Segunda Feira, 23/02 - Parte 3

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Agora, vamos ter que fazer um pequeno desvio para acomodar minha diversão e hobby com o que eu preciso de fato fazer. Tudo bem? Tudo bem. Tudo belezinha? Espero que esteja. Para entendermos melhor a história de Maria e até termos outras perspectivas do que irá ocorrer daqui para frente e dentro dessa segunda feira.

Afinal, naquela manhã do dia 23 de fevereiro, Maria não foi a única que começou o dia com pesadelos. E, por isso, devemos retornar ao começo desse dia, quando o barulho de uma buzina arranca Ishin Gonçalves para fora de seu sonho. A buzina veio da rua, mas se mesclou com seu sonho e o ato de acordar vira um salto para fora da cama. Sentado e com o coração acelerado, o som de sua respiração reverbera pelo quarto. Controlando a respiração na tentativa de se acalmar, ele inspira fundo — como se estivesse retirando do ar moléculas de bravura — e por fim se ergue da cama.

O cachorro de Ishin, um vira-lata simpático, entra em seu quarto, ouvindo o ranger da cama quando seu dono se levanta. Ishin se agacha e faz carinho no cachorro, Fobos, que lambe sua mão e depois seu rosto.

— Bom dia, parceiro. Como passou a noite? — A voz de Ishin é naturalmente grave e grossa e, por ser de manhã, essas características são intensificadas. — Ei, não pule assim! Já te disse que não pode.

"Acho que uma ducha vai ajudar a limpar a mente" ele pensa, ainda sonolento.

Antes de ir para o chuveiro, Ishin decide ver como estão os potes de ração e água de Fobos.

— É por isso que veio me dar bom dia, né? — ele pergunta, indo abastecer os potes.

Quando enfim entra no banho, ele por fim deixa o corpo relaxar debaixo da água quente. O corpo relaxa, mas sua mente? A cabeça de Ishin já está listando tudo que precisa fazer hoje. Tem um bico em um mercadinho que sua amiga, Aless, conseguiu para ele. E, de noite, tem o expediente no restaurante em que trabalha. Ele não quer pensar no seu pesadelo, não quer trazê-lo à tona. Quer afogá-lo debaixo do chuveiro. Não precisa pensar em pesadelos ou no passado.

Após o banho, Ishin calmamente se veste e vai conferir se sua mãe, Helena, já acordou, mas ela ainda dorme. Vendo isso, Ishin segue para a cozinha, preparando o café da manhã, refletindo que logo será seu aniversário. Vinte anos! Ele geralmente comemora só nos dias 28 de fevereiro, mas nesse ano teria um dia 29. E algo assim merece uma comemoração digna, não?

Ishin, diferente de Maria, gosta de seu aniversário.

— Bom dia, filho. — Ele ouve atrás de si.

No processo de se levantar, ele já dá um forte abraço em sua mãe.

— Bom dia, mãe!

— Deus, tem algo no seu café que cheira tão bem! Você certamente não me puxou nos talentos culinários... — A mulher ri, indo para a cozinha.

Ishin puxou a aparência asiática de sua mãe: seus olhos, cabelos e algumas feições do rosto. O resto — formato do rosto, o físico e a postura — vem tudo de seu pai, Rogério, que morreu quando Ishin ainda era muito pequeno, em um acidente de carro.

— Bizarro, né? — Helena comenta, da cozinha. — Logo você vai estar fazendo vinte anos! O tempo passa tão rápido! Parece que, ainda ontem, era aquela coisinha "pequetetucha".

Ishin solta um riso tímido, lembrando de quando ainda era mais novo. Após a morte do pai, teve dificuldade em fazer amigos. Muitas crianças não gostavam de ficar perto dele, não gostavam dele. E certamente a introversão do garoto não ajudava ele a criar amizades. Contudo, para Helena, ele sempre foi um garoto gentil, vendo isso como a maior qualidade do filho. Ele não hesitou em começar a trabalhar aos dezesseis anos, para tentar ajudar em casa e deixar a vida para sua mãe um pouco mais confortável.

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