Chapter 15

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Algum tempo mais tarde consegui ouvir sapatos a embaterem no chão de madeira e rapidamente memórias daqueles sons que os sapatos de Desmond e Kaleb faziam todas as manhãs. Num segundo virei o meu corpo em direção ao som, sentia-me um pouco aterrorizada, apesar de saber que apenas Will se encontrava naquela casa ainda tinha o pensamento de que Desmond iria aparecer pra me ir buscar a qualquer momento.

-Calma.. -disse Will num tom suave, eu não conseguia estar calma! Era apenas a minha primeira hora no mundo exterior. Mas logo que a sua voz ecoou na minha cabeça consegui respirar mais calmamente, ele deixava-me calma.

-Desculpa.. Sou mesmo fraca.. -murmurei calmamente enquanto pegava a caneca de um rato animado bastante familiar pra mim, eu já o tinha visto mas não me lembrava aonde. Enfim, peguei na caneca com ambas as mãos sentindo as mesmas aquecerem instantaneamente devido à temperatura da caneca e logo um ligeiro arrepio passou pelo meu corpo, um arrepio bom, não consigo descrever mas foi como se todas as partículas do meu corpo sentissem um novo conforto.

-Não és nada.. -ele disse ao se sentar ao meu lado. O meu primeiro instinto foi cheirar o liquido acastanhado que estava naquela quente caneca. Cheirava tão bem. Aquele cheiro era tão docinho, eu sentia que estava a ser abraçada por dentro. Não só pelo calor, mas pelo doce que aquilo impunha. O meu segundo instinto foi deitar-me no peito de Will. Acho que só queria mesmo que ele me confortasse.

-Sou sim.. -murmurei, senti-o a afastar a minha cabeça dele e observei-o inclinar-se para os meus pés, ele retirou os sapatos cinzentos que os cobriam e logo voltou a se encostar enrolando o seu braço no meu corpo o que me levou a deitar novamente no seu peito.

-Não digas isso.. És forte.. -senti os seus lábios serem demoradamente pressionados contra a minha testa e os meus olhos apenas se fecharam. Ele era tão carinhoso comigo.

(...)

Algum tempo depois de estarmos naquela posição e de eu já ter queimado a língua umas poucas vezes, enquanto conversavamos sobre a minha fraqueza, ouvimos baterem à porta.

-Quem é? -perguntou Will num tom alto mas eu pouo me importei, já considerava Will o meu melhor amigo.

-Sou eu puto, abre a porta.. -consegui distinguir a voz de Jefferson ecoar pela porta e logo o meu estômago começou a se entrelaçar. Não consegui perceber porque mas sentia as minhas entranhas às voltas.

-Entra, tá aberta.. -assim que ele disse isso a porta abriu-se e o meu olhar focou-se no de Jefferson, ele parecia relaxado ou até aliviado. Assim que entrou e fechou a porta foi-se sentar ao meu lado sem nunca desviar o olhar da minha pessoa.

-Então Mel.. Como te sentes?

-Melhor.. Obrigada.. -desviei o olhar para o meu chocolate quente e voltei a inspirar o cheiro do mesmo.

-Vejo que o Will fez-te chocolate quente.. -sorriu levemente, ele estava a tentar ser simpático e acho que eu estava a reparar nisso.

-Sim.. -murmurei calmamente observando o liquido que ia agora a metade da caneca, andar de um lado para o outro da mesma.

-Estás mesmo bem? -ele pousou uma mão na minha perna que eu rapidamente encolhi por instinto. Não o queria fazer. Apenas o fiz conter a mão e afastar-se. Soltei um suspiro triste pela minha reação.

-Desculpa Jeff.. Acho que ainda não estou nada bem.. -murmurei baixo encolhendo ligeiramente o meu corpo- Tenho de ir dormir.. -disse calmamente levando uma mão a coçar o olho.

-Que fazes aqui? -perguntou o Will com um ar neutro na sua face.

-Vim visitar a Mel.. Não consegui parar de pensar em como ela pode estar.. -ele foi querido quando disse isto. Será que ele se preocupava comigo? Talvez, talvez não. Ele estava a falar com Will mas olhava sempre para mim, sem desviar.

-Obrigada, mas não era necessário gastares o teu tempo com isso..

-Mas era. Sabes bem que era Mel... -conseguia ouvir alguma hesitação na sua voz, isso era desagradável, parecia que ele tinha alguma coisa encalhada na garganta.

-Tens mais alguma coisa pra me dizer? -olhava-o atentamente tentando decifrar alguma coisa vinda dele.

-Bem.. -congelei. Mil e uma coisas passaram pela minha cabeça e todas apenas com um nome: Desmond. -Eu hoje recebi uma mensagem.. -ele tirou o telemóvel do bolso e eu comecei a ficar stressada. -E achei que devia vir avisar.. -pouco depois ele mostrou-me o telemóvel, eu peguei no aparelho e comecei a tentar ler com alguma dificuldade mas ainda me lembrava do básico.

"Boa tarde Jefferson White, o meu nome é Desmond Dark e preciso que saiba que tem uma coisa que me pertence e eu não vou descansar enquanto ela não estiver em minha posse. Faço tudo o que for preciso."

-Não.. -murmurei trêmula quando acabei de ler a mensagem. -Ele vem atrás de mim.. -deitei uma lágrima e escondi a cara no peito de Will que apressou-se a me acariciar o cabelo. -Ele nunca me vai deixar em paz.. -chorava deixando-me ser envolvida pelos braços calorosos de Will. Sentia-me completamente desesperada, ele não podia ir atrás de mim! Não daquela maneira!

-Calma Mel, nós vamos ajudar-te.. -Jefferson acabou por dizer, ele parecia mais calmo mas ainda preoupado. -Ele não te vai fazer mais mal está bem? -senti a sua mão retirar o chocolate quente das minhas, talvez pra que não caisse e eu logo abracei Will com força. -Vamos arranjar alguma coisa..

-Sim.. Ele nunca mais te vai tocar um dedo está bem pequenina? -Will fez-me olhar para ele e eu assim o fiz respirando fundo de uma forma um pouco trêmula mas logo assenti com a cabeça.

-Bem, eu acho que vou indo então..-Jefferson começou a se levantar enquanto falava de uma forma calma e distante.

-Não! -praticamente implorei-lhe, sinto-me tão desnorteada sobre o Jefferson. -Fica aqui por favor.. -disse ainda triste mas já largando de Will e agora pegando no braço de Jefferson e puxando-o para que ele se sentase novamente ao meu lado.

-Porque me queres aqui..?

«Tortura»Onde histórias criam vida. Descubra agora