Tempestade Sangrenta.

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Capitulo 5

As ondas balançavam o casco da galé de um lado para o outro, fazendo com que o jovem Davi Freitas, no interior da embarcação, fosse lançado contra o casco. Do lado de fora, uma tempestade se formava, com as ondas ultrapassando o nível do convés e encharcando os marinheiros que tornavam a viagem naquela galé viável. No mastro central do convés, ensopado até os nervos com a pesada e gélida chuva que caia sobre si, estava Algaríon, furioso, olhando os homens trabalhar. Ele tinha guardado sua armadura pesada quando foi dormir, mas a tempestade o tinha acordado ao jogá-lo de sua rede ao chão molhado e sujo.

Agora, em uma plena madrugada tempestuosa, o jovem guarda procurava com os olhos ao longo do convés movimentado e alagado Abellar, o soldado mais velho ou a vadia Gallierd. Mas ambos não aparentavam ter dado o ar da graça numa confusão dos infernos como aquela.

Abellar! Abellar me responde caralho! — Gritava aos ventos, estes que assobiavam uma melodia de morte acima de sua cabeça sem elmo. — Abellar seu filho da puta desgraçado! Abellar!

Mas Abellar não veio, e dentre aqueles que trabalhavam, surgiu uma figura grotesca. Uma sombra emergida de algo que só poderia surgir de um pesadelo incestuoso. Um homem veio até Algaríon, vestindo nada além de uma tanga encardida e uma cimitarra embainhada presa ao pano que lhe cobria as partes íntimas. Esse homem era colossalmente alto, talvez passasse dos dois metros e vinte centímetros, coberto de tatuagens tribais assustadoras e revestido de cicatrizes de batalhas. Ele tinha grandes alargadores nas duas orelhas e olhos negros como um poço. E ao longo da cintura balançavam mais de cinco cabeças de mulheres belas.

Esse homem o olhou de cima a baixo, os cabelos lisos e negros caiam em um rabo-de-cavalo nas suas costas. Ele estendeu a sua colossal mão, que para Algaríon mais parecia uma chapa de ferro, e segurou seu braço direito, quase o erguendo com facilidade.

— Quem, pelos Sete Pais Malignos, é esse Abellar que você chama? — O homem falou para Algaríon, e o jovem guarda tremeu quando o ouviu. A possante voz de um demônio como aquele era tão potente que o fez tremer. — Me fale logo quem é esse homem!

Algaríon então aprumou sua postura, o temor inicial foi diminuindo e tornou-se abstrato. O jovem guarda segurou o pulso daquele brutamontes de alguma tribo esquisita vinda de lá do continente. Apertou o pulso do grandão e agradeceu a si mentalmente por estar usando pelo menos a cota de malha por baixo do gibão que usava.

— Tire essa sua mão de ogro de mim, sua besta. Não me toque. — Ao dizer isso, o homem/tribal olhou-o de maneira grave e dura, como se aquele grande rosto tivesse tornando-se pedra. Estava inexorável. — Leve-me até a vadia da Gallierd, sua capitã.

Assim que terminou de falar, o aperto do homem/tribal afrouxou, e ele lhe lançou um estranho sorriso. Algaríon tremeu diante daquilo. Aquele homem deu as costas para o jovem guarda e seguiu ao longo do convés, e assim ele o seguiu sentindo extrema dificuldade em se manter em pé, já que as ondas vorazes balançavam a galé com fortes pancadas e muita água estava inundando o convés.

Os dois seguiram até a outra extremidade da galé, onde dava para o quarto da capitã, e cravado na madeira acima da porta de manjerona estava:

APOSENTOS DE MIRRIELLY F. K. GALLIERD, CAPITÃ DO DESEJO DE DONZELA.

— Ela está aí dentro fodendo com o teu amigo guarda.

O homem/tribal falou logo sorrindo de maneira estranha. Ele estendeu a grande mão e bateu na madeira vermelha da porta algumas vezes, até que uma voz sobressaltada de mulher ecoou lá de dentro, massa graças ao barulho das ondas e da chuva fez ela parecer distante aos ouvidos de Algaríon. O brutamontes voltou a olhar o jovem guarda com aquele olhar duro e feições de pedra, e nesse instante um raio cruzou os céus acima da galé, caindo em meio as águas turbulentas do Mar Fechado.

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⏰ Última atualização: Jan 06 ⏰

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