Esquecido

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                    Clary me olha com espanto, sai correndo para abrir as persianas e olha pra cama. Vazia como eu havia dito. No mesmo momento chega alguém pela porta do quarto de cadeiras de rodas. É minhas mãe. Ela está na cadeira de rodas elétrica e entra. Seus olhos pareciam cansados quando me viram e imediatamente o olhar dela se transformou em uma fúria súbita. 

-Clarissa, O que eu falei sobre deixar a criadagem arrumando meu quarto enquanto eu estou fora? - sibilou ela me fuzilando com os olhos. 

Clary ia falar algo, mas não consegui ouvir porque saí correndo com os olhos lacrimejando. Desci as escadas e acabei batendo com força no peito de tio Víctor, pois minha visão estava embaçada e não vi sua aproximação. 

-Então vai ser assim? - falei já sem controlar minhas lagrimas - POR QUE VOCÊ ME TROUXE? ELA SEQUER LEMBRA DE MIM. 

Ele me olha com surpresa fazendo menção de falar algo, mas não fico para suas desculpas esfarrapadas. Saio correndo de novo com meus olhos ardendo muito. Vou até a porta de carvalho abrindo-a com um estrondo de fúria e vou até o lago que vi antes de entrar na mansão.Acho uma arvore estranha e me sento na suas raízes .O tempo passou depressa demais. O sol estava se pondo e eu vi algumas corujas. O que é engraçado, pois o vale das corujas tinha esse nome não pela presenças delas e sim pela formação de rochas que pareciam corujas. A coruja me fitou e eu me perdi nos meus pensamentos. Lembrando de quando era pequeno e minha mãe me pegava no colo... Me dava carinho. "Puta merda" penso "Ela não lembra mais de mim.". Bato na minha cara para deixar com esse sentimentalismo todo. A Clary havia me avisado afinal. A escuridão noturna começava a aparecer quando eu ouvi alguém me chamar. A voz era feminina e doce. Clary... 

-Kalef - ela disse ofegante e com o rosto vermelho, provavelmente estava correndo me procurando - vamos, precisamos voltar. A nossa mãe não sabia que era você. 

- Sou assim tão diferente dela, aponto que ela me confunde com alguém da criadagem? - falo magoado. 

Ela se senta ao meu lado e pega minha cabeça de leve, pondo-a no seu colo, e começa a enrolar seu dedo no meu cabelo encaracolado. Os olhos dela eram confortantes. 

-Olha Ka - começou ela- eu não te prometo que a mamãe seja carinhosa com você ou algo do tipo... Nem que ela lembre todo o tempo de você... Mas eu estou aqui e sou sua irmã, mesmo que sejamos diferentes como você disse, mas mesmo assim eu te amo. 

Falando isso ela me deu um beijo na testa e eu percebi que ela estava com os olhos molhados. Ela se levantou e pediu para nós irmos . Fui com uma cara amarrada, mas esperava que a minha mãe pudesse ser um pouco mais...  carinhosa. 

                                                                       *                        *                      *

 Já na mesa para jantar, o clima estava tenso. Minha mãe resolveu falar comigo, pedir desculpas e saber como tio Víctor estava cuidando de mim.  Clary tentava fazer mediações falando comigo, rindo e comendo aqueles vegetais nojentos que ela pensava que eram comestíveis. Minha cabeça estava doendo com aquela luz amarela. A mesa parecia que era para um batalhão, e o salão que era servida a comida era enorme. Estava prestando atenção nos entalhes da madeira da mesa. "Nossa tudo aqui é tão exagerado" penso. 

-Kalef - disse minha mãe secamente e limpando a boca com um lenço - você vai a escola amanhã. Víctor vai preparar tudo para você e espero que você nos orgulhe. 

"Como sempre... metas a cumprir" penso com raiva. Clary olha pra mim e fala : 

-O vilarejo no sopé do monte é muito legal e todas as famílias tem bons precedentes Ka, não há com o que se preocupar. 

-Não estou preocupado com as famílias e muito menos se elas são boas ou não - murmuro baixo.

Uma chuva repentina começou a cair lá fora e alguém veio bater na porta da mansão. 

-Quem deve ser a essa hora? - pergunto com certa curiosidade.

-Eu não sei, mas vou verificar - disse tio Víctor se levantando e deixando a sua sopa intocada. 

Não aguento a curiosidade e acabo indo com ele. Havia um garoto com mais duas pessoas, uma mulher alta e um garota. A mulher entrou sorrindo passando por tio Víctor, tirando as luvas e jogando pra ele. Depois eu corri para a mesa novamente. Minha mãe ficou brava, mas ao ver que a mulher entrou na sala de jantar ela ficou espantada.

- Heather? O que faz aqui na minha propriedade? - falou com o rosto pálido. 

A mulher se limitou a sorrir, sentar em um dos lugares vazios e dizer: 

- Vejo que cheguei na hora do jantar... 



Decifra-me e Devoro-teOnde histórias criam vida. Descubra agora