Um mergulho de Cabeça no Caos

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Avenida Christiano Machado.19:30. Duas Hilux bem usadas, e um Vectra, completamente cheios de passageiros, munição e armas, em direção à um embate certo contra um Mahoul, e incerto contra um grupo de Paladinos.

Isaac não podia estar mais calmo.

-Calmo?? –disse Vanessa- como você pode estar calmo numa situação dessas!?

-Desespero não vai adiantar nada –disse Isaac- tô com medo, mas nervoso eu não vou ficar, ou todos vamos morrer lá.

-Novato, não vem me dar lição –rebateu Vanessa- é a minha sétima caçada, já vi tudo de perto.

-Ta legal, Srta. Sabichona –disse Isaac- vamos ver o que acontece hoje então.

Os carros continuam, até atingirem o anel rodoviário, e depois do CTE, chegam à um galpão abandonado muito grande, bem maior do que um campo de futebol.

Assim que os quinze Renegados saem dos carros, um homem alto, moreno, de expressão altiva e sem um único pelo na cabeça, disse, com uma voz que transmitia comando:

-Bom, meu nome é Hector, eu e o Victor aqui –disse, apontando para o amigo/mestre de Isaac- estamos por conta da operação de hoje. Vamos nos dividir em cinco equipes de três, quatro delas cobrindo os quatro setores no chão, e uma no teto, enquanto os Paladinos não chegam, pois soubemos por fonte confiável que eles trarão o Mahoul para esse galpão hoje, e montarão a armadilha para destruí-lo aqui. Não sabemos quantos Paladinos são. Não sabemos quanto armamento eles trazem. Não sabemos qual esquadrão vai vir, pode ser um que tem uma hostilidade maior conosco. Mantenham oculta a presença de vocês, até sabermos quando atacar, e se devemos atacar, pois pode ser que eles nem precisem de nossa ajuda –e, olhando para Victor continuou- esqueci alguma coisa?

-Se virem a líder da divisão Paladina, fujam, ela não nos suporta –disse Victor, e resmungando "xenófoba inútil", continuou – se virem um dos lordes Mahouls, apesar de que temos quase certeza de que nenhum deles está aqui na cidade, fujam. Não importa quantos estão com vocês. Não importa quanto e qual armamento vocês estão usando. Não importa qual habilidade vocês tem. –falou isso olhando diretamente para Isaac- eles são Mahouls que estão vivos há centenas de anos, e já derrotaram divisões Paladinas e Renegadas inteiras, muito maiores do que a nossa –olhando o rosto assustado dos outros Renegados, continuou- dizem que é preciso um exército inteiro para derrotar um único deles.

-Então... –disse Isaac, o primeiro que conseguiu retomar a voz depois daquele discurso- quais serão os times?

-Já estão definidos –disse Victor- você e Vanessa vem comigo, ficamos por conta do setor 3.

***

Duas horas depois, Isaac, Vanessa e Victor estavam patrulhando o que Victor chamava de "setor 3", que não passava de um pedaço do galpão, delimitado por duas vigas, com uma distância que muito bem poderia caber um campo de futebol entre elas.

-isso tá ficando chato –reclamou Vanessa- não vai acontecer nada hoje não!?

-É, tá meio parado mesmo –disse Victor- Já era pra eles terem –e quando disse isso, seu celular mostrou o alerta de mensagem, Victor nem olhou para ver o que era e disse, em tom sério- Eles chegaram. Vamos nos esconder atrás daquelas caixas ali, que os outros times também vão fazer o mesmo.

O time de Victor se escondeu, e os outros fizeram o mesmo.

30 segundos se passaram em um silêncio intransponível, até que uma figura enorme arrebentou as paredes entre os setores 3 e 4, ou seja, o fundo do galpão, e quando Isaac pôde ver, tinha uma criatura de pelo menos 3 metros e meio, humanoide, que na cabeça tinha um único olho completamente negro, e uma boca, tinha seis braços ligados ao tronco bem no meio da enorme estrutura.

Foi quando as luzes apagaram e os Paladinos entraram para matar.

