Chamas do Inferno
No meio da tarde, sentada no chão da sala ao lado da minha mãe, observo-a encarar a TV, onde passa um daqueles programas antigos de culinária que ela adorava. Tento distrair a minha mente, oscilando entre os sentimentos confusos que tenho sobre Oliver e Dante. Mas é o rosto distante da minha mãe que acaba me puxando de volta, prendendo-me ao presente.
Já faz mais de um mês que eu pai foi embora e não da noticias, A doença da minha mãe vem piorando gradativamente e vê-la ali sentada relembrando dos poucos momentos que tínhamos juntas na minha infância faz meu coração apertar.
A voz da minha mãe soa tênue e frágil ao relembrar os domingos de panquecas, e, de repente, algo dentro de mim parece pulsar com mais força. Decido, quase sem pensar, preparar uma rodada delas
— Talvez eu consiga despertar uma lembrança a mais, arrancar um sorriso genuíno dela.
Corro para a cozinha, onde percebo que meus suprimentos são escassos, mas consigo improvisar com o que tenho, mesmo preocupada por não poder me ausentar para fazer compras. Ali, entre a massa e a busca por ingredientes, uma ideia surge: preciso de alguém para ajudar minha mãe enquanto trabalho. Com as panquecas ainda na frigideira, começo a procurar por uma cuidadora no celular.Minha linha de raciocínio é interrompida quando a porta da sala se abre com um estrondo, fazendo-me pular. Marta entra como um vendaval, e Adam a acompanha, um sorriso tranquilo em seu rosto. A cena transforma o ambiente, preenchendo-o com uma energia alegre e acolhedora.
— Nossa, que cheiro bom é esse? — Adam observa a mesa cheia, os olhos brilhando ao ver as panquecas.
Minha mãe, num raro momento de familiaridade, acena para ele:
— Sente-se, querido!
Ele sorri calorosamente, e, de repente, a tarde é preenchida por risadas, histórias e discussões animadas sobre como encontrar uma boa cuidadora. Marta, sempre cheia de energia, traz sugestões que beiram o cômico, enquanto Adam fala de forma prática e ponderada. Sinto uma sensação de conforto e, naquele momento, percebo que não estou sozinha nessa jornada.
Adam menciona que conhece uma excelente candidata e promete trazê-la na manhã seguinte. Saber que terei alguém para ajudar com minha mãe me deixa mais tranquila, especialmente porque preciso retomar o trabalho presencial. A situação no escritório está tensa, e sinto que minha ausência só contribuiu para os rumores que circulam por lá.
No dia seguinte, Adam chega pontualmente, acompanhado de uma jovem robusta, de estatura baixa, cabelo preso em um coque e uma expressão firme, mas bondosa. Ela tem uma mistura de força e carinho que, de imediato, me transmite segurança. Apresento-a à minha mãe e explico a rotina, deixando contatos para qualquer emergência.
Aproveito a carona de Adam até o trabalho e, enquanto o carro percorre as ruas, aproveito a chance para saciar minha curiosidade.
— Adam, há quanto tempo você conhece o Oliver? — pergunto, tentando ser casual.
Ele parece considerar a pergunta antes de responder:
— Acho que uns quatro anos, talvez... Por quê?
— Só queria saber mais sobre ele. Ele já teve relacionamentos duradouros?
Adam hesita, e percebo um leve desconforto. Ele responde sem muito detalhe:
— Olha, o Oliver teve uns relacionamentos... mas sabe como é, eu não me meto muito nessas coisas.
— Mas vocês são melhores amigos, não? Nunca saiu com ele e alguma garota? — pressiono, curiosa com sua relutância.
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O Inferno de Hanna
RomanceHanna se muda para uma nova cidade em busca de paz e para esquecer os traumas do passado. No entanto, sua vida toma um rumo inesperado quando ela se vê presa em um triângulo amoroso com dois homens enigmáticos: Dante, o misterioso bartender que a fa...