Fora do controle

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Aquela manhã estava sendo um inferno.

Após o término com Samanta, minha vida parecia ter virado de cabeça pra baixo.

Eu juro que havia tentando, que eu estava me esforçando, mas a cada dia que passava se tornava mais difícil fingir que aquele relacionamento funcionava.

As cobranças, as crises de ciúme, as atitudes possessivas. Samanta era uma garota doente.

E não era uma relação de amor, era uma fachada, sempre tinha sido. Tudo pra agradar meu pai. Tudo para que o pai de Samanta o fizesse sócio de sua empresa. Tudo por poder. Tudo por dinheiro.

Eu tinha sido o garoto bom por anos demais. Estava tendo minha vida controlado pelo meu pai e minha liberdade por Samanta. Eu iria enlouquecer.

Me sentia culpado por ter colocado Anny no meio desse show. Eu não deveria ter armado aquela cena, eu deveria ter me controlado. Terminar com Samanta no meio da escola, logo após a conversa com Anny não havia sido uma escolha inteligente.

Mas eu estava tão cansado.

E Anny me fazia lembrar do tempo em que tudo era mais simples, em que eu tinha liberdade - mesmo que pouca. Em que cada passo meu não era calculado ou observado por ninguém.

A nossa amizade havia sido a única coisa verdadeira que eu tinha vivido. Tudo depois dali era para um "bem maior" - como meu pai gostava de dizer. Porém eu demorei muito tempo para entender que esse "bem maior" era apenas o bem financeiro do meu pai.

Assim que a aula acaba, começo a me sentir ansioso

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Assim que a aula acaba, começo a me sentir ansioso.

Queria não ter que voltar pra casa, meu pai estava completamente irado com o término, e eu não estava nem pouco afim de ter que lidar com isso.

Eu nunca tinha ido contra alguma escolha que meu pai havia tomado para mim, então esse era um terreno novo que eu queria nunca ter que pisar.

Abro a porta da casa com cuidado para não fazer barulho, corro em direção a escada e quando estou na metade escuto meu nome ser chamado.

Congelo.

- Escritório, agora. - A raiva domina seu tom de voz.

- Mas Pai... - protesto.

- AGORA, Yann. - ele dita sem paciência.

Espero que ele não me mate.

Sigo ele até o escritório, e ele fecha a porta atrás de mim.

- Eu conversei com o pai da Samanta, ele entende que vocês são jovens e que fazem besteira. A filha dele está arrasada mas eles estão dispostos a te perdoar, só diga que estava confuso, que não pensou direito. Inventa qualquer merda. Se ajoelha se for necessário. Mas faz essa garota voltar com você. - ele diz serio.

- Não. - respondo ríspido.

- O que? - a feição seria do meu pai muda para uma repleta de raiva.

- Eu não vou voltar com ela. Está decido. Eu cansei.

- Yann, você vai pegar essa merda desse celular, você vai ligar pra aquela garota e vai pedir perdão. - ele tira o óculos e o coloca sobre a mesa.

- Não. - repito. - Eu não vou fazer isso.

- Yann, o que porra que te deu? Você tá maluco? Tá tendo uma dessas crises de adolescente rebelde? - ele grita. - Eu sou seu pai e eu mando em você. O que eu disser pra você fazer, você faz calado. Tá entendendo?

- Não pai, já chega. O senhor controla cada centímetro da minha vida, me força a estar nesse relacionamento doentio só por dinheiro. Eu não vou voltar com ela, eu não quero mais ser parte disso. - sinto um alívio pairar sobre meu peito.

- Seu ingrato. - ele cospe as palavras. - Tudo que eu fiz por você, por essa família. Te arranjei aquela garota linda e você reclamando. Relacionamento doentio... Você vai ver o relacionamento doentio.

- Carlos, chega. - minha mãe aparece a porta do escritório. - Sobe filho. - ela lança um sorriso doce para mim.

Apesar de ter deixado meu pai ainda mais irado, eu não me sentia tão bem em muito tempo. Sempre tive aquelas palavras guardadas dentro de mim e finalmente pude colocar o que eu sentia pra fora.

Eu não queria voltar à aquele teatro. Eu não queria mais ser o fantoche do meu pai. Eu estava no limite.

As vantagens de ser invisívelOnde histórias criam vida. Descubra agora