Capítulo 35

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Maven Dawson

Si kodo vaj khanci.

Na minha língua, no romani, quer dizer "é isso ou nada". A frase que nossa mãe nos dizia quando ainda éramos amigos, quando ela ainda era viva. Foi com ela que eu aprendi isso e outras coisas ciganas.

Ele falou de uma forma que parecia ser fácil fazer o que eles queriam. Não, o que eles precisavam.

Não sei se quero rir da situação ridícula que a ruiva se encontrava, ou se eu grito para tentar mostrar para Matteo que eu ainda estou internado, ou, na melhor das opções, apenas ignoro minhas emoções e a grande vontade - quase incontrolável, posso dizer - de fumar um cigarro e esquecer que existo, que Matteo existe, que Eleanor Quinn e o pai cuzão dela existem.

Não quero ajudá-la, mas algo no fundo do meu âmago me fez, me obrigou, a dizer "tudo bem". Mas não está nada bem, não mesmo, toda essa situação está longe de estar bem.

Mas fazer o quê, si kodo vaj khanci, né?

Cacete.

Puta que pariu.

Si kodo vaj khanci é o meu caralho. Como que eles têm a brilhante ideia de colocar toda essa responsabilidade em minhas mãos, como se eu tivesse algo a ver com tudo isso. Acho que é esse o problema; não estar envolvido e ser colocado no olho do furacão para resolvê-lo, para acalmá-lo, para pará-lo sem nem sequer tê-lo criado, como se fosse a coisa mais fácil do mundo e, no final, ainda receber apenas um "obrigado".

Será que ainda não está óbvio o suficiente para eles? Ou será que eu que não demonstrei direito? Porque, sinceramente, eu sou a última pessoa que eles deveriam pedir ajuda.

Só percebi que apertava tão forte minha mão quando a senti dormente, com os dedos ao redor do lençol da cama completamente brancos de tanta força.

A enfermeira que sempre aparece para me checar após os benditos visitantes irem embora passou pela porta com um sorriso que parecia dizer: "Dia difícil?"

Não era a enfermeira tímida que costumava vir, não, essa parecia ser bem confiante. Porém, ambas eram idênticas; olhos cor de âmbar, rosto fino, pele pálida e cabelos claros. A diferença, além da personalidade, é que essa tem o cabelo longo que, mesmo preso no rabo de cavalo, continuava grande.

— Receberá alta hoje, senhor Dawson. Antes, tenho que chegar algumas coisas, está bem? - como se eu tivesse escolha de negar.

-— Mas já? Pensei que ficaria três semanas aqui.

— Todos nós pensamos isso, mas, por sorte, uma semana foi suficiente para você. Não estava tão grave quanto seu irmão quando chegou aqui.

Com uma prancheta em uma mão e uma caneta na outra, veio até mim em passos curtos e rápidos.

— Como se sente?

— Bem, eu acho.

— Não teve febre, pressão está normal, batimentos corretos... Por acaso sentiu náuseas?

— Não, senhora.

Anotou algo na prancheta após minha resposta.

— Suas queimaduras estão cicatrizadas, devo dizer que fico feliz com isso, já que a maioria costuma coçá-las. Teve alguma dor diferentes das de antes?

— Não.

— Passou por estresse durante sua estadia aqui?

Não pude evitar uma risada, o que a fez levantar uma sobrancelha, séria.

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