Eleanor Quinn
Ele conseguiu.
Não que eu duvidasse disso, mas, caramba, toda vez era um choque vê-lo vencer, mesmo que isso já era frequente para ele.
Tinha me esquecido do quão incrível era assistir corridas assim, mesmo que a última tenha sido há poucos dias quando os Dawson se acidentaram. Senti falta disso, devo dizer, embora a situação atual não seja lá das melhores, isso me deixou animada.
Soltei um suspiro que mal percebi que estava prendendo, o alívio disseminando sob minha pele fria por conta ar gélido da noite, mas com uma fina camada de suor por conta do nervosismo, afinal, era minha vida que estava em jogo.
Matteo nunca admitiria, mas vi seu sorriso aliviado ao ver o irmão ganhar.
Talvez eu também nunca admitiria que queria correr com Maven de novo, que queria sentir os olhos dele sobre mim enquanto faço as manobras quase sem pensar.
Ambos os carros pararam e Elliot parecia estar prestes a surtar.
Maven saiu do carro, um sorriso maroto pendurado nos lábios. Seu cabelo estava bagunçado pelo vento, e senti meus dedos formigarem, pedindo para tocá-los mais uma vez.
Não.
Não posso.
Eu o odeio por tudo o que ele me fez.
Aquele dia acabou com a minha vida e, quando finalmente me senti feliz de novo, lá estava ele para arruinar tudo mais uma vez. Mesmo que ele tenha acabado de salvar a minha vida hoje, nada anula o nosso passado.
- Seu filho da puta! - ergui meu olhar novamente, vendo Elliot bater sair do carro e bater a porta fortemente, indo em direção ao Maven.
Não posso dizer que não esperava isso quando era meio óbvio. Acho que Graves consegue ser ainda mais temperamental que Matteo quando ele era adolescente e vivia brigando com o irmão.
Maven mal lhe dá atenção, deixando-o atrás de si, vindo até mim. Ou até Matteo ou Will, não tenho certeza do seu alvo, mas, mesmo que ele não estivesse caminhando até mim, fico nervosa. Esse é o efeito que ele tem sobre mim desde que nos conhecemos e, conquanto os anos se passaram, meu corpo ainda reage como se ainda fôssemos adolescentes naquela biblioteca, antes de todo o incêndio.
Seus lábios se abrem para dizer algo ao parar na frente do irmão, um pouco distante de mim, mas um tiro foi-se ouvido.
Todos se abaixam, alguns correm e outros, como eu, são puxados para o chão.
Corro meus olhos pelo lugar, mas não foi difícil achar a arma nas mãos de Elliot, agora apontada para baixo. Seu olhar cava um buraco no meu, descendo para alguma parte do meu corpo que não consegui olhar pelo medo. E então ele volta para o carro, saindo tão rápido quanto ao súbito tiro.
Ele atirou em alguém?
Deixo que meu corpo relaxe no chão e finalmente percebo que estou tremendo. O susto, o barulho, o medo... Tudo tão rápido e de repente para tentar entender.
As estrelas no céu acima de mim começam a se misturar quando olho para elas, o fundo escuro da noite borrando tudo de uma vez. A imagem começa a se mexer cada vez mais lento, formando borrões que se aproximam de mim conforme se juntam.
Estou alucinando?
Tendo me levantar do chão, mas meu corpo está preso no concreto, sem querer fazer a minha vontade de sair daqui o mais rápido possível.
Meus olhos se fecham, mesmo que eu não queira. As vozes, os gritos ao fundo vão se afastando, como se eu não estivesse ali.
O que diabos está acontecendo?
— Jeli... - queria poder responder, pedir ajuda, mas nada aconteceu. — Jeli, abra os olhos... Fique acordada, fique comigo.
Era como se eu estivesse anestesiada, sem sentir meu próprio corpo, afastando-me da realidade.
Eu estou morrendo? Isso é a morte? Esta é a sensação?
— A ambulância já está vindo. — Outra voz, abafada, longe de mim.
Vamos, Eleanor, abra seus malditos olhos! Por que eu não consigo abri-los? Mova-se, garota, faça alguma coisa! Grite!
Mas nada acontece, nenhum mísero movimento.
Diziam-me que a morte era rápida e fácil, tão simples que fazia a vida parecer um monstro de sete cabeças. Mas tudo o que eu sinto é medo e, mais do que nunca, vontade de viver. Há tantas coisas que quero fazer, tantos lugares que quero ir e tantas, mas tantas coisas que preciso dizer. Não posso morrer agora com tudo isso entalado em mim, preso a sete chaves na minha alma. Quero viver e deixar tudo isso sair.
Mas nada me vem à mente a não ser o escuro, é tudo que consigo ver.
Faça algo! Se esforce mais, faça eles te ouvirem! Deus, por favor! Não me deixe aqui, não me deixe sozinha nesta escuridão.
— Abra seus olhos, Elen...por favor — senti algo cobrir minha bochecha. O clamar ávido estava mais desesperado do que antes, quase tão apavorado quanto eu.
Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome...
— Droga... - ouço.
Todo aquele escuro foi iluminado por um fogo de repente, quando senti algo sobre toda a minha boca. Algo macio, meio úmido, e estranhamente familiar.
Quando abro meus olhos, ainda que por poucos segundos, percebo o porquê da familiaridade.
Um beijo.
Ele me beijou.
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Fire Game
RomanceEleanor Quinn Ele voltou, e, se antes ele já era ruim, agora ele é pior. Mas eu não vou fugir como antes, nem vou permitir que ele me veja vulnerável de novo. Você gosta de brincar com chamas e eu quase morri por isso, Maven. Eu não sou a mesma garo...