𝐒𝐏𝐄𝐍𝐂𝐄𝐑 𝐂𝐀𝐒𝐒𝐀𝐃𝐈𝐍𝐄

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"O amor que não se expressa nunca morre, mas fica enterrado em nosso peito, um veneno que nos corrói lentamente." - William Shakespeare

Era minha segunda noite no restaurante, e o cansaço já começava a se acumular. O trabalho era simples, mas a pressão para ser eficiente me deixava com os nervos à flor da pele. O relógio marcava 22h30 quando joguei minha bolsa no ombro e saí correndo pela rua estreita, ainda iluminada pelos postes. O toque de recolher no meu dormitório era às 23h, e eu sabia que, se me atrasasse, teria problemas. No entanto, no meio do caminho, meu celular vibrou no bolso da jaqueta.

Era Spencer.

"Preciso de você. É o meu pai."

Meu coração apertou. Spencer Cassadine raramente pedia ajuda, e quando o fazia, era porque as coisas estavam ruins. Ele era assim: sempre o porto seguro de todos, um sorriso sarcástico na maioria das situações, como se nada pudesse abalar seu mundo. Mas eu sabia que aquele sorriso era uma armadura. E, por trás dele, havia feridas que ele guardava a sete chaves.

Sem pensar duas vezes, mudei de direção e peguei o primeiro ônibus em direção à casa da Laura. A casa de sua avó era o único lugar onde ele parecia se sentir seguro, longe das mansões frias e cheias de segredos dos Cassadine. Laura sempre foi como uma figura materna para mim, especialmente depois que meus pais se foram, mas hoje, não era ela quem precisava de apoio. Era Spencer.

Quando cheguei, a casa estava silenciosa. A luz da varanda estava acesa, e, por um instante, a tranquilidade do lugar quase me fez questionar se havia realmente algo errado. Toquei a campainha e esperei, tentando controlar a inquietação. Foi Spencer quem abriu a porta.

Ele estava descalço, vestindo uma calça de moletom cinza e uma camiseta preta, o cabelo bagunçado e os olhos cansados. Ele parecia diferente. Mais vulnerável.

"Você veio," ele disse, a voz baixa e rouca.

"Claro que vim," respondi, entrando na casa. "Você me assustou. O que está acontecendo?"

Ele fechou a porta atrás de mim e passou a mão pelo cabelo, como fazia sempre que estava nervoso. "É o meu pai," começou, e, só de ouvir a menção a Nikolas Cassadine, eu soube que aquilo ia ser complicado.

"Ele voltou," continuou, com um tom de amargura. "E já começou a fazer o que faz de melhor: destruir tudo o que toca."

Segui Spencer até a sala de estar, onde ele se jogou no sofá, exalando um suspiro pesado. Sentei ao seu lado, observando como ele apertava as mãos contra os joelhos, a tensão visível em cada músculo.

"Ele apareceu aqui hoje," Spencer disse, olhando para o chão. "Disse que quer o Ace. Que está pronto para ser pai."

Fiquei em silêncio, deixando que ele continuasse.

"Você acredita nisso, s/n? Depois de tudo. Ele nunca foi um pai para mim. Nunca esteve lá. Ele me abandonou quando eu era uma criança, deixou que eu crescesse sem direção, sem amor... E agora ele quer o Ace? Como se fosse um direito dele?"

Havia dor na voz dele, mas também algo mais profundo. Raiva. E uma preocupação que me cortou o coração.

"Spencer," comecei, escolhendo as palavras com cuidado, "o que exatamente ele disse?"

Ele levantou o olhar para mim, os olhos escuros brilhando com um misto de frustração e desespero. "Ele disse que estava pronto para assumir a responsabilidade. Que quer levar o Ace embora daqui, criar ele como um Cassadine, longe de... sei lá, da influência 'nociva' da minha e de mim." Ele riu sem humor, balançando a cabeça. "Como se ele tivesse algum direito de julgar."

𝐧𝐢𝐜𝐡𝐨𝐥𝐚𝐬 𝐜𝐡𝐚𝐯𝐞𝐳 - 𝙞𝙢𝙖𝙜𝙞𝙣𝙚𝙨 / 𝙤𝙣𝙚𝙨𝙝𝙤𝙩𝙨Onde histórias criam vida. Descubra agora