Um Encontro Não Planejado

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Um Encontro Não Planejado

A reunião na casa dos Vernier estava em pleno vapor. Entre conversas sobre as últimas colheitas e os boatos da vila, a movimentação pela sala tornou o ambiente agitado. Era o lugar perfeito para que pessoas que jamais se encontrariam normalmente pudessem cruzar caminhos.

No canto mais afastado do salão, Cecília Norwood, a melhor amiga de Clara, permanecia discretamente sentada com um livro entre as mãos. Apesar da insistência de sua mãe para que "socializasse mais", Cecília preferia observar a cena do que se envolver em conversas forçadas.

De repente, uma bandeja carregada por um jovem criado desequilibrou-se, e uma taça de vinho caiu direto no colo dela. Cecília soltou um pequeno grito de surpresa, enquanto o líquido tingia sua saia azul clara.

— Oh, mil perdões! — exclamou o jovem, ajoelhando-se para pegar a taça caída. Ele parecia aflito, mas havia algo genuinamente desajeitado nele que fez Cecília segurar o riso.

— Está tudo bem — disse ela, tentando acalmar o rapaz enquanto usava um lenço para limpar o vestido.

— Não, não está — insistiu ele, ainda mais vermelho do que o vinho derramado. — Vou buscar algo para ajudá-la!

Antes que Cecília pudesse responder, ele já havia corrido até a cozinha. Quando voltou, trazia um pano limpo e uma expressão de determinação.

— Aqui. Não deve ser tão difícil de limpar — disse ele, entregando-lhe o pano.

Cecília aceitou, ainda sorrindo.

— Muito obrigada. Qual é o seu nome?

— Henry, senhorita. Henry Wright. Sou aprendiz do mordomo, mas claramente não sou muito bom nisso — respondeu, gesticulando para o desastre que causara.

Cecília deu uma risada leve.

— Bem, Henry, talvez você precise de mais prática, mas sua boa intenção compensa a falta de habilidade.

Henry parecia aliviado com o tom amigável dela. Observando Cecília por um momento, notou algo em seus olhos que ele não conseguia explicar: uma mistura de gentileza e curiosidade que o deixou desconcertado.

— E qual é o seu nome, senhorita? — perguntou ele, um pouco hesitante.

— Cecília Norwood — respondeu ela, ajeitando o vestido.

Henry pareceu surpreso.

— Norwood? A filha do Sr. Norwood da propriedade ao norte?

— Sim, essa mesma. — Ela inclinou a cabeça, intrigada com a reação dele.

— Meu pai trabalhou para o seu há anos. Ele sempre falava como o Sr. Norwood era um homem justo.

— Ah, é mesmo? Que interessante — disse Cecília, sentindo-se subitamente curiosa sobre aquele jovem que, apesar de sua simplicidade, parecia carregar um certo orgulho.

Os dois trocaram sorrisos rápidos antes que um chamado do mordomo obrigasse Henry a voltar ao trabalho. Enquanto ele se afastava, Cecília percebeu que, pela primeira vez em muito tempo, havia achado aquela reunião social menos enfadonha do que o esperado.

Já Henry, enquanto carregava outra bandeja, olhou de relance para Cecília e pensou que talvez aquele encontro desajeitado tivesse sido o momento mais marcante de sua noite.

Além das SombrasWhere stories live. Discover now