Amigos?

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A presença de Yann, mesmo depois de anos, ainda me deixava nervosa.

Eu me sentia uma idiota por alimentar sentimentos por ele por tanto tempo. Nós não conversamos desde que a nossa amizade havia chegado ao fim quando tínhamos 13 anos.

Acredito que antes de estar na mesma sala que eu, ele nem sequer lembrava da minha existência, mas mesmo assim meu coração ainda batia forte toda vez que ele estava por perto.

Levanto a cabeça para averiguar se o professor já estava arrumando suas coisas para ir embora, mas ele continuava no mesmo lugar: lendo um livro após nos mandar fazer um exercício qualquer de uma página aleatória.

Esse cara odiava a escola mais do que eu.

Yann vira para mim me entregando seu caderno. Lhe observo confusa.

- A resposta do exercício. - ele explica. - Quando a aula acabar ele vai passar o visto e dar ponto.

- Obrigada...?

Eu não entendia o que estava acontecendo. Yann havia passado de alguém que agia como se não me conhecesse pra alguém que se preocupava comigo.

Ele estava agindo assim a semana inteira. Sempre tentando puxar assunto comigo, me ajudando nos assuntos que eu não entendia, e agora me passando os exercícios que eu não fazia.

Isso estava me deixando ansiosa. Me perguntava se tudo não passa de um plano maléfico de Samanta - sim, ela era maldosa a esse ponto -, mas não conseguia imaginar Yann aceitando fazer parte disso. Pelo menos não o Yann de 4 anos atrás.

A aula finalmente chega ao fim. Assim que o professor passa o visto em meu caderno, o guardo em minha mochila e caminho em direção a saída.

- Ei! - ouço a voz de Yann e me viro para o mesmo. - Me espera. A gente pode conversar? - meu coração erra uma batida.

Olho em volta e algumas pessoas agora nos observam com atenção, algumas meninas até começam a se entreolhar e cochichar uma com a outra.

Faço sinal de "sim" com a cabeça, completamente sem reação.

O que ele poderia querer conversar comigo?

Caminhamos até um dos bancos da escola e nos sentamos. Naquele momento eu já estava tão nervosa que não saberia nem responder qual era meu nome.

Que patética, Anny.

- Então... - ele começa. - Eu sei que estamos bem afastados já tem uns anos, mas saiba que eu nunca esqueci da amizade que nós tínhamos. Eu, de verdade, nem sequer lembro de como chegou ao fim, mas eu gostava muito de te ter por perto na época, quer dizer, eu gosto de te ter por perto até hoje.  - ele sorri.

Meu coração se encontra em ritmo de samba.

- Também sei que muita coisa mudou, nós mudamos, mas eu queria muito te conhecer de novo, sabe? - ele para por um segundo e ri fraco. - Desculpa, é engraçado porque eu nunca pedi pra ser amigo de alguém antes. Mas Anny, você aceita ser minha amiga de novo? - ele estende sua mão.

Eu não consigo conter e começo a rir de nervoso. Aquela cena estava sendo impagável.

- Ah, qual foi? Foi fofo, vai? - ele ri também.

- Você 'tá falando sério? - digo em meio as risadas.

- Por que não estaria? - ele franze a testa. - Aceita ou não aceita? A oferta não vai durar pra sempre. - brinca.

- Tá bom, tá bom! - estendo minha mão e ele aperta. - Eu aceito ser sua amiga, Yann.

Eu aceito ser tudo que você quiser que eu seja, lindo.

- Muito bom te ter de volta. - ele sorri. - Até amanhã, Anny. - Ele se levanta indo em direção a saída.

Nem em um milhão de anos eu imaginaria que ele sentia minha falta, ou sequer pensava sobre aquele tempo.

Mesmo me vendo só com uma amiga, eu não podia deixar passar o fato de ele dizer que gostava de me ter por perto. Meu Deus, como era bom ouvir aquilo.

Mas no fundo eu sabia que tinha que me desfazer daqueles sentimentos, daquela paixão irracional. Eu não seria correspondida, então deveria me conter com a posição que me havia sido dada.

Me direciono a saída com um sorriso bobo no rosto.

Se contenha Anny, não é pra tanto.

Sinto meu corpo se chocar contra a parede e levo um tempo pra perceber que eu havia sido empurrada. Nem sequer precisava ver o rosto para saber quem havia sido o autor, ou melhor, a autora.

- Tá sorrindo muito, Delavast. O que você e o puto do Yann estavam conversando, hein? - Samanta e suas amigas me encurralam.

Tava tudo bem demais.

- Que eu saiba vocês terminaram. Já pode parar de dar uma de namorada psicopata. - respondo e sorrio falsamente.

- A próxima vez que eu te ver perto dele. - ela segura minha cabeça contra a parede. - Eu te mato. - ela me solta e se distancia.

Dessa vez eu me sentia nervosa por outro motivo. Eu sabia que Samanta não era doida o suficiente para de fato me matar - pelo menos assim eu esperava -, mas com certeza a minha amizade com Yann iria a incomodar. E incomodar muito.

As vantagens de ser invisívelOnde histórias criam vida. Descubra agora