Victor pegou o celular e começou a digitar.

-O que você tá fazendo? –perguntou Isaac.

-Tá vendo como os Paladinos mantem a luta no centro? –respondeu Victor- eles sabem que estamos aqui. E se sairmos dos esconderijos agora, eles não vão achar que é ajuda.

Isaac contou 23 Paladinos, alguns usando pistolas, outros usando rifles, outros usando espadas, facas, lanças, e até o que parecia ser uma menina, que estava tentando acertar ele com agulhas.

10 minutos se passaram nessa batalha, e os Paladinos pareciam estar tomando o controle da situação... quando mais dois Mahouls quebram as paredes laterais e entram, um, parecendo um cavalo do tamanho de um micro-ônibus e o outro parecendo um ogro, e logo em seguida, a voz de Hector ressoa por toda a estrutura:

-AGORA!!!

E Isaac e seus companheiros entram no caos que a batalha se tornou, com balas voando para todo lado, lanças e espadas contra patas e garras, num vendaval que poucos entendiam o que estava acontecendo.

-Isso aqui tá uma confusão! –gritou Isaac para Vanessa- preciso recarregar! Vou lá fora.

-Tudo bem! –responde Vanessa.

Isaac corre em direção ao portão da frente, onde as munições dos Renegados estão escondidas atrás de alguns caixotes.

Passando pela porta, ele pra para respirar, e quando olha para o lado, vê duas Paladinas, uma de cabelo preto, rosto com algumas sardas, deitada no colo de uma outra Paladina, com o capuz encobrindo o rosto. O primeiro instinto de Isaac foi sacar a sua espada, e encostar no pescoço da de capuz.

-Por favor... não.... Ela... é minha irmã –disse a de capuz, com uma voz muito familiar- pode me matar... mas deixa ela ir... por favor... ela não aguenta mais nem se mexer –terminou, chorando.

-Eu nunca seria capaz de encostar um dedo em você, Soph –disse Isaac, recolhendo a espada.

-Isaac... eu não acredito –disse Sophia, mostrando o lindo rosto, agora com uma mistura de confusão e medo- você é um Renegado? Os Renegados são do mal!

-Não! Não somos! –disse Isaac, enérgico, e ao ver que ela se levantava, perguntou –você tá bem?

-Só um pouco cansada –disse Sophia, ainda com dúvida no rosto- quando você virou Renegado? Como?

-Essa é minha primeira missão de caça –respondeu Isaac- como, isso já é uma longa história.

-Se afaste da minha irmã!!! –disse a menina que estava desmaiada alguns minutos antes, apontando uma pistola para Isaac.

-Calma, Let, ele é do bem, é da minha escola –respondeu Sophia.

-Calma nada! –respondeu Let- ele é do mal! Você não vê o que a mãe fala?? Os Renegados são sujos, são do mal!!

-Ele é diferente! –rebateu Sophia.

-É nada! Vou matar esse Rene-

E sua frase furiosa foi interrompida por uma mão saindo de seu peito, uma mão negra.

-LETÍCIA!!! NÃO!! –berrou Sophia.

Quando Letícia caiu, já sem vida no chão, o humanoide que estava por trás dela tinha o corpo igual ao de um humano comum, só que totalmente coberto por um tipo de crosta, e no peito, a crosta tinha rachaduras em forma de uma rosa.

Sophia apenas desmaiou frente a imagem de sua irmã morta, e Isaac sabia que teria que fazer o impossível para sobreviver a aquilo.

Então, sentiu as munições de Neith no esconderijo, e imaginou com toda a sua força, uma jaula em volta daquele Mahoul, que estava sorrindo psicóticamente para eles, uma expressão que Isaac nunca tinha visto.

O metal negro começou a cruzar o ar, e em alguns segundos formou uma jaula enterrada na terra em volta do Mahoul, que não fez nada para tentar impedir.

Assim que a jaula se solidificou, Isaac pegou Sophia no colo, e correu, correu, correu, o mais rápido que pôde, para longe daquele monstro.

Diário de um Renegado:A rosa dos DesafortunadosOnde histórias criam vida. Descubra agora