Já se passaram duas semanas, e tudo continua repetindo, não consigo voltar para a minha realidade, o que me faz pensar que talvez essa sim seja minha nova realidade.
Respiro fundo e levando do sofá, preciso sair um pouco, me distrair, ficar nessas condições e ainda mais parada, só vai me enlouquecer mais e mais.
Saio de casa e vou para o centro da cidade, tudo está tão movimentado, acho que hoje é feriado ou algo assim. A verdade é que depois de ficar nesta situação, acabei perdendo um pouco a noção do tempo, da hora, dos dias, para mim não importa mais, e acompanhar o meu antigo eu, ja perdeu a graça na primeira semana, só consigo pensar em como vou voltar para o que deveria ser a realidade, mas a cada dia que passo, perco mais e mais as minhas esperanças.
Vou até o cinema mais próximo, e entro na sala com o filme que parece ser meno entediante, já assisti a todos a uns 3 anos atrás, mas não me recordo mais tão bem deles, e é o que parece ser menos tedioso no momento.
Apesar de poder atravessar as pessoas, eu odeio isso, a sensação ao contrário do que parece é horrível e a cada vez que faço isso, me faz pensar cada vez mais que estou morta, e algo dentro de mim acredita realmente nesta hipótese, mas um outro lado de mim, reluta a aceitar esse pensamento, prefiro encarar isso como uma experiência, e que logo mais retornarei ao meu mundo real.
Então me a jeito no único lugar livre, na fileira do meio.
Filmes de terror são meus preferidos e é isso que estou assistindo no momento. O lado bom de ninguem me ver ou ouvir, é que posso falar e comentar o filme quanto eu quiser, mesmo que seja para mim mesma, e ninguém reclama.
-Não entra ae, não entra ae, sua idiota, saiiiii, ele vai te matar.
É tão bom poder fazer isso, nenhum lanterninha vem até eu para me expulsar, ninguém para reclamar.
- A não, essa que me faltava, uma garota sem noção para ficar gritando aqui, cadê o lanterninha para expulsar essa garota?
Um garoto da cadeira de tráz foi quem falou, deve ter por volta de seus 17 anos, bem branquinho. Mas a questão é, como esse garoto me escultou.
Então eu me levanto, se alguem consegue me ouvir, é desse alguém que preciso.
-Eiiii, Você. -digo apontando para o tal garoto. -como você me ouviu?.
-Acho que a pergunta aqui em questão é, como VOCÊ me ouviu.
Não acredito nisso, alguem como eu, alguem que me ouve e me vê, como?
Me aproximo dele e faço sinal para que nós dois saiamos de lá.
- Qual seu nome?
-Vinícius. E o seu garota estranha?
- Alice. Como você pode me ver e ouvir?.
- Acho que pelo mesmo motivo que você pode me ver e ouvir.
- É... talvez, a quanto tempo você esta nessa situação?
-Já faz uns 3 meses, e você?
- 2 meses. Tem alguma ideia de porque estamos nessa situação?
- Nenhuma, já cansei de tentar encontrar respostas, mas nada.
- Eu não entendi nada, do nada eu havia voltado 3 anos atrás na minha vida, e desde então não consigo voltar ao meu tempo real.
-Nossa, o mesmo comigo, e na pior data da minha vida, o dia do falecimento de meu pai.
Notei uma lágrima caindo pelo canto de sua face e involuntariamente uma caiu sobre minha face também. Algo nisso tudo fazia sentido, nossos piores dias como marco para o retorno ao passado.
- Vinícius?
-Oi.
-Será que morremos e esse é o nosso inferno?
-É, eu já pensei nisso, pensei que isso tudo pudesse ser um sonho, já pensei em tudo o que se pode imaginar, mas sinceramente não acredito na hipótese de termos morrido.
-É, também não muito, e na verdade essa hipótese me assusta muito.
Vinícius é bem mais alto que eu, sou da altura de seus ombros, ele não é forte nem nada, é até bem magrelo, seus cabelos são castanhos e pouco a baixo das orelhas, levemente bagunçados e seus olhos cor de mel levemente esverdeados. Ele é bem estiloso mas não faz muito o meu tipo, e além disso, na situação em que estamos, não se da nem para cogitar a tentativa de um "romance", além de que, minutos antes tentei toca-lo para que nós pudéssemos sair da sala, e minha mão o atravessou, acho que ele nem notou, ou se notou achou que seria triste demais comentar sobre isso, assim como eu achei.
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O sabor do vento
RomansaAlice é uma adolescente de 16 anos, que em um dia aparentemente comum de novembro, se vê revivendo seu maior pesadelo.