[3] Run

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Dirigi-me ao enfermeiro mais próximo e perguntei-lhe se sabia algo sobre o acidente de avião.

Decerto que tinham informações já que tantas pessoas foram para aquele hospital nas últimas horas por essa mesma razão.

Explicaram-me que a maioria das pessoas entraram no hospital com ferimentos graves, outros com ferimentos ligeiros.

"Houve mortes." declarou o enfermeiro ao qual me dirigi, indignado. Reclamou dos pilotos e de como as linhas aéreas estavam cada vez mais incompetentes no trabalho que exerciam.

Agradeci-lhe e decidi ir até ao bar do hospital. Estava cheia de fome.

Ao sentar-me com a comida à frente pensei por quanto tempo continuaria aqui. Não por mim, mas pelo meu irmão. Estava preocupada com ele e só esperava que não fosse nada de sério.

Ele era forte acima de tudo. Eu sabia que ele iria recuperar de toda esta situação.

Chegámos ao nosso destino mas pelas informações que retirei do enfermeiro e pela ausência dos meus pertences, nós não tínhamos nada connosco. Não tínhamos dinheiro, roupa, nada.

Não tínhamos a nossa mãe connosco, o que me deu arrepios ao pensar de novo.

Suspirei ao pensar na situação em que estava metida.

- Vais ficar por aqui?

Dei um salto com a surpresa da voz de Calum mesmo atrás de mim.

- Desculpa. - falou.

- Acho que sim, vou esperar que o meu irmão recupere do que quer se passe com ele e depois procuramos algum sítio para ficar, por algum tempo. - admiti, alternando a minha visão entre os seus olhos e a janela a seu lado. - E tu? Já sabes onde vais ficar? - não sei porque lhe fiz tal pergunta mas parecia-me apropriado na altura.

- Não.

Olhei para ele sem reação e apenas o observei durante alguns segundos.

Ele continuou.

- Não tenho nada. - meio que se riu.

Sentou-se na cadeira à minha frente.

Decidi ser honesta com ele, sem qualquer razão aparente.

- Eu também não tenho nada. - digo enquanto olho a comida. - Perdi tudo.

- Perdemos. - Calum corrigiu-me - Não foste a única. Houve pessoas que perderam até a vida, estamos muito melhor do que esperava.

Automaticamente lembrei-me da minha mãe.

- Mas e então tu? Como estás? - perguntei, também tentando mudar o assunto.

- Tirando o facto de não ter qualquer dinheiro, roupa, enfim, estou ótimo.

- Eu não te posso ajudar. Desculpa.

- Não te pedi ajuda calma. Só estou a desabafar. Mas eu hei de encontrar algo.

Não disse mais nada.

Um enfermeiro passou por nós e perguntou se éramos servidos.

- Não, estou bem. - Calum rapidamente respondeu.

- Tens a certeza que não queres nada? - chamei Calum, ele não respondeu - Calum. - chamei de novo.

- Não não. Obrigada.

Ouvi um dos enfermeiros a ser chamado aos quartos, pareciam ter urgência. Lembro-me de olha-los seriamente.

Calum quebrou o meu raciocínio.

- Tiveste medo? - perguntou calmamente.

Olhei-o rapidamente.

- Medo?

- Sim, na queda do avião.

- Que pergunta, Calum. Claro que sim.

- Eu estava a ouvir música. Avisaram-me que era apenas turbulência, mas rapidamente percebi que era mais grave que isso.

- Eu estava prestes a ler, uns minutos antes o meu irmão veio ver como eu estava. - lembrei-me do momento onde estava tudo bem - E tu? - perguntei calmamente, com medo da sua reação - Tens família? Tinhas? - não quis utilizar o pretérito imperfeito mas era uma realidade muito provável, eu acho.

O sorriso desvaneceu-se quasr instantaneamente.

- Só um cão. Teve a mesma sorte que as nossas bagagens.

- Hum. É horrível quando os perdemos não é? - apenas disse.

- É. - levantou o rosto do chão.

Fez-se silêncio e tentei quebrar o mesmo.

- Bem, eu vou andando lá para cima. Levo a comida, vens também? - perguntei.

Apenas caminhou na minha direção.

Os corredores estavam cheios e todo o sofrimento causou com que o meu se aprofundasse nas minhas entranhas ainda mais.

Vi uma criança chorar encostada a uma parede, enrolada em si própria. Tive pena dela e tentei perceber o porquê do seu choro.

Calum passou por mim e foi exatamente em direção ao pequeno rapaz.

Agachou-se em frente dele e falou com ele por alguns segundos. Pegou na sua mão e entregou-lhe um carrinho de brincar, aquelas miniaturas que a maioria dos rapazinhos gostavam de fazer coleção.

Vi-o sorrir, olhando Calum nos olhos.

Calum fez o mesmo e foi a primeira vez que vi o seu sorriso.

Levantou-se, mas continuei a olhar o menino, que agora se divertia com o carro.

- Calum, onde tinhas o carro? - perguntei curiosa, sorrindo ainda para a criança.

- Fui buscá-lo aos perdidos e achados. Tenho feito isso desde que aqui estou. Tentei distribui-los. Já que as enfermeiras não o fazem.

Sorri.

Mas quebrei assim que entrei no quarto e não vi o meu irmão lá dentro.

Senti Calum atrás de mim.

- O meu irmão? - arregalei os olhos - Onde está o meu irmão?

Saí do quarto em pânico, procurando o meu irmão ou um enfermeiro.

- Elliot? Elliot? - gritei.

Ouvi Calum perguntar o mesmo a uma enfermeira que passou por nós a correr. Mas continuei a minha procura sem quase respirar.

- Ella! - ouvi-o chamar. - Está no piso de cima. - apontou o dedo nessa mesma direção.

Corri pelas primeiras escadas que vi e não pensei, durante um único segundo, em parar.

Li a placa que informava os pacientes sobre as áreas de análise nesse mesmo piso.

"Raio-X"
"Cuidados intensivos"
"Cardiologia"

- Calum! - gritei, preocupada, com uma mão a cobrir a minha boca.

Olhou-me com a mesma preocupação. Esperou uma resposta.

Eu nada disse.

- O que se passa, Ella?!

Apontei para a placa e dei dois toques ao de leve nesta.

Comecei a correr pelo corredor, que estava mais vazio que o anterior.

- Ella?!

- O meu irmão tem problemas de coração!

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Olá a todas! As aulas começaram e eu já estou farta e não tenho tido tempo nenhum para escrever absolutamente nada. Peço desculpa desde já.

Boa sorte para os testes e essas coisas todas, vcs sabem haha.

Até ao próximo capítulo.

XxSara

don't you mind + cthOnde histórias criam vida. Descubra agora