Instinto

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Não, não era possível isso ser verdade. Se o existisse eu com certeza acreditaria que ele estava brincando (e muito) comigo.
-Amiga, aquele era o Allan. - eu disse ainda um pouco atordoada.
- Sério? Aquele? Ele mora no andar de cima, e se você estiver pensando em trocar o João por ele eu vou te bater muito forte na cabeça até você largar essa ideia!
- Credo Kitty, sua psicopata. O que será que vi nele? Devem ter sido os olhos azuis, você sabe que eu não resisto a um par de olhos claros. -eu disse me referindo ao meu ex, que tinha os olhos cor de mel com toques de verde.
- Olhos verdes também são claros.
- Cala a boca. -respondi, rindo.
Passei o dia na casa dela e depois peguei um ônibus, tomando cuidado para não esbarrar em ninguém na saída, especialmente esbarrar em alguém em especial. Fui para casa pensando nas vezes que trombei nele e como ele parecia forte, lembrei dos braços dele em volta da minha cintura impedindo-me de cair. Cheguei em casa e afastei esses pensamentos de mim, pelo menos tentei. Em casa estava tudo escuro e quando subi vi a luz do quarto de Henrique acesa, ele apareceu na porta todo arrumado.
- Lana, oi! Eu já estou quase pronto e logo estou indo para uma festa do pessoal da república. O pai voltou hoje mas ele e a mãe tiveram que ir às pressas para a casa da tia Rosa no interior pois ela está doente. Acho que eles vão passar um bom tempo lá. Você não liga de ficar sozinha essa noite, né?
- Nossa, coitada da tia, amanhã ligo lá para saber de tudo certinho. Não ligo de ficar sozinha não, pode ir. -disse isso e entrei no meu quarto, eu precisava de um banho urgente, quente e longo. Quando saí do banho ouvi alguém na porta, me vesti correndo, coloquei um shortinho e uma camiseta, fui sem sutiã mesmo, depois eu me vestia direito. Mas quando abri a porta e o olhar de Allan caiu sobre mim fiquei petrificada.
- O-oi Lana, seu irmão está? -ele disse um pouco desconcertado.
- Não, ele saiu para uma festa agora há pouco. -respondi muito tímida
- Que pena, vim entregar as fotos dele.
- As do seu trabalho? Posso ver?
- Claro!
- Pode entrar.
Ele entrou e fomos para o sofá. Enquanto olhava as fotos senti seu olhar em mim, resolvi falar algo para distrair um pouco.
- Você é muito bom! Meu irmão até parece que é bonito nessas fotos.
- Ele é um bom modelo, mas não tão bom como eu sei que certo alguém seria.
- Ah é?! Quem?
Ele olhou para mim, aqueles olhos azuis me encarando era tentação demais. E ainda estava me olhando quando disse:
- Você.
