Acontece...

Um bilhete?

O som do relógio digital ecoava no silêncio da sala de aula. Os alunos estavam imersos em suas tarefas, mas Ariana sentia um peso no ar. A cada folha virada, as perguntas sobre Vivian se acumulavam, mas ela não podia se dar ao luxo de pensar demais. Não aqui, não agora. A EAPeC não permitia distrações.

Enquanto resolvia os problemas de contabilidade, uma sensação estranha se instalava em seu peito, como se alguém a observasse. Ela tentou ignorar. “São só os nervos”, pensou. Mas a sensação não passava. No canto do olho, ela viu Léo olhando em sua direção. Ele estava mais distante do que nunca, mas ainda assim seus olhos pareciam seguir cada movimento dela.

Ariana se forçou a concentrar na prova. Mas algo estranho aconteceu. Uma folha da pilha caiu, deslizando até seu lado. Ela a pegou automaticamente, mas ao olhar o conteúdo, seus olhos se arregalaram. Não era parte da prova.

Era um bilhete.

“Você sabe o que aconteceu com Vivian. Não tente esconder a verdade.”

O sangue de Ariana congelou. A caligrafia era familiar, mas ela não conseguia associá-la a ninguém da sala. Seu corpo se enrijeceu, mas ela ainda teve o impulso de olhar para os outros. Ninguém parecia perceber o que acontecera. Léo continuava a olhar, mas agora seu olhar estava mais intenso, quase inquietante.

Ariana segurou o bilhete com força, tentando esconder a tensão que o consumia. Mas algo a impedia de guardá-lo. O que ele significava? Quem o deixou ali? E, mais importante, o que Vivian teria a ver com tudo isso?

O relógio tocou, indicando o fim da prova. Mas para Ariana, nada parecia mais importante do que aquela folha. Com cuidado, a escondeu no bolso da calça. O que quer que fosse, ela precisava saber mais.

Quando ela saiu da sala, o corredor estava vazio. As paredes da escola pareciam sempre mais frias, como se quisessem engolir os alunos em seu silêncio. Mas Ariana não parou. Ela se dirigiu para o pátio, onde o vento carregava o cheiro da chuva que se aproximava.

Foi ali, em um canto afastado, que encontrou o próximo sinal: uma folha de papel amassada. Ao desamassá-la, o que encontrou a fez quase cair. O conteúdo estava parcialmente apagado, mas a última palavra estava clara: “Dono”.

Ariana sentiu uma onda de frio percorrer sua espinha. Era o nome que ela ouvira em sua infância, nas histórias sombrias. Mas por que agora, quando tudo parecia normal, essa palavra estava surgindo em seu caminho? Quem mais sabia? E, mais uma vez, ela se questionou: o que havia acontecido com Vivian?

O silêncio foi quebrado por passos atrás dela. Ariana se virou, o coração disparado. Lá estava Léo, parado um pouco distante, seu olhar fixo nela, como se tivesse a observado por todo o tempo. Ele não disse nada. Apenas se aproximou com a mesma calma silenciosa que sempre o acompanhava, seus olhos traçando cada movimento seu.

Ariana hesitou, sentindo a necessidade de contar a ele, de dividir o peso dos segredos que ela carregava. Mas algo a impediu de falar. Léo não era de muitas palavras, mas algo em seu comportamento — sua postura, seus olhos, como se soubesse o que ela estava pensando — fez com que ela guardasse tudo para si. Ele não parecia querer perguntas ou respostas. Ele parecia apenas... observar.

Sem dizer uma palavra, Léo passou por ela e se afastou. Ariana ficou ali, com o bilhete ainda em seu bolso, sentindo que o vazio ao redor dela se aprofundava, como se mais uma peça tivesse se encaixado no enigma, mas ainda restassem muitos outros mistérios a serem resolvidos.