01 ✖ Pai

532 30 0
                                    

Ainda me lembro de dar beliscões no meu pai e fingir que não fui eu, ou quando subia para as suas costas só para ficar maior.

Quando eu queria ir dormir com ele e levava todos os meus peluches para nenhum se sentir excluído. E nos dias de inverno em que ele se sentava junto á lareira e eu estendia o meu pijama nas suas pernas como se fossem um estendal para que o pijama aquecesse.

Fingia que adormecia no sofá para ele me levar para a cama. Fingia que não percebia a matéria sobre equações para o meu pai me vir ajudar. Bebia um copo de sumo quando ele bebia alguma bebida para poder brindar com ele.

Quando me magoava exagerava na dor para ele me dar um beijo mágico na ferida. Obrigava-o a sentar-se comigo no chão e a ler-me histórias, apesar de eu já as saber de cor. Dizia não perceber uma melodia na guitarra só para o ouvir repeti-la.

A vida é feita de fases, e em todas elas o meu pai esteve presente. Desde que me lembro de existir que ele era pai e mãe, já que essa nos havia abandonado quando completei um ano. E a partir daí que o meu pai assumiu ambas as funções paternais.

Nunca senti a falta dela, visto que tinha ambos os pais num só ser. Nos momentos normais e felizes, ou até mesmo nos momentos mais embaraçosos ele sabia exatamente como eu me sentia. Ele lia-me como se eu fosse o seu livro favorito.

Nunca fui uma pessoa sociável, sempre preferi os meus fones brancos e o meu MP3 ás pessoas. Mas junto dele eu era diferente, era mais divertida, era eu própria.

Em todas as coisas boas que conquistei na vida ele esteve presente. Quando aprendi a falar ele estava lá. Quando aprendi a andar de bicicleta ele estava lá. Quando escrevi a minha primeira canção ele estava lá.

O meu pai era um amante da música. Desde pequena que ele quis que a música fizesse parte da minha vida. Ele ensinou-me a tocar guitarra e piano, ensinou-me a compor, a sentir a música.

Ele era a minha alegria. E hoje faz dois anos que a perdi.

Dois anos que ele deixou a terra e se juntou a Deus no mais belo dos céus. Ele é a estrela mais brilhante nas noites escuras. O raio de sol mais luminoso nos dias quentes. É um anjo que agora reside lá em cima.

Sinto a sua falta todos os dias. Desde que ele partiu que a minha vida tem sido a mais solitária possível. O preto está presente em todas as minhas roupas e posso jurar que desde que ele morreu que nunca mais saí á rua com outra cor sem ser preto.

Não tenho amigos, ninguém que me apoie como ele apoiava. Ele era o meu melhor amigo, meu conselheiro, meu companheiro, era tudo para mim.

Era o meu pai e eu era capaz de dar a minha vida para poder voltar a tê-lo junto de mim.


DIANA♪lwtOnde histórias criam vida. Descubra agora