Um grande choque

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A quarta feira passou rápido. No colégio, Miguel deu uma piscadinha pra mim como se quisesse dizer "te vejo daqui a pouco". Eu estava mais do que louca para descobrir o que ele iria dizer! Será que ia dizer que gostava de mim? Ou que tinha percebido que eu gostava dele? Será que não tinha nada a ver com isso? Bom, eu ainda teria que esperar um pouco para descobrir.

Fui depressa para a casa de Miguel, que me esperava com uma cara não muito feliz e um envelope na mão. Seria uma carta?
-Oi! Você não parece muito feliz.
-Anne, você precisa me escutar com atenção e prometer que não vai falar nada a ninguém. É um juramento, um juramento que não pode, jamais, ser desfeito.
-Eu juro, Miguel.
-Bom, deixa eu começar. Anne, te conheço há uns 12 anos, desde quando eramos pequenos, você sempre estudou na mesma sala que eu, até mesmo quando eu mudei de sala esse ano você mudou também, e eu sempre pensei como era sortudo por isso. - Corei - Você sempre foi divertida, alegre, tão feliz que me fazia ficar feliz. Seu sorriso é como um combustível pra mim, não funciono sem ele. - Então era isso que ele pensava do meu sorisso. - Sempre quis te dizer isso, mas nunca tive coragem e sempre escondi bem. - Realmente escondeu muito bem, eu nunca desconfiei.
-Miguel...eu...eu não sei bem o que dizer...
-Calma, Anne, preciso contar mais coisas. - Ele disse abrindo o envelope que segurava desde o início da nossa conversa. - Esse é o último exame que eu fiz. Você não é médica, mas pode perceber facilmente que estou muito doente. Leucemia é uma doença grave, já está em um estado avançado e eu não sei quanto tempo eu ainda teria para dizer que eu...eu, Miguel, amo você, Anne Gabriela. - Era pra eu ter saltado de de alegria. Mas como fazer isso sabendo que ele poderia partir a qualquer instante? Desabei em lágrimas. Não poderia suportar aquilo.
-Miguel - Disse ainda chorando - eu também sempre me senti sortuda por te conhecer. Sei que você espera mais do que isso como resposta, mas estou muito chocada para te dizer alguma coisa. Eu...tenho que...ir.
- Tudo bem, Anne. Compreendo. - Ele me deu um abraço e enxugou minhas lágrimas. - Te encontro amanhã na escola.

Seu abraço foi confortante, mas não cessou aquela dor. Aquela dor pela qual eu teria que enfrentar sozinha, não poderia contar com Ali, Leo e Isa. Não dessa vez. Tentei várias coisas para conseguir dormir, mas tudo foi em vão. Além de toda essa história do Miguel, outra pessoa não saia da minha cabeça, clamando por atenção: Luís.
Agora estava ainda mais difícil pra mim ter que escolher entre os dois. Miguel estava em vantagem, mas Luís já havia se tornado uma parte de quem eu sou. Todos os seus elogios direcionados a mim, tudo o que ele já havia feito, nada sairia da minha memória.

Mergulhando nos meus pensamentos, acabei adormecendo.

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