Parte I

29 5 3
                                    

Há três semanas, Daniela encontrou um envelope no chão do quarto. Presumiu que deveria ter caído da bolsa-carteiro do namorado numa das visitas inesperadas que ele costumava fazer. O remetente era uma tal de Elsa Coelho e o destinatário, Léo Paiva. O envelope tinha um aroma adocicado. Uma carta de amor, cogitou ela. E, subitamente, uma curiosidade fervorosa a arrebatou. Qual será o conteúdo? Eu sei que é errado, mas posso lê-la e depois devolver na bolsa-carteiro e ninguém saberá que o envelope foi aberto. Daniela foi até a cozinha e, através de um método simples, abriu a carta e começou a ler. As palavras de Elsa penetravam-na com força e amabilidade, descrevendo períodos felizes com a única paixão que tivera na vida e como sentia-se bem por ter vivido aquilo. Depois falou da angústia ao perdê-lo, das desavenças que tivera com amigos e familiares por causa dele, dos dez anos longe um do outro e, bruscamente, revelava que estava doente. Uma doença genética e incurável. Elsa terminava a carta implorando que Léo Paiva fosse vê-la no Hospital Regional de Barra — talvez, com ele ao seu lado, ela pudesse ficar bem —, e dizendo que sempre o amaria.

Daniela, chorosa, depositou a carta no envelope. Lacrou-o e, quando teve chance, jogou-a na bolsa-carteiro do namorado. Fingiu que nada tinha acontecido, no entanto, não conseguia esquecer Elsa e, todos os dias, perguntava-se o que Léo faria quando lesse aquela carta. E se Léo não receber a carta? E se Elsa falecer antes dele chegar? E se ele não for? E se...? Ao perceber que o namorado sempre a visitava nos intervalos do trabalho antes de despachar ou entregar cartas, Daniela começou a vasculhar a bolsa-carteiro dele em busca de respostas. Tudo na surdina, claro, pois não queria comprometer o emprego do namorado. Daniela precisava saber o que tinha acontecido com Elsa e Léo.

Então, um dia, ela descobriu.

E o namorado também.

Algumas Cartas Não Devem Ser AbertasOnde histórias criam vida. Descubra agora