Capítulo 26

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A música alta da boate não deixava Raul ouvir a voz da sua consciência. Ele sentia a vibração do baixo reverberar em seu peito enquanto olhava ao redor, tentando assimilar o ambiente. As luzes piscavam, oscilando entre tons de roxo e azul, refletindo nos copos das pessoas que bebiam e dançavam sem preocupação.

Estava no que parecia ser uma área vip. Raul não tinha certeza, mas achou que fosse uma parte reservada pelo fato de que ficava elevada acima da pista de dança e tinha uma visão privilegiada do lugar onde ficava o DJ. 

Roberto estava completamente à vontade à mesa. William e Maurício já tinham sumido na pista de dança com duas mulheres que haviam acabado de conhecer. Raul, por outro lado, sentia-se um pouco deslocado, apesar da leve euforia causada pelo álcool. Nunca esteve em um lugar assim. Nunca pensou que estaria.

—  E aí, Raul, o que tá achando? — Roberto perguntou, jogando o braço ao redor dos ombros dele.

Raul hesitou antes de responder.

— É… diferente.

— Diferente bom ou diferente ruim? 

Raul olhou para a pista, onde as pessoas dançavam sem reservas, alguns em sincronia perfeita, outros em total descompasso. Ele não sabia responder. Parte dele se sentia seduzida por aquele mundo novo; outra parte dizia que não deveria estar ali.

Mas essa segunda parte estava cada vez mais difícil de ouvir.

— Você precisa relaxar, cara. — Roberto cutucou seu braço. — Vou buscar um drink pra você.

— Não precisa… — Raul tentou protestar, mas Roberto já havia sumido em direção ao bar.

Ele respirou fundo, massageando a têmpora. O calor do lugar começava a incomodá-lo, ou talvez fosse o efeito da bebida. A verdade é que ele se sentia solto demais, como se estivesse flutuando entre um estado de alerta e um torpor agradável.

Foi então que sentiu um toque em seu braço.

Ele se virou e viu uma mulher parada ao seu lado. Morena, pele dourada, olhos escuros e um sorriso que parecia saber mais do que ele gostaria. Ela usava um vestido preto curto e segurava um copo de alguma bebida colorida.

— Você que é o Raul? — ela perguntou, inclinando-se levemente para ele.

— S-sim. — Sua resposta saiu um pouco arrastada, e ele percebeu que estava mais alterado do que pensava.

— Seu amigo mandou eu vir te ajudar a relaxar — ela continuou, apontando com o queixo para William, que acenou desde a pista de dança. — Sou a Raquel.

Raul voltou o olhar para ela que estendia-lhe a mão. Ele hesitou por um instante antes de apertar a mão dela. O toque foi firme, mas delicado, e, sem que ele esperasse, Raquel se inclinou e tentou beijá-lo no rosto, mas Raul foi mais rápido, desviando.

— O que você está fazendo? — ele perguntou, sua voz ainda estava um pouco rastejante, mas, desta vez, pareceu expressar mais firmeza.

— Te cumprimentando.

Raul piscou algumas vezes, tentando focar melhor em Raquel. O perfume dela era doce e envolvente, misturando-se ao cheiro de álcool. Ele percebeu que seu coração estava batendo mais rápido, não sabia se pelo efeito da bebida ou se pela situação inesperada.

— Ah… — ele murmurou, sem saber exatamente o que dizer.

Raquel sorriu e levou o copo à boca, desistindo da ideia de beijá-lo no rosto. 

— Você parece tenso — ela comentou, sentando-se ao lado dele.

Raul soltou um riso curto, coçando a nuca.

Amor de Pai - Em Andamento ⏳Onde histórias criam vida. Descubra agora