O que eu sinto?

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O sol mal começava a se pôr quando Rayssa finalmente se permitiu respirar. Estava na beira da praia, olhando para o horizonte, o som das ondas quebrando suavemente contra a areia parecia ser o único som real naquele momento. Ela ainda sentia o peso daquilo tudo, o que acontecera. O que ela fizera por Marina.

Ela não conseguia parar de pensar. Naquele momento, quando colocou-se entre o monstro e Marina, algo a impulsionou. Algo mais forte que qualquer pensamento racional. Quando a criatura avançava, ela não pensou no risco para sua própria vida. Só pensou em Marina.

Mas por quê?

Por que ela quase se sacrificaria sem hesitar? O que estava por trás daquele ato instintivo?

Rayssa se sentou na areia, os olhos fixos no mar, tentando organizar seus pensamentos. Ela sabia que a conexão entre ela e Marina era única, mas não conseguia entender completamente o que isso significava. Marina não era só uma amiga. Rayssa sentia algo mais, algo que ela não sabia como explicar.

O pensamento de perder Marina tinha sido insuportável, e isso a aterrorizava. Quando viu Marina sendo consumida pela escuridão, uma onda de pânico se apoderou dela. Não era só medo de perder uma amiga, era mais do que isso. Era como se ela estivesse prestes a perder uma parte dela mesma, uma parte que não poderia viver sem.

Ela fechou os olhos e deixou sua mente vaguear. A lembrança de quando viu Marina pela primeira vez passou por sua cabeça como um flash: os sorrisos compartilhados, as risadas, as conversas até tarde da noite. Mas não era só isso. Algo mais profundo tinha se formado entre elas. Rayssa percebeu que seu desejo de protegê-la vinha de algo mais forte que a amizade, algo que se misturava com uma necessidade de estar com Marina de maneira que ela não sabia como definir.

"Por que isso me assusta tanto?" Rayssa murmurou para si mesma. Ela não tinha medo de perder amigos antes, mas perder Marina era diferente. Sentia como se uma parte essencial de si mesma fosse arrancada.

O que estava acontecendo com ela? O que significava esse impulso, essa proteção extrema? Ela se lembrou de Marina, sua voz gritando por ela, a preocupação em seus olhos. Marina também sentia algo, isso era claro, mas o que era? Um laço de amizade profundo? Ou algo mais?

Rayssa sentiu sua respiração ficar mais pesada, como se o peso dessas dúvidas estivesse lhe apertando o peito. Ela tentou afastar os pensamentos. Tentou ignorá-los, mas não conseguia. O que exatamente ela estava sentindo?

"Eu... eu não posso deixar isso me consumir," Rayssa pensou, olhando para o mar, como se procurasse alguma resposta ali. Mas, no fundo, ela sabia que a resposta não viria de um lugar externo. Ela precisava encontrar dentro de si mesma o que estava acontecendo. Precisava entender o que estava acontecendo com seu coração.

De repente, ouviu passos suaves atrás de si. Era Marina.

Rayssa não se virou imediatamente, mas soube que era ela. A presença de Marina era reconfortante, como sempre, mas agora havia uma tensão no ar, uma que Rayssa não sabia lidar.

Marina se sentou ao lado dela, sem dizer nada. Ambas ficaram ali, em silêncio, observando o horizonte. Por um momento, parecia que o tempo havia parado. Nenhuma palavra era necessária.

Mas então, Marina quebrou o silêncio.

"Rayssa... eu nunca vou esquecer o que você fez por mim. Você quase... você quase se sacrificou para me salvar. Eu não sei como te agradecer."

Rayssa sentiu seu coração acelerar, mas ainda não sabia o que dizer. "Eu só... fiz o que qualquer pessoa faria. Eu não podia te perder. Não... não sei por quê. Mas eu não podia te perder, Marina."

Marina olhou para ela com os olhos suaves, como se estivesse tentando entender as palavras que Rayssa ainda não sabia dizer.

"Você sente algo por mim, não é?" Marina perguntou, suavemente.

Rayssa engoliu em seco, sentindo um calor subir ao seu rosto. "Eu... não sei. Eu não sei o que isso é. Não sei o que está acontecendo comigo, Marina. Só sei que... eu não podia te deixar."

Marina sorriu levemente, como se tivesse compreendido algo. "Eu também não podia te deixar, Rayssa. O que quer que seja isso, a gente vai descobrir juntas."

O silêncio que seguiu foi confortável, mas pesado. Rayssa sentiu que, de algum modo, Marina estava com ela, entendendo as palavras não ditas. Ela não precisava de respostas definitivas naquele momento. Sabia que tudo o que precisava era do tempo para entender o que sentia.

"Eu vou estar sempre aqui, Rayssa," Marina disse, com a voz suave, mas cheia de certeza.

Rayssa olhou para ela e sentiu um alívio imenso, como se um peso tivesse sido retirado de seus ombros. Talvez ela não tivesse todas as respostas, mas naquele momento, sabia que não estava sozinha.

E, talvez, isso fosse o suficiente por agora.

A skatista e a Sereia-Rayssa LealWhere stories live. Discover now