Capitulo 2.

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Não sei ao certo por quanto tempo desmaiei, mas acho que ninguém notou. Olho para a praça, noto algumas pessoas sentadas em alguns bancos, tento prestar atenção nas conversas.
— Acho que infelizmente ele não vai sobreviver.
— Vai sim, ele é forte.
   "Não, não vai..." penso, e automaticamente sinto uma lagrima cair sobre minha face.
Me levanto, um pouco atordoada, e sigo para onde deixei minha bicicleta, torcendo para que ninguém tenha roubado ela.
Coloco as mãos em meus bolsos para pegar meu celular, já esta escuro, preciso ver que horas são, minha mãe deve estar preocupada, mas não o acho.
Encontro minha bicicleta jogada no mesmo lugar de onde havia deixado, subo nela e vou pedalando para casa.
Por quê isto tudo está havendo? eu só posso estar sonhando, não é possível.
Atravesso a pista e sigo por uma ruazinha de terra deserta, o mato que ocupa os terrenos vazios invadem parte da rua, os buracos grandes, tornam o trajeto mais difícil.
Chego em casa e abro meu imenso portão de ferro, meu pastor alemão late olhando fixamente para mim, mas não avança, entro em casa e subo correndo direto para meu quarto, não tem ninguém em casa, o que acho estranho, fico deitada olhando para o teto por um tempo, o teto branco, as paredes de um rosa tão clarinho que beira um branco, e o piso de porcelanato tão branco, que é possível ver seu reflexo nele.
Olho ao lado de minha cama, em cima do criado mudo de madeira maciça, esta meu abajur beje, um copo água pela metade e um livro, "não me lembro de ter deixado esse livro ali", o pego, esta marcado na página 27. " Mas já terminei de ler esse livro a muito tempo, que estranho, minha mãe deve estar lendo ele e o colocou aqui."
Fico por mais uns instantes ali, olho o relógio da parede, são 21:35, "onde está todos?"
Continuo deitada na cama por um tempo, até que escuto barulho de carro, era minha mãe, escuto ela conversando com alguem, escuto ela abrindo a porta, e apenas continuo deitada, definitivamente não estou com cabeça para conversar com ninguém.
Fico apenas escutando o que ela fala, tentando distinguir pela voz quem esta com ela, era uma voz de homem, grossa, parecia a do meu... pai?
"O que ele faz aqui?" os dois quase nem se olham mais, já faz mais de um ano, desde que ele fugiu com a amante e preferiu nos deixar, desde então sou só eu, minha mãe e meu irmãozinho de 7 anos, o Allan. No começo eu até que tinha bastante raiva dele, agora sou indiferente.
Mas o que ele esta fazendo aqui? estão conversando tão tranquilamente.
Escuto barulhos na escada, então fico quietinha, e finjo que estou dormindo, pois não quero conversar no momento. A porta se abre e... "ahhhh... não pode ser...nãoooo..."
Pela porta, entra aos prantos EU.
"Será que estou presa nesse pesadelo? por quê não consigo sair?"        Me levanto da cama e fico em pé apenas observando.
A suposta eu esta chorando incontrolavelmente, ela se joga na cama, põe o travesseiro no rosto e começa a gritar.
—Nãooooooooo... por quê eu não impedi???, por quê isso aconteceu???
  É, a verdade é que no começo eu me sentia bem culpada sim, achava que eu poderia ter impedido a morte dele, mas com o passar do tempo comecei a notar que eu não poderia ter feito nada, que eu não tinha culpa, mas no fundo, sempre tive dúvidas.
A tal "eu" havia acabado de voltar do hospital, e eu sabia bem como ela estava, e agora eu sentia isso tudo novamente.

O sabor do ventoOnde histórias criam vida. Descubra agora