Capitulo 3.

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Fico ali, por um longo tempo, apenas observando.
Aquilo tudo não podia estar certo, não podia ser verdade, eu só podia estar louca, sonhando ou algo assim, logo eu acordaria, mas enquanto isso, decidi andar pela casa, ver então as coisas por um outro ponto de vista que até então eu não havia visto.
Sempre fui o tipo de pessoa mais calada e observadora, devido minha timidez, não tenho muitos amigos, somente a jade e depois que o Igor se foi, tive medo de me aproximar de qualquer outra pessoa, principalmente namorar. Só tive um namorado e não sei bem se posso considera-lo assim, visto que eu só tinha 12 anos, o nome dele era Alexandro e foi com ele que dei meu primeiro beijo, depois nunca mais.
Desso as escadas e vou em direção a cozinha onde meus pais estão conversando. Os dois estão sentado à mesa, uma pequena mesa redonda para quatro pessoas, com uma toalha xadrez vermelha e branca, (daquelas tipo piquenique), e uma cesta de frutas no centro.
Me sento na cadeira entre os dois e os observo. A quanto tempo não os via juntos, olha-los lá, me dava uma certa nostalgia, sentia saudades da minha família junta, dos meus pais juntos, eles pareciam tão felizes. Ao mesmo tempo, pensando nisso tudo me deu uma certa raiva de meu pai nesse momento, ele a traiu e nos deixou, e eu por mais que tentasse nunca esqueceria disso.
- Como isso foi acontecer Rogério? O garoto era tão novo, a idade de nossa filha, podia ter sido ela.
- Nem me fale uma coisa dessas querida, mas coitada, deve estar arrasada, ela viu toda a cena e ele eram tão colados.
- Eu sei, coitadinha, não disse nada des do ocorrido.
- O enterro vai ser que horas amanhã?
- Às 10:00.
Pensar em ver todo aquele enterro novamente me deu um medo estranho, me fez pensar se de repente quem não morreu foi eu agora, e o meu inferno é reviver meu pior pesadelo todos os dias.
Eu já havia pensado nisso outras vezes com a Jade e com a minha mãe, principalmente após a morte do Igor, mas será que agora eu estava vivendo isso?
Me levanto e vou em direção a minha pequena sala, me sento no sofá beje, e fico olhando a televisão, me parece o menos tedioso que tenho a fazer e pelo menos conseguirei distrair um pouco a mente, certo? errado.
"Garoto de 13 anos é morto em assalto nesta tarde."
Nem a televisão me ajuda a pensar em outra coisa.

....

Já são 9:35, todos estão se preparando para o enterro, como não consigo trocar de roupa, vou assim mesmo. O enterro é no cemitério do bairro, não é como naqueles enterros de filmes onde todos vão de terno e tudo mais, é bem informal de certa forma, então todos estão apenas "arrumadinhos".
O cemitério é lindo, todo florido e daqueles que enterram as pessoas na terra, igual os de filmes. Todos os familiares e amigos estão lá, não demorou para que eu achasse a mãe dele debruçada sobre o caixão chorando. No dia que aconteceu o enterro eu não havia conseguido ver o corpo de meu amigo pela grande quantidade de pessoas em volta, mas agora eu podia atravessa-las e vê-lo e então faço isso.
Mesmo com toda a maquiagem que colocam para não chocar tanto, ele esta pálido, esta com um terno preto e camisa social branca, todo arrumadinho como eu nunca havia visto, seus cabelos castanhos meio jogado para o lado como costumava deixar, e seus olhos azuis fechado, eu nunca mais os veria.
Fico lá ao lado dele o máximo que posso, mas então fecham o caixão e o levam até onde vão enterra-lo. O acompanho e fico vendo seu caixão sendo baixado e vejo sua mãe de joelhos chorando ao lado do buraco, ao lado dela estou "eu" que não paro de chorar ao lado da Jade. Ver tudo nessa nova perspectiva torna tudo ainda pior, pois alem de sentir tudo novamente, me vejo mal e além de tudo não posso fazer nada para mudar ou amenizar o sofrimento de ninguém.
Todos começam a ir embora, um a um, mas eu continuo lá, é difícil saber ao certo o porquê, mas eu de alguma maneira comecei a me sentir bem naquele lugar, talvez porquê estou de alguma maneira perto de meu amigo.
"Igor Fernandes Souza 1998- 2012 "
Então começo a andar pelas lápides.
"Maria Antônia da Conceição 1970-2003"
"Felipe dos Santos 1965- 2000"
" Marcelo Oliveira Cordeiro 2008- 2013".
Haviam pessoas de todos os sexos e idades, des dos mais velhos até uma criancinha, aquilo me deu uma sensação tão estranha dentro de mim, uma espécie de medo misturado com alguma outra coisa que acho que não existe nome.

O sabor do ventoOnde histórias criam vida. Descubra agora