Capítulo 11

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Chego no estacionamento e Justin já está lá me esperando, ele não parece feliz quando me vê com Andrew.

— Andrew — Justin o cumprimenta.

— Justin.

— Obrigada, professor, pela ajuda com a matéria atrasada.

— Sempre que precisar, é só falar. — Ele sorri. — Eu vou indo... — Ele nos deixa sozinhos. — Estavam aonde? — Ele pergunta quando entramos no carro.

— Quis comer fora e pedi pro Andrew me ajudar com a matéria.

Ele não fala nada, apenas se concentra em dirigir. Quando chegamos em casa, vamos direto para o quarto.

— Vem cá. — Ele aponta no espaço ao seu lado na cama para eu me aproximar mais e abre o notebook. — Estava olhando umas casas. Achei algumas perfeitas para nós três. A que eu mais gostei é essa e não fica muito longe daqui.

— Não — digo por impulso. — Quero a casa mais longe daqui, por favor. — Ele sorri.

— Melissa não vai gostar.

— Eu tenho certeza de que ela vai entender!

— Ele é meu pai, Zara, ele pode ser a pior pessoa do mundo, mas vai continuar sendo o meu pai.

— Por isso mesmo, ele sempre vai continuar sendo o seu pai, a pior pessoa do mundo. Se você se sente confortável com ele, eu não.

— Zara, ele desconfia que você quer quebrar as regras. — Encara-me preocupado. — Lúcio veio perguntar sobre você pra ele. — Meus olhos se arregalam. O que ele quer comigo?

— O que ele perguntou?

— Se você era obediente e se estava mostrando algum sinal de rebeldia. O que aconteceu no enterro de Ane?

— Nada! Apenas falei que nós éramos grandes amigas.

— Zara, tome cuidado, as coisas não são tão simples como parece. Sabe o que Ane passou? Todos sabem a história deles. Ele podia aliviar com ela, mas ele não é assim com as outras pessoas.

— Não precisa se preocupar — dou um beijo nele. — Preciso dormir.

No sábado, resolvi voltar a reunião do encontro das mulheres. Preciso falar com Amélia sobre Lúcio. Entro em sua casa e procuro-a no meio daquela multidão de mulheres; encontro-a falando com uma garota que nunca tinha visto ali.

— Amélia, preciso falar com você — interrompo sua conversa sem um mínimo de educação. — É urgente. — Ela se despede da garota e acompanha-me para um lugar mais reservado.

— Diga, querida, parece pálida — ignoro seu comentário e vou direto ao assunto.

— Lúcio andou perguntando sobre mim. Ele queria saber se eu era obediente as regras.

— Por que, Zara? — Ela me pergunta furiosa.

— Porque acabei falando sobre Ane para ele, coloquei toda minha raiva para fora em seu enterro. Mas foi apenas sobre Ane e falei algumas coisas sobre as regras.

— Pensou o quê, Zara? Que iria ficar por isso mesmo? Você vai ter que mudar isso. — Ela suspira. — Você é nova, precisa fazer ele pensar que foi apenas uma coisa repentina sua...

Amélia me orienta em tudo que terei que fazer. Quando saio de lá, vou direto para casa de Lúcio. Ele ainda não chegou, mas a empregada me recebe. Encontro Luciano assistindo TV na sala e junto-me a ele.

— Você deve ser o Luciano. — Ele faz que sim com a cabeça. — Parece tanto com sua mãe — sorrio. — Como você está? — ele não responde nada, apenas me encara. — Não gosta de falar? — Ele faz que não com a cabeça. Quando Lúcio chega, ele corre, subindo as escadas.

— O que você está fazendo aqui? — demoro a responder chocada com a reação de Luciano.

— Eu vim ver Luciano e queria falar com você — digo e ele se aproxima de mim.

— Fale. — Ele cruza os braços.

— Fiquei sabendo que andou perguntando sobre mim, queria pedir desculpas pelo que eu falei. Ane era minha amiga e eu estava muito abalada e tudo isso de regras ainda é muito novo pra mim — digo tudo que Amélia me mandou dizer.

— Por que sinto que devo ficar de olho em você? Me desafiou quando fui ver você, me desafiou no enterro de Ane e está me desafiando ao vir na minha casa — a fúria em seus olhos me faz recuar. A última pessoa do mundo que quero chamar atenção é de Lúcio.

— Não tive a intenção de desafiá-lo. Só estava assustada e a morte de Ane... você parecia estar com raiva por isso vim aqui e Ane me pediu para tomar conta de Luciano... — Suas mãos vão direto para o meu pescoço e a fúria em seus olhos só aumenta. Tento respirar, mas é difícil.

— Como assim ela te pediu para cuidar dele? Você sabia que ela iria se matar? — ele grita tão perto de mim, que me obriga o encarar enquanto tento respirar.

— Ela... — falo com dificuldade, bato em sua mão para ele me soltar e ele solta — ela disse que tinha medo de que algo acontecesse e que se ela morresse, eu deveria cuidar de Luciano — minto. Ele me mataria se soubesse que não impedi Ane. — Nem imaginei que ela se referia a se matar.

— Meu filho não precisa de você — grita, apontando o dedo em minha cara. — Ninguém amou a Ane mais do que eu, você não tinha o direito de falar tudo aquilo! Eu a amava e obedecia às regras. Regras que você e seu marido devem obedecer.

— Sim, eu sei — digo, abaixando o olhar. Respiro fundo e controlo-me para não falar nada.

— Obedeça às regras ou mato você, seu marido. — Ele toca em minha barriga. — E seu filho. Eu não me importaria nem um pouco se fosse menina — me controlo, respiro fundo e não encaro. Amélia me avisou que ele tentaria isso, quero quebrar sua cara. — Com uma mãe linda como você, seria uma bela garota, com certeza, os homens do clã adorariam uma putinha parecida com você. — Eu quero matá-lo. Eles usam as meninas para se prostituírem. Filho da puta. Você não vai vencer, Lúcio, eu vou vencer. Engulo todo o meu orgulho.

— Nós iremos obedecer às regras — digo e sorrio quando imagino sua morte. A ideia de matar me parecia um absurdo, mas, com Lúcio, ela me dá prazer. Ane, onde você estiver, me perdoe, mas Lúcio não vai escapar.

— Já falou comigo e já viu meu filho, você já pode ir embora.

Não falo mais nada, apenas vou embora. Olho para a janela de um dos quartos e encontro Luciano me encarando. Sorrio para ele e mando um beijo, vendo um pequeno sorriso se formar em seu rosto. Entro no carro e vou direto para casa. Um problema resolvido, agora só falta mais um milhão deles.

Quando chego em casa, encontro Justin colocando algumas coisas em caixas.

— Arruma suas coisas, vamos nos mudar — diz animado.

— Se mudar pra onde?

— É surpresa — sorrio. Se livrar de Richard e ter um lugar só nosso me faz sentir que finalmente vou ter um pouco de paz.

Quando terminamos de arrumar as coisas, estou faminta.

— Podemos jantar agora? — pergunto.

— Claro. — Ele me beija — Temos uma visita hoje.

— Quem?

— Andrew.  

A escolhida. [amostra]Onde histórias criam vida. Descubra agora