Margarida

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pureza, inocencia, lealdade

A porta do quarto rangeu levemente quando Gabi a abriu, revelando um espaço aconchegante, iluminado pela luz suave da tarde que entrava pela janela. O quarto tinha um cheiro fresco, de algo recém-limpo, e as malas de Gabi estavam empilhadas no canto. Era sua primeira vez em Conegliano, e, apesar do cansaço da viagem, um sorriso brotava em seu rosto.

Ela largou a mochila na cama, respirando fundo. Esse era o começo de uma nova fase. Jogar em um dos maiores times da Itália, ao lado de Isabelle Haak, sua melhor amiga e parceira de quadra há anos, parecia um sonho. A adaptação seria difícil — o idioma, os costumes, a distância de casa —, mas Gabi estava pronta para encarar o desafio.
Enquanto desfazia as malas, Gabriela encontrou a foto em polaroid. Na foto, ela e Rebeca sorriam abraçadas, tirada em um momento despreocupado, antes de toda a correria das competições e despedidas. Gabi olhou para a imagem por alguns segundos, sentindo um calor no peito.
Ela caminhou até a mesa ao lado da cama, onde havia um pequeno abajur. Colocou a foto ali, cuidadosamente, como um lembrete do que havia deixado no Brasil — e do que a motivava a continuar.
"Eu espero que ela esteja bem."
O pensamento veio acompanhado de um pequeno aperto no peito, mas Gabi logo o afastou. Havia muita coisa para fazer naquele dia, e ela queria aproveitar o jantar de boas-vindas com o time.

Quando saiu do quarto, fechando a porta atrás de si, deu de cara com Isabelle, que estava encostada na parede do corredor, com um sorriso brincalhão no rosto.
— Até que enfim! Achei que você ia passar a noite toda arrumando as malas. — Isabelle disse em um italiano carregado com seu leve sotaque sueco.
— Tava organizando minhas coisas. Não queria deixar tudo uma bagunça logo de cara. — Gabi respondeu, rindo.
— Clássica Gabi. Sempre organizada. — Isabelle rolou os olhos de forma exagerada, mas o sorriso permaneceu. — Vamos logo. As meninas já estão na sala de jantar, e eu prometi que não íamos nos atrasar.
— Tô indo. — Gabi assentiu, acompanhando a amiga.
As duas desceram juntas para o salão de jantar, onde as demais jogadoras já estavam reunidas. O ambiente era descontraído, com risadas e vozes animadas preenchendo o espaço. Gabi sentiu o calor acolhedor daquela energia e soube, naquele instante, que estava no lugar certo.
Sentou-se ao lado de Isabelle, que fez questão de apresentá-la para algumas das jogadoras mais novas.
— Essa aqui é Gabi —colocando um braço em volta dela. — Sejam gentis, ou eu conto pra ela todos os seus segredos.
Gabi riu, relaxando um pouco mais. A conversa fluía fácil, e, por um momento, ela se permitiu esquecer os receios que trazia consigo.
Mas, enquanto o jantar avançava, Gabi não pôde evitar que sua mente vagasse de vez em quando. Lembrando-a de Rebeca e de como as coisas tinham começado entre elas, com saudade da familia e dos amigos que deixara no Brasil. Mesmo feliz ali, em um time que a acolhia, com Isabelle ao seu lado, uma parte de seu coração ainda estava no Brasil.

Depois que a maior parte do time se retirou do jantar, Gabi e Isabelle ficaram para trás, aproveitando o tempo para colocar a conversa em dia. Estavam sentadas lado a lado, com Isabelle inclinada casualmente contra o encosto da cadeira, enquanto Gabi brincava com o guardanapo entre os dedos.
— E aí, Gabi, como tá a vida no Brasil? — Isabelle perguntou, lançando um sorriso curioso. — E não me vem com só "tudo bem". Quero os detalhes.
Gabi riu, balançando a cabeça.

— Ah, você sabe como foi... uma loucura. A preparação pra Paris, a pressão, as competições. Foi incrível, mas esgotante.
— Isso eu já sabia! — Isabelle revirou os olhos com um sorriso. — Fala da sua vida fora da quadra. Você viu a Sheilla antes de vir?
O sorriso de Gabi diminuiu um pouco, mas ela manteve o tom tranquilo.
— Não. A gente não se viu. Nem faz sentido, né? — Ela suspirou e deu de ombros. — Acho que era isso que faltava pra eu seguir em frente de vez.

— É... — Isabelle comentou, observando a amiga. — Aquilo não era nada saudável, né?
Gabi deu uma risada curta, carregada de ironia.
— Nada. Eu nem sei como aguentei tanto tempo. Mas tá no passado. Já fechei essa porta.
— Graças a Deus! — Isabelle exclamou, jogando as mãos para o alto de forma exagerada. — Só de lembrar daquela energia pesada... Credo. Você merece coisa muito melhor.
— E eu acho que encontrei. — Gabi disse, sorrindo de leve.
O tom da conversa mudou imediatamente, e Isabelle endireitou-se na cadeira, animada.
— Ah, é? — Ela perguntou, com os olhos brilhando. — E você só me conta isso agora? Quem é a sortuda?
— Rebeca Andrade.
A reação de Isabelle foi instantânea. Ela quase tropeçou no próprio pé, completamente surpresa.
— O quê? A Rebeca Andrade? — Isabelle exclamou, quase caindo na risada. — Gabi, como isso aconteceu?

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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