O Encontro na Clareira

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O Encontro na Clareira

O dia seguinte amanheceu com um céu nublado, e Clara aproveitou o início tranquilo da manhã para escapar até o bosque atrás da casa. Era seu refúgio favorito, onde podia pensar e, agora, ler as cartas longe dos olhos atentos de tia Augusta.

Ela encontrou um lugar confortável sob uma grande árvore, abriu o maço de cartas e escolheu outra para ler.

"Minha querida Anna,
O destino parece determinado a nos separar, mas algo em mim se recusa a desistir. Amanhã, ao pôr do sol, deixarei um presente para você no velho carvalho. Ele será a prova de que, mesmo distantes, nossas almas estão entrelaçadas."

Clara franziu a testa. O velho carvalho. Será que aquele lugar ainda existia? E o que teria sido deixado lá? Antes que pudesse refletir mais, o som de cascos e vozes ao longe a trouxe de volta à realidade.

Curiosa, Clara levantou-se e seguiu na direção do barulho. Ao atravessar a clareira, viu um jovem montado em um belo cavalo castanho. Ele parecia observar a paisagem com atenção, como se procurasse algo.

— Bom dia — disse Clara, antes de pensar melhor.

O jovem virou-se, surpreendido. Seus olhos eram intensos, mas seu rosto logo suavizou com um sorriso discreto.

— Bom dia. Perdão se estou invadindo seu espaço — respondeu ele, descendo do cavalo com elegância. — Creio que não tivemos o prazer de nos conhecer. Sou Lucas Montfort.

Clara sentiu o rosto corar ligeiramente, mas manteve a postura.

— Clara Belmonte. Este bosque é da minha família, mas não considero uma invasão. Gosto de vê-lo ser apreciado.

Lucas olhou ao redor, como se quisesse guardar aquele momento na memória.

— É um lugar encantador. Não imaginei que encontraria algo assim por aqui. E você, Srta. Belmonte, vem sempre a este bosque?

Clara hesitou. Não queria revelar a razão de estar ali com as cartas, mas também não sabia como desviar da pergunta.

— É meu refúgio — respondeu ela, optando pela verdade parcial. — Um lugar para pensar.

Lucas assentiu, como se entendesse perfeitamente.

— Às vezes, acho que precisamos desses refúgios, não é? Lugares onde o mundo parece mais simples.

Os dois ficaram em silêncio por um momento, ouvindo apenas o som das folhas ao vento. Havia algo confortável na presença de Lucas, mesmo que Clara não conseguisse entender o motivo.

— Srta. Belmonte, espero vê-la novamente em breve. Tenho a sensação de que esta vila guarda mais segredos do que parece.

Clara sorriu de forma contida.

— Talvez o senhor esteja certo.

Quando Lucas montou novamente no cavalo e partiu, Clara voltou ao seu lugar sob a árvore. Mas desta vez, sua mente estava dividida entre o mistério das cartas e o enigmático Sr. Montfort.

Além das SombrasWhere stories live. Discover now