Uma solidão estava cercando Davi Freitas de uma maneira tão temível, que o fez despertar das garras do desmaio pela dor que sentia, e o trouxe de volta ao mundo onde o mal estava o acometendo de todas as piores maneiras possíveis.
Freitas acordou e se deparou com um vulto negro na sua frente, de aspecto robusto e poderoso, com braços extremamente musculosos e pernas robustamente torneadas, semelhantes a tubos de bronze inteiriços. A volumosa pele de urso pardo decaia por cima de seus ombros largos e a cota de malha brilhava luzidia com as chamas das tochas presas nas paredes exteriores á aquela cela em que estavam.
Laxos Allperierry agachou-se perante Davi com um olhar intricado, e sua fragrância de vinho e cevada preencheu as narinas do mais novo, que sentindo-se extremamente intimidado com a presença do Demônio-da-Guerra ali, apenas curvou a cabeça e fitou as sandálias de couro do mesmo. O chão daquela cela era extremamente deplorável; foi o que Davi pensou tentando não pensar no que poderia acontecer consigo ali, até que sentiu dedos grossos e delicados se embrenharem em seus curtos fios de cabelo, e assim como se faz com um cão, aqueles dedos começaram a afagar o local com suavidade. O toque era tão delicado quanto um carinho amoroso deve ser, e isso naquelas situações era perturbador em níveis não naturais. Assim que a mão de Laxos alcançou as madeixas do Freitas, embrenhando-se ainda mais nelas com vontade, o mesmo se assustou e tentou afastar-se do toque do outro homem, mas foi aí que tudo mudou de maneira terrível.
Laxos sorriu com serenidade com aquilo, e enredando seus dedos de maneira agressiva naqueles fios castanhos, o homem puxou a cabeça de Davi para cima, fazendo-o olhá-lo face a face.
Os olhos de Davi encheram-se de lagrimas naquele instante em que fitava os olhos castanho/avermelhados de Laxos, que ao ver a reação do mais novo ali deu mais um suave riso contido, e sem nenhuma piedade, ele impulsionou a cabeça do Freitas contra o chão. Assim que o rosto de Davi se chocou com as pedras frias que serviam de tijolos mal cortados, a primeira coisa que sentiu foi uma explosão de dor no seu nariz, e começou a se lamuriar ainda mais assim ele notou que o mesmo tinha sido quebrado com a pancada.
— Você fez uma coisa que não devia ter feito horas mais cedo, copeiro... — A voz do comandante dos exércitos das Ilhas de Kartallinn era suave e doce, como se estivesse coberta de boas intensões e fortes paixões. Enquanto ele falava dessa maneira acolhedora, a sua pesada mão sem luvas de ferro continuava a pressionar o rosto de Davi contra o chão, e isso fazia com que alguns pequenos estalos de ossos sendo fendidos ainda fossem ouvidos em meio aos prantos dele. — Você na verdade fez duas coisas que não deveria, copeiro. A primeira, você foi um tolo de se deixar embriagar e derrubar a taça do Nosso Lorde Slavh. — Enquanto falava isso, Laxos ergueu o rosto de Davi e o largou, o que resultou no mesmo se encolhendo no chão sujo com as mãos na fronte enquanto uma pequena poça de sangue já estava se formando ali no local da pancada. — E a Segunda foi ter achado que poderia me seduzir daquela maneira e que nada iria acontecer com você, seu verme imundo!
Dito isto, o Demônio-da-Guerra ficou ereto perante Freitas, pegou um certo impulso, e chutou com bota de aço o rosto protegido de Davi, e a pancada foi tão potente que a cabeça do mais novo foi arremessada para trás e a ponta da bota de metal rasgou uma fenda profunda nas costas da mão esquerda do mais novo, fazendo-o assim uma cascata de sangue irromper do rasgo e derramar-se pelo chão sujo. Freitas estava tentando ao máximo não gritar, e nem mesmo quando recebeu o chute deixou sair algum som além do espanto repentino do golpe, mas apesar disso ele mordeu a própria língua com tanta forçar que rasgou a ponta dela e agora sangue também jorra por entre seus dentes. Laxos ao contemplar tal cena, talvez movido por algum sentimento passado antigo vindo de quando liderou as tropas das Ilhas de Kartallinn pelas fozes do rio Týr em uma investida contra os exércitos de feiticeiros necromantes do Reino ao norte de Allathár, dez invernos antes, no tempo em que ainda possuía o seu pé esquerdo inteiro. Ver Davi naquela situação deplorável o fez recuar dois passos para trás e estender a mão na direção do mais novo ali largado e sangrando.
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Sempre Vale a Pena Viver.
Hayran KurguNas Ilhas de Kartallynn, o jovem Davi Freitas é copeiro do Lorde do reino, e após ser exilado pelos crimes de afronta, vai acabar se encontrando com uma estranha Entidade que lhe ajudará, e acima de tudo, dará um sentido a vida de Davi através do am...