Os Filhos da Lua: O pacto (Livro 1) | BL

Treinamentos

Incomumente, a casa estava silenciosa. Apenas dois dos Swiftwater se encontravam ali, porém em cômodos separados por um silêncio desconfortável que dominava. Talissa se aproximou sorrateiramente da porta do quarto onde Tayen folheava um livro antigo, sentado em sua cama.

— Estão te esperando. Por que ainda não foi? — Questionou o rapaz com olhos ainda fixos nas folhas e com tamanha seriedade que fez a irmã duvidar se continuaria a conversa.

— Você não vai?

— Eu não perderia isso por nada. Já foi triste o suficiente não ter visto o lobo de Kato.

Sua resposta foi o convite silencioso para que ela se aproximasse. Em passos ritmados e serenos, Talissa se aproximou do mais velho, permitindo-se uma visão mais íntima do livro que monopolizava sua atenção. Linhagem Lupina, era o nome. Talissa conhecia aquele livro, assim como todas as crianças de Red Illinor deveriam conhecer. No entanto, para aqueles menos familiarizados com a complexidade de sua linhagem, a leitura se tornava uma jornada árdua. Ela própria havia tentado decifrar suas páginas intrincadas, mas havia alcançado apenas duzentas das quinhentas páginas que compunham sua extensão.

— Por que está lendo novamente este livro?

— Talvez eu tenha deixado passar alguma coisa sobre os lobos adormecidos. Genética, magia, prata... alguma coisa.

— Você não é...

— Sou sim, Talissa! — disse com a rispidez predominando sua voz enquanto fechava o livro em um só movimento que quase o fez cair. — De acordo com a tradição, após Kato seria eu. Logo depois, viria você e em seguida os gêmeos.

— Me desculpe... — a voz trêmula da garota quase não fora ouvida.

Com hesitação, ela levou sua mão leve para o ombro do irmão que massageava sua têmpora. O corpo tenso de Tayen estremeceu ao toque e apenas assim ele notou sua aspereza, então logo voltou a respirar fundo para trazer a calmaria de volta.

— Você não precisa... Não se desculpe. Nunca se desculpe por ser quem você é.

Puxando o ar em meio à sua angústia, se levantou para que assim pudesse abraçar a irmã. Foi um ato reconfortante que a envolveu em aconchego, porém que rápido teve fim, já que toda a família os esperava longe dali.

No caminho até o destino, o rapaz fez questão de se mostrar mais dócil para convencer Talissa de que ele não guardava nenhum rancor. No entanto, em seu interior já se instalava uma extrema decepção consigo mesmo, pois tinha certeza que sua família não contaria mais com seu nome para ajudá-los a sair dos olhares preconceituosos de alguns membros da alcateia. Dois lobos adormecidos de uma mesma família seriam demais para os outros aguentarem.

Independente disso, estava convencido de que seu lobo viria, de um jeito ou de outro. O rapaz forçaria a magia vir à tona através de qualquer meio que fosse necessário.

Os planos mirabolantes que bolava foram cessados quando chegaram ao local que Aric havia os chamados. Todos estavam reunidos na Floresta Sapphire, aquela que trazia sempre fortes emoções para o vampiro.

— Como se chama mesmo? — Perguntou Aric em tom discreto à garota ao lado. O vampiro aproveitava a distância da mais nova lupina para fazer tais questionamentos que sua mente insistia em martelar. Tentava se mostrar neutro ao lado da desconhecida, afinal, Talissa tinha um afeto profundo em cima da mundana.

— Arizona. Arizona O'connell. — respondeu com desconfiança, no entanto, ainda mantendo os olhos fixos com a alegria de ver Talissa se aproximar ao meio da neve fina que caía e se destacava em seus longos cabelos pretos trançados.