Quatro|| Despedida ao amanhecer

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| Charlotte Wolf |
🌶️

A água quente caía sobre nós, limpando as marcas da noite e a tensão que pairava entre os dois. Depois de um banho compartilhado, em que os dedos de Carlos exploravam minha pele com uma suavidade que parecia contradizer a intensidade da nossa conexão, ficamos em silêncio. O som da água era o único que preenchia o espaço, e, por um momento, o mundo lá fora pareceu desaparecer.

Saímos do chuveiro, os corpos ainda quentes e cobertos por vapor, e, embora a noite tivesse sido intensa, algo me dizia que não seria o fim. Não seria fácil deixar tudo isso para trás, não tão simples assim. Mas, ao mesmo tempo, havia a consciência de que aquela era uma história escrita para ser curta, um capítulo efêmero que seria lembrado por ambos.

Vesti uma roupa de Carlos para dormir, ainda com o cheiro do banho fresco em nossa pele. Carlos parecia relaxado, mais do que eu imaginava que ficaria. Ele se sentou na cama e me observou por um instante, como se quisesse memorizar aquele momento. Então, falou baixo, com uma voz suave, que combinava perfeitamente com a atmosfera tranquila do quarto.

— Eu sei que você tem que ir embora, Charlotte... mas, por favor, fica mais um pouco. Não vá agora.

Eu respirei fundo. A lógica me dizia que deveria sair, que aquela era a melhor decisão. Mas, ao ver a maneira como ele me olhava, como se me implorasse para ficar, algo se partiu dentro de mim. Não era só desejo, não era apenas a atração que ele exercia sobre mim. Era a sensação de que ele precisava de algo mais, e eu também sentia a mesma necessidade.

Fiquei. Eu deveria ir, mas decidi me entregar ao momento, talvez pela última vez. Carlos sorriu, como se soubesse exatamente o que havia acontecido dentro de mim, e me puxou para a cama. As cobertas nos envolveram, e, antes de fecharmos os olhos, ele me abraçou forte, como se a simples presença de meu corpo fosse o suficiente para acalmar algo dentro dele. E, naquele momento, tudo pareceu certo, como se eu tivesse encontrado um refúgio temporário, um lugar onde poderia esquecer o que viria depois.

A noite passou devagar, mas quando a luz do dia começou a romper as cortinas, fui acordada pela pressão suave de Carlos, que ainda me abraçava. Ele estava dormindo, mas seus braços estavam firmemente ao redor da minha cintura, seu rosto descansando contra meu pescoço. O calor de seu corpo, o cheiro familiar de sua pele, tudo parecia tão... normal. Como se fôssemos duas pessoas que tinham encontrado um lar no outro, mesmo que apenas por uma noite.

Respirei fundo, tentando não acordá-lo. O desejo de ficar ali, de continuar a sentir a sensação de segurança nos braços dele, era forte, mas eu sabia que o momento estava acabando. Levantei-me com cuidado, sem fazer barulho, e comecei a me vestir. O sol já começava a iluminar o quarto, trazendo com ele a realidade que eu tentava adiar.

Eu estava terminando de colocar a roupa quando o celular de Carlos vibrou na mesa de cabeceira. Ele não havia percebido, ainda imerso no sono tranquilo. Curiosa, dei uma olhada. E o que vi me fez congelar.

Era uma mensagem de uma mulher.

"Cariño ❤️:

Amor, quando volta de viagem? Sinto sua falta. Não se esqueça que amanhã é aniversário de nossa filha. Liguei para minha mãe, iremos comemorar todos juntos, ok?
Amo você, volta logo ❤️"

Meu corpo ficou gelado. O coração deu um salto, e uma onda de confusão me envolveu. Não era possível. Ele estava casado? Ele tinha uma filha?

A mensagem parecia inofensiva à primeira vista, mas as palavras, as frases, todas elas se encaixavam em um quadro que eu não conseguia mais ignorar. Carlos não havia mencionado nada sobre um relacionamento sério, sobre uma família. Ele havia me dado a impressão de ser um homem livre, perdido nas corridas e na velocidade, mas agora parecia que ele tinha uma vida completamente diferente, uma vida que ele havia escondido de mim.

Sentei na beira da cama, o celular ainda nas mãos. Olhei para ele, que ainda estava profundamente adormecido, e algo dentro de mim começou a quebrar. Como pude ser tão ingênua? Como pude acreditar que ele poderia ser algo mais do que apenas uma pausa na vida dele?

O som suave da mensagem que ele recebera se misturava ao meu turbilhão de pensamentos. Era difícil acreditar, mas agora tudo fazia sentido. A maneira como ele estava tão ausente após nossa noite juntos, como ele me pediu para ficar sem realmente me dizer o motivo... tudo isso se tornava claro agora. Ele estava dividido entre mim e sua família.

A dor foi repentina. Eu me senti estúpida. Uma parte de mim queria simplesmente pegar minhas coisas e sair, desaparecer sem dar explicações. Mas uma outra parte sabia que isso não era quem eu era. Eu não queria ser aquela pessoa. Não queria ser só uma lembrança passageira na vida dele, nem queria carregar esse peso.

Meus dedos tremiam enquanto me vesti. Olhei mais uma vez para o celular e, antes que eu pudesse hesitar, tomei a decisão. Não queria mais saber. Não queria mais me perder em algo que eu sabia que não poderia ser meu.

Carlos começou a acordar, e eu me virei para ele, tentando disfarçar a dor que eu sentia. Ele sorriu, ainda com os olhos meio fechados, e se levantou, esticando os braços.

— Bom dia... — Sua voz estava rouca, sonolenta, mas cheia de uma leveza que me fez querer permanecer ali, ao seu lado.

— Eu... eu preciso ir, Carlos. — A voz saiu trêmula, mas firme. Ele parou, confuso, e seus olhos buscaram os meus.

— Charlotte... você não precisa ir agora, temos tempo...

— Não, eu realmente preciso. — Tentei sorrir, mas não consegui. Ele pareceu perceber que algo estava errado, mas não perguntou.

Me virei rapidamente, pegando minhas coisas e indo até a porta.

— Cuide-se. — Ele disse, a voz baixa, sem saber a dor que suas palavras causavam.

Eu abri a porta e, sem olhar para trás, caminhei para fora daquele quarto. A dor no peito era imensa, mas ao mesmo tempo, eu sabia que estava tomando a decisão certa. Eu não poderia continuar sendo apenas uma parte efêmera de sua vida, e ele nunca saberia o que significou para mim.

O elevador desceu lentamente, o som do movimento metálico ecoando enquanto o destino nos afastava. E enquanto as portas se abriam para me liberar, eu sabia que algo havia mudado em mim. Não só em relação a ele, mas em relação ao que eu estava disposta a aceitar.

Eu olhei uma última vez para o hotel, mas não voltei. O que eu queria ficar para trás. A história que criamos era linda, mas feita para ser apenas uma memória.

E então, saí para a cidade, sabendo que a única pessoa com quem eu precisava me preocupar agora era eu mesma.

FIM!!
Eu amei escrever essa história! O que acharam desse final? Gostaram?
Obrigada por acompanharem a história até aqui 🩷 até a próxima! ⭐️🩷

𝐋𝐔𝐗 || CARLOS SAINZ Onde histórias criam vida. Descubra agora