Olhei para ele na hora, bem a tempo de ele praticamente voar em cima de mim. Ficamos ali, quase deitados no sofá, tão próximos que eu podia sentir seu hálito no meu. Então ele se aproximou mais, colando nossos lábios. Sim, eu estava beijando um cara que conheci há quase dois dias e eu não estava nem aí. Apenas me entreguei àquele beijo, talvez por instinto e, naquele momento, eu estava amando esse instinto. Ele percebeu e me apertou. Céus, eu estava certa, ele era forte, e sua boca era macia e suave como eu pensava que fosse. Mas de suave, o beijo passou para algo mais intenso e nesse momento tomei consciência que estava sozinha em casa, deitada no sofá beijando um cara praticamente desconhecido e ainda estava sem sutiã! Isso fez com que eu me afastasse dele, talvez fosse o instinto de novo e agora eu estava odiando esse instinto. Ainda ofegante ele me olhou e não tinha como eu não olhar para aqueles olhos azuis que para mim, tinha um brilho a mais. Não tinha como não olhar, algo me puxava, me atraía, e eu, idiota, involuntariamente me deixava ser atraída. Ele abriu a boca para falar algo, mas eu já não estava mais pensando racionalmente, e para falar a verdade eu nem queria pensar, eu só me atirei em seus braços e esqueci de quem eu era, esqueci que ele era quase um estranho, esqueci que estávamos sozinhos, quer dizer, dessa parte eu lembrei. Continuamos nos beijando até alguém ligar para ele, quando ele tirou o celular do bolso eu vi quem era e claro que não podia ser outra pessoa. João. Claro que era João, eu já estava me acostumando com a vida brincando comigo, acho q ela estava brincando de bobinho, e adivinha quem era o bobo da brincadeira. Exatamente, eu, pra variar né. Alam atendeu o celular e quando desligou e olhou para mim notou minha mudança no humor, eu acho que estava me sentindo culpada, afinal eu tinha beijado João e mesmo que não tivéssemos nada serio me senti como se estivesse o traindo. Eu falei para Allan que não estava muito bem e ele foi embora, não sem antes me dar um último beijo. Meu Deus como eu não queria parar de beijá-lo, tinha algo especial em seu beijo que eu não senti nem quando finalmente fiquei com minha ex paixão platônica. Eu mal conhecia Allan e ele já estava em meus pensamentos, ok Alana, hora de voltar para o mundo real. Mas eu não conseguia e não sei se queria abandonar essa ilusão. Resolvi pegar meu celular para ligar para Kitty mas assim que o peguei vi que tinha uma mensagem de João: "preciso falar com você" fiquei nervosa na hora: "pode falar" e a resposta dele me faria cair no chão se eu já não estivesse sentada "posso ir na sua casa agora? Não estou mais aguentando". Ok, seja quem for que está brincando comigo, para, já chega, passou do limite. Será que alguém fez macumba para mim? Mas eu não sou popular e mal acho que alguém me odeie, a não ser a minha querida vizinha, mas não foi ela, essa é uma macumba bem feita e aquela sonsa não faz nada direito. Fiquei pensando e me esqueci de responder João, então fiz a pior escolha da minha vida: "pode sim! Não tem ninguém aqui", assim que a mensagem foi enviada ouvi alguém na porta.
- Oi Lana, me desculpa vir aqui essa hora- João disse parecendo um pouco nervoso.
- Oi João, imagina, deve ser importante o que você queria me dizer. -minha tentativa de soar calma não funcionou.
- Eu vou falar tudo de uma vez, assim eu não perco a coragem pode ser?
- Claro, senta aqui no sof...- eu comecei mas quando me lembrei de Allan me beijando ali no sofá mudei de ideia na hora. -vamos na cozinha, acho que é melhor, a gente conversa comendo algo.
Fomos para a cozinha e ele se sentou e ficou encarando o balcão.
- Algum problema?
- Sim. -ele falou finalmente olhando para mim, mas eu preferia quando ele encarava o balcão, agora parecia que ele poderia ler minha mente.
- Qual?
- Você.
- Eu? O que eu fiz? - eu disse já pensando em Allan, ele não podia ter descoberto sobre eu e ele, ou poderia?
- Você? Você simplesmente foi à minha carteira no primeiro dia que eu fui à aula e virou minha vida de cabeça para baixo! Você simplesmente me emprestou seu caderno e foi à minha casa várias vezes para me ajudar. Você simplesmente sorri como se esse seu sorriso não mudasse totalmente o meu dia. Você simplesmente passa pelos lugares como se não deixasse um rastro que deixa tudo mais vivo. Você simplesmente me deixou inebriado é viciado com apenas um beijo. Você simplesmente me fez ficar apaixonado por você. - ele realmente disse tudo de uma vez e eu fiquei paralisada. João estava apaixonado por mim, eu fiquei sem palavras, abri e fechei a boca várias vezes mas nada saía. O que eu faria agora? Eu não queria ferir seus sentimentos mas seria pior se eu o iludisse. Eu não sentia o mesmo por ele, mas não tinha coragem de falar. Covarde. Não sei se fiquei muito tempo sem dizer nada, acho que sim porque ouvi:
- Desculpa, eu sou um idiota, não devia ter dito nada disso. -dizendo isso saiu. Eu ia gritar para ele ficar mas o que eu diria? Então o deixei ir e liguei para Kitty na hora.
