesmo o Kaleb a olhar para mim, com os braços cruzados completamente focado em mim. Parecia uma versão diferente do armazém, mais nova. As paredes agora eram de azulejo, nem devia de ser um armazém, devia de ser uma casa-de-banho ou assim. Os cantos estavam todos verdes e mofados tal como estava o lavatório, o chuveiro, o armário do espelho e tudo mais. O espelho estava partido. Esmigalhado com apenas alguns poucos pedacinhos no chão pois o resto permanecia no lugar.

O chão. Não sei qual o canto mais podre. Devia de ser aquele que eu estava. Ao pé do lavatório, com fita-cola na boca, nos pulsos e nos tornozelos. Simplesmente.. Vulnerável, presa. Sozinha. Eu estava marcada, dorida. Não podia ser. Como? Eu saí! Eu senti! Eu.. Eu fugi. Reparei que Kaleb se aproximara de mim e abaixou-se ao meu nível e puxou a ponta da fita que me cobria a boca retirando-a com força e rapidez o que puxou um pequeno gemido de dor.

-Foi bom o sonho? -ele gargalhou um pouco e eu não pude acreditar. Foi tudo uma alucinação. O Jefferson e o Wilson nunca apareceram, eu nunca saí daqui nem nunca estive com eles!

-C-como é que..? -consegui ouvi-lo a rir-se novamente. Aquele riso irritava-me até a ponta dos cabelos.

-Achaste mesmo que aquela seringa fazia-te bem? -a seringa? A 'vacina'?! Talvez não era uma vacina. Talvez era um.. Veneno?! Seria? Provavelmente. Não sei.

-O Desmond disse que fazem, disse que.. Que me faziam ficar saudável.. -comecei a sentir lágrimas a começarem a nascer nos meus olhos. Eles estiveram a mentir-me até sobre o que me faz bem. Eles estiveram a mentir-me sobre tudo! Eles até me fizeram mentir a mim mesma.

-As outras faziam. Esta não, esta era só para te podermos trocar de lugar sem que desses luta ou coisa assim..

-Não.. -poucas lágrimas cairam dos meus olhos enquanto o olhava. -Não pode ser.. E-eu dormi por quanto tempo? -disse com a voz trêmula tentando me mexer mas, a fita-cola impediu-me e manteve-me presa e posta no meu lugar. Ele riu-se. -Diz-me! -acabei por mandar um grito agudo enquanto mais lágrimas rolavam.

Nem tive tempo de pensar. Ele simplesmente saltou na minha direção e, com força, agarrou nas minhas bochechas. Senti os meus braços a tremerem, senti-me completamente vulnerável naquele momento, como me senti em toda a minha vida.

-Tu comigo não falas assim ouviste? -ele basicamente berrou na minha cara com aquele hálito terrível a alcóol a embater na minha face. -Tu a mim respeitas-me percebeste? -ele gritou cada vez mais alto fazendo-me estremecer. Os nossos olhos encaravam-se e os dele pareciam arder de raiva.

O seu punho ergueu-se atrás da sua cabeça e pude reparar que ele tinha consigo uma pequena peça enrugada de metal nos seus dedos que rapidamente me acertou com força na face assim como o seu punho. Senti a pele da minha bochecha a rasgar-se completamente e soltei um grito doloroso.

-Kaleb! O que estás a fazer? -ouvi a voz de Desmond a gritar e logo ambos viramos a face para a porta. Eu já estava a sangrar. -Sai já daqui!

Kaleb ergueu o seu corpo de forma decidida e zangada. Eu apenas me encolhi ainda mais no meu canto, se é que isso era possível visto que o meu corpo já se encontrava completamente contido.

- Cale-se seu velho! Nem ter uma boa escrava você sabe! - Escrava? Espera. Eu não sou uma escrava! Sou? Devo de ser. Porque? Dói. Ele está-me a usar para se satisfaze. Ele está a fazer de mim um objeto sexual. Eu ainda o hei-de matar.

- Kaleb saia. Depois iremos falar. - Desmond parecia imensamente calmo. Ele teria algo planeado para mim? Ele iria voltar a abusar de mim? Não. Já estou estafada disso! Estou a rezar da maneira que eu consigo para que deus tenha misericórdia da minha pessoa! Kaleb saiu sem mais dizer. Desmond e eu encaravamos um ao outro de forma séria, da parte dele, e de forma assustada, da minha parte.

- O-o.. -eu ia começar a falar mas logo fui interrompida pela grave voz do meu raptor.

- Esta é a tua nova casa. Vais aqui comer, dormir e fazer tudo o que tens a fazer. Só irás sair em uma ocasião e essa vai ser amanhã à noite porque os nossos objetos ainda não estão descarregados completamente, percebeste? -ele dizia com um ar sério e eu sentia-me mais medonha a cada palavra que lhe saía da boca. -Vou só perguntar mais uma vez. Per-ce-bes-te? -parecia que ele estava a falar com uma retardada. E tecnicamente eu sentia-me uma pois não conseguia fazer com que alguma palabra saísse.

- E-eu.. -quando ia recomeçar a falar bloqueei. Eu estava prestes a admitir que ia ser a escrava dele a cem por cento? Não queria. Eu ia dizer não. Mas ele começou a aproximar-se de mim, ele parecia umverdadeiro tarado. - Percebi, percebi, por favor não me faças mal! -fechei os olhos com força tesntando-me afastar dele. Escondi a cara entre os meus braços e juntei-me aos mesmos cheia de medo. Sabia perfeitamente que não ia adiantar. Talvez só por ele ver que eu estava a MORRER de medo dele ele já se poderia afastar não? Não.

- Estás bem? -ouvi-o a murmurar e logo ergui o olhar para ele que já se encontrava à minha altura. Ele segurou no meu queixo levemente e puxou-o de maneira a que visse a minha bochecha rasgada. -Hm. Isso não é nada mas mesmo assim.. -ele logo levantou-se e começou a mexer em algumas coisas no armário.

Eu só ouvia objetos de vidro a embaterem, pacotes a pousarem no lavatório que estava sobre a minha cabeça, e pedacinhos de vidro a cairem tanto no lavatório como no chão. Acho que aquele pesadelo ainda estava longe de acabar. Ele retirou do tal armário uma maleta branca que tinha uma cruz vermelha estampada. Ele abaixou-se novamente e abriu a maleta usando diversos objetos para me curar a ferida. Ardeu com aquela coisa amarela, fez impressão aquele pedaço de papel que a limpou de seguida mas logo que ele pôs o penso soube bem.

- Até amanhã. -ele acabou. Guardou novamente a maleta e voltou a sair do espaço apagando a luz e fechando a porta. Boa. Escuro. Odeio o escuro.

«Tortura»Onde histórias criam vida. Descubra agora