Entre o amor e o medo

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O vento estava mais forte naquele final de tarde, e o mar parecia cantar baixinho, como se quisesse aliviar a tensão que pairava no ar. Rayssa não conseguia tirar os olhos de Marina, que caminhava pela orla, os cabelos esvoaçando. O que estava acontecendo entre elas estava se tornando cada vez mais difícil de definir. A conexão era inegável, mas as inseguranças também. A cada passo, o medo de que tudo desmoronasse parecia mais próximo.

Rayssa parou um pouco atrás de Marina, deixando o som das rodas do skate quebrar o silêncio. A cada movimento, ela sentia o peso do que não havia sido dito entre elas, e a ansiedade começava a apertar seu peito.

Marina percebeu a aproximação e virou-se, seus olhos dourados se encontrando com os de Rayssa. "Oi," disse com um sorriso suave, mas havia algo nos seus olhos que mostrava mais do que simples simpatia.

"Oi," Rayssa respondeu, sua voz saindo um pouco mais baixa do que o normal. Ela queria dizer tantas coisas, mas algo a impedia. A dúvida estava ali, entre elas, como uma parede invisível. "Eu... preciso te falar uma coisa."

Marina a observou atentamente. "O que foi?" Ela deu um passo à frente, mas havia um certo receio em seus gestos, como se soubesse que o que viesse a seguir não seria simples.

"Eu não sei o que está acontecendo entre nós, Marina," Rayssa começou, sentindo as palavras escorregarem de seus lábios. "Eu... eu sei que estou sentindo algo muito forte, algo que não posso controlar. Mas, ao mesmo tempo, tenho medo. Medo de que isso acabe. Medo de que a gente se machuque no processo. E se for só uma fase? E se isso não durar?"

Marina suspirou, e por um momento seus olhos se perderam no horizonte. "Eu entendo o que você está dizendo, Rayssa. Eu também sinto isso. Esse medo constante de que, no final, tudo o que a gente está vivendo seja só uma ilusão. Eu tenho medo de me entregar completamente e depois ver tudo desmoronando. O que acontece se a gente se apaixonar e... e não der certo?"

O silêncio se estendeu entre as duas, como se o tempo tivesse desacelerado. Cada uma estava imersa nas próprias inseguranças, e o que antes parecia natural, agora se tornava uma grande incógnita.

"Eu não quero te perder," Rayssa disse, a voz embargada, como se a confissão do medo fosse mais dolorosa do que ela imaginava. "Eu sinto que há algo real aqui, mas também tenho medo de que isso não seja suficiente. O que se a gente se perde no caminho? O que acontece se a gente não souber lidar com isso?"

Marina deu um passo mais perto de Rayssa, a distância entre elas agora quase nula. Ela podia sentir o peso do medo de Rayssa, e o seu próprio coração parecia apertar junto com ela. "Eu também tenho medo, Rayssa. Mas, ao mesmo tempo, não posso ignorar o que sinto. Eu sinto você. Eu sinto o que a gente tem, e isso é real. Mas o medo... o medo de perder você, de ver tudo isso acabar, é grande demais. Às vezes eu me pergunto se eu deveria me afastar, me proteger. Mas ao mesmo tempo, eu não quero. Eu não quero perder o que temos."

Rayssa fechou os olhos, o peito apertado, e por um momento se deixou levar pela vulnerabilidade do momento. "Eu não sei se sou forte o suficiente para arriscar isso, Marina. Não sei se consigo lidar com a ideia de ver você ir embora ou ver tudo que a gente está construindo desaparecer. E se for só uma fase?"

Marina tomou a mão de Rayssa, seus dedos entrelaçados de forma suave, mas firme, como uma promessa não dita. "Não sabemos o que vai acontecer, Rayssa. Mas eu não quero que o medo de perder nos faça perder a chance de viver o que estamos vivendo agora. Às vezes, as coisas mais intensas vêm com o maior medo. Mas isso não significa que devemos nos afastar. Talvez o que a gente precisa seja viver o presente, sem esperar demais, mas também sem deixar o medo controlar o que sentimos."

As palavras de Marina eram sinceras, e Rayssa sentiu algo diferente ao ouvi-las. O medo ainda estava ali, mas a vontade de tentar, de se permitir viver o que estava diante delas, era maior. O futuro não podia ser controlado, mas o presente estava em suas mãos.

Rayssa olhou para Marina, os olhos brilhando, cheios de um desejo que ia além das palavras. "Eu não sei o que vai acontecer, mas... eu quero tentar. Não quero viver com a dúvida do que poderia ter sido."

Marina sorriu suavemente, e Rayssa percebeu que, mesmo com todos os medos e inseguranças, o que as unia era mais forte do que o que poderia separá-las. "Eu também quero tentar, Rayssa. E talvez, só talvez, o fato de tentarmos seja o que nos faça mais fortes. Talvez a gente precise aprender a lidar com as incertezas, em vez de deixar que elas nos dominem."

As duas ficaram em silêncio, mas dessa vez o silêncio não era desconfortável. Era um silêncio de compreensão, de aceitação. O medo ainda estava lá, mas elas estavam dispostas a enfrentá-lo juntas. E, por mais que o futuro fosse incerto, elas sabiam que o que sentiam agora era real — e isso era suficiente para começar.

A skatista e a Sereia-Rayssa LealWhere stories live. Discover now