Silena deitou-se ao lado de Sofia, que adormeceu assim que se encostou à cama. Eu fiquei numa cama sozinho, o colchão era extremamente confortável. Tinha os braços enfaixados novamente, estancando o sangue que antes escorria pelos mesmos. Ao fim de uma longa hora a olhar para o teto a pensar sobre profecias estúpidas, com uma frase ou duas a repetir-se na minha cabeça, "As mentiras de uma o destruirão e o seu defeito o matará" , não consegui concluir nada sobre a frase, apenas a minha previsão de morte, bem, lá consegui adormecer.
Bem, os sonhos não me aliviaram nem um pouco. Acontecia a todos, não é mesmo? Espero que Morfeu me desse um intervalo de pesadelos depois desta missão. Ouvi a voz de Luke, murmurando palavras que não entendia. Sentia a sua falta, e consegui sentir isso no sonho. Ele era uma das pessoas mais generosas do acampamento, tinha-me tratado como um irmão quando o Percy estava fora. Também foi no meu primeiro ano de campo que ele me abandonou, para seguir para o lado de Cronos, e apenas contou ao Percy. Senti-me muito mais do que traído, senti o mesmo que havia sentido quando a minha mãe apareceu com Jake em casa. Revoltado, e com saudades, muitas saudades.
Queria voltar a vê-lo como antes, talvez até refazer um dos nossos treinos de esgrima. Ele apareceu à minha frente, parece que as vozes do além me ouviam, tinha os seus olhos azuis mirados em mim, eram brilhantes como antes, queriam uma mudança. E o seu sorriso era bonito, mas escondia uma certa traquinice por detrás dele. Não sei o que aconteceu, mas eu estava a chorar, ele abraçava-me, continuava a dizer-me palavras que eu não entendia. Senti uma dor horrível no peito, como se o meu coração se partisse lentamente, mas com força e violência. Como se eu soubesse de algo que os outros não sabiam, não sabia o que era. Pelo menos ainda não. Depois senti algo ainda mais estranho, uma dor perfurante por trás da minha orelha direita, era um ponto estranhamente específico. Tinha sido esfaqueado, a minha visão ficou escura e ouvi uma voz grave, uma mistura de três. A minha, mais velha, a de Luke e outra, outra cuja não fazia ideia de quem pertencia. Mas pelo contexto, poderia ser Cronos, ou Hades a rir-se da minha morte.
A cena mudou. Oh não. Não gostava nada daquilo que via. Estava no meu apartamento em Nova York, um T2 com mobília não muito moderna, vários relógios e muitos, muitos armários com chávenas colecionáveis. Era tudo muito mais morto do que a nossa casa em Brighton, não tínhamos quase plantas aqui, era tudo beje, cinzento e castanho. Não havia cores, nunca gostei muito desse facto. O meu corpo agora era quase como um espírito, transparente, que não tinha reflexão nas dezenas de espelhos espalhados pela casa. Já sabia o que ia ver, mas mesmo assim obrigaram-me a ver aquilo de novo. Uma força invisível empurrou-me para o quarto.
O quarto não tinha nada de mais, era escuro, com uma lâmpada fundida no teto, uma janela tapada com cortinas castanhas escuras de veludo. Tinha um colchão rasgado no chão e algumas almofadas desfeitas. Penas espalhadas por todo o lugar e muitos pelos também. Roupa minha rasgada, as minhas t-shirts preferidas, os meus uniformes de escolas em que já estive. A minha mãe arrastava-me, agarrado por um braço, até ao quarto. Ia aos trambolhões e já tinha os olhos embrulhados em lágrimas. Estava pelos meus dez anos, não foi assim à tanto tempo se pensarmos bem. Ela berrava-me palavras que nunca absorvi, eu debatia-me com força, mas era um magrelo, um autêntico palito sem força. Comecei a entender as palavras que a minha mãe me gritava:
"Nem sei porque amei o teu pai", ela dizia, "és um autêntico pesadelo, ele devia ter te levado"
"Estávamos melhor em Brighton", retorqui de volta, no mesmo tom, só para ser atirado pelo chão como uma bola de bowling. Strike. Uau, sou muito engraçado.
"És um falhado, nem sei porque gasto dinheiro em escolas se vais ser expulso de todas", ela volta a berrar.
Agarrou em mim de novo, pelos cabelos e depois pelo colarinho da camisola. Tirou uma tesoura do bolso e cortou-me o cabelo, muito mal cortado. Ficou curto como o dos outros rapazes, numa franja constrangedora. A minha cara e orelhas sangravam pelos múltiplos cortes da tesoura.
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A Storm in The Underworld -- (PJO fanfic//Meu UA) --
FanfictionAlexander Simons, um rapaz normal, com uma vida normal. Certo? Errado. Bem, errado desde que se mudou de Brighton. Tudo mudou, ser expulso da escola todos os anos era uma rotina agora. Um dia, ele fugiu, e sua vida mudou para sempre. Ele precisava l...