- Kitty! Me ajuda por favor.
- Credo amiga, parece que viu fantasma.
- Antes fosse...
- Desembucha, sua psicóloga está aqui e é toda ouvidos.
- João está apaixonado por mim, ele veio aqui e me disse coisas lindas.
- Ai. Meu. Deus. E por que você está pedindo ajuda? Desaprendeu a beijar ou quer dicas de outras coisas mais?
- Não é isso, é que eu não sinto o mesmo e além disso...
- Além disso?
- Eu beijei o Allan e foi o melhor beijo de todos, era como se tudo estivesse certo, tudo em seu lugar.
- Caraca Lana, você encanou nesse Allan hein! Deus me livre.
- Eu não sei o que aconteceu, não consigo explicar.
- Ta, então se decide porque a única que pode ser bígama aqui sou eu. Aliás o Carlos está me esperando, beijos e se decida logo antes que um dos dois descubra.
- Ok, vai lá com o Carlos. Beijos e vira essa boca para lá.
Terminei a ligação e notei que nunca tinha reparado nisso, os dois eram amigos! João poderia contar para Allan sobre "nós". Fiquei aterrorizada e sem pensar já estava ligando para Allan.
- Lana? Já deu saudade?
- Besta, eu só liguei para perguntar algo.
- Ah, então pergunta.
- João te disse algo sobre mim?
Ele deve ter percebido minha tensão e depois de uma pausa, falou:
- Sim, ele me fala de você desde que começou a ir àquela escola. Eu sei de tudo.
- Ei! Você me beijou sabendo de tudo? Que belo amigo você é, hein!?
- Lana, escuta. Eu sabia que seu irmão não estaria em casa essa noite, sabia que seus pais também não estariam. O trabalho nem está pronto, aquelas são algumas fotos que serviram de teste. Eu não sei que droga está acontecendo comigo, só sei que algo me puxa até você. Uma parte de mim ama isso, mas aparte racional e amiga do João odeia! Acontece que eu sempre caio na tentação, sempre estou com você, se não fisicamente, sempre estou pensando em você e isso nunca aconteceu comigo antes. Você mexe comigo e não faz nem uma semana que te conheço!
Ótimo, mais uma vez fiquei sem o que falar, então decidi falar a verdade.
- Allan -depois de uma longa pausa, continuei- Eu... Eu sinto o mesmo! Sinto que estamos ligado, sinto que tem algo querendo nos juntar porque parece que tudo me leva até você e eu estou ficando louca com isso!
Uau! Parece que tirei um peso gigantesco de minhas costas! Que alívio.
- Você está me deixando louco!
- Allan?
- Oi?
- E o João?
- Lana, fica calma, eu acho que não quero me envolver com ninguém muito a sério, pelo menos não agora. Não magoa o coração do João, eu me preocupo com ele. Que tal se a gente deixar rolar só?
- Deixar rolar?
- É, eu gosto das coisas mais leves, sem muito compromisso. Entende?
- Ok, vamos "deixar rolar". Tchau.
- Tchau Lana, beijo.
Deixar rolar? DEIXAR ROLAR? Por que meu coração não se apaixonava pelo lindo e fofo do João? Não, claro que não! O coração é meu, óbvio que ele tem que gostar da pessoa errada.

Nota da autora <3
Ooi! Bom, é a primeira vez que eu to falando com vocês e, bom, eu queria agradecer pelas 110 visualizações no meu livro <3, pode parecer um número pequeno mas é muito importante para mim!! Muito obrigada <3
Um obrigada especial para os meia amigos que estão me apoiando, Bia, Dan, Tha e Maria amo vcs :3

POR ACASO?Onde histórias criam vida. Descubra agora