Aprendi a tocar piano quando tinha oito anos. Ficava escondida vendo a princesa tocar. Até que um dia esbarrei em alguma coisa e ela me ouviu.
— Eu já sabia que você estava aí.-Ela olhava para a partitura.— Venha, vou te ensinar a tocar.
Essa lembrança enche meu coração de saudade, tanta que não consigo conter as lágrimas.
— Porque está chorando.-Sinto o Conde se mover, inquieto.
— Gosto dessa música, me traz lembranças.- Em parte é verdade.
Fecho os olhos e continuo tocando Clair de Lune. Deixo as notas me levarem para além da sala privada do Conde, além do castelo, de tudo.
— Ele perguntou de você hoje.-Abro meus olhos, Conde Robert está em pé, ao lado do piano.— Anthony está te esperando.
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— Licença .- Bato na porta.-Seu pai disse que estava me esperando.
Anthony é um garoto de doze anos,franzino, e branco de mais. Nasceu cego e doente, mas conseguiu sobreviver. Como a mãe ele tem um talento brilhante para a música.
— Eu estudei a tarde toda.-Ele se vira na minha direção e sorri.— Meu pai ficou me ouvindo.
— Que lindo. Vamos, vou te levar para a sala, quero te todos que passam por lá ouçam você tocando.
Saímos do quarto dele, e muito de vagar caminhamos até a sala do palácio. O piano da princesa Elisabeth é branco. Presente de casamento do esposo.
— Vamos Anthony, toque uma música para nós.-Ajudo ele a se sentar.
— Vou tocar uma para você.-Ele coloca as mãos magras no piano.-—Porque sei que está triste.
Tento falar alguma coisa, mas a verdade é que eu gosto de ouvir as músicas tocadas por ele.
Anthony escolheu um prelúdio de Bach.— O Conde quer falar com você.- Ouço alguém falar ao meu ouvido.
— Victória,- Abraço minha amiga.—-Onde esteve?
Ela Sorri — Depois conversamos,mas agora você deve ir.
Caminho em silêncio total, aprendi a ser sutil por onde passar.
— Licença. - Entro no escritório e fecho a porta.— Precisa de alguma coisa?
— As vezes fico tão perdido quando você está tocando, que me esqueço das coisas.
— Fico lisonjeada Conde. - Sorrio envergonhada.
— Mas não te chamei aqui só para isso. Te chamei porque meu filho Mathew vai chegar amanhã, e quero dar uma festa em comemoração.
— Mas, eu... Desculpa, eu não sei se consigo.
— Eu sei que consegue.- Ele me olha.—Mathew acaba de se separar da mulher. Não quero que seja recepcionado por um velho, mas também não quero que seja por alguém estranho. Ninguém melhor que você Susan. Conhecia a mãe dele, e o palácio como a palma das mãos.
— Farei o possível. - Senti um misto de nervosismo e alegria.
— Sei que vai. Agora mãos a obra.
Me despeço dele com um breve Abraço, desço as escadas de mármore rosa, e passo direto pela cozinha.
— Minha mãe já foi embora?- Falo do centro da cozinha.
— Ela disse que precisava cuidar de uns assuntos, e saiu mais cedo. Seu pai também. - Margo me responde.
Margo e minha mãe são amigas à muitos anos, tantos que desde que me tenho por gente,lembro da Margo em casa, conversando com minha mãe.
Dentro da propriedade do palácio existe casas. Eram utilizadas por convidados à muito tempo.
A minha fica à cinco minutos a pé, não é grande, mas me sinto bem, principalmente no meu quarto, que por acaso é o sótão. Caminho em silêncio, sentindo o vento morno no rosto.
— Mãe? - Entro e fecho a porta.— Esta em casa?
— Sim querida. Estou na cozinha.
Caminho apressada para a cozinha, meu pai esta sentado na cadeira tomando um café, e minha mãe Sorri para mim, mas tem um olhar preocupado.
— Susan. - Ela abre os braços.
Minha mãe é uma versão minha, só que mais velha, e mais baixa, tirando isso, carrega os mesmos traços fortes que eu.
— Mãe. - Corro para os braços da minha mãe.— Mãe, o Bruce, eu.... -Desabo em choro, e sinto minha mãe apertar os braços em volta de mim.
— Tudo bem querida, vai ficar tudo bem.- Ouço minha mãe pedir para o meu pai sair.— Ele esteve aqui mais cedo.
Levanto a cabeça assustada, e vejo minha mãe olhar para a porta.
— Seu pai não pode saber. Ele esteve no palácio, queria te ver a todo custo. Foi rude, disse que invadiria e tiraria você a força.
— Eu passei lá no apartamento mais cedo, e peguei ele com a Pamela na cama. - Sinto a mesma raiva subir de novo.— Nunca mais quero vê - lo.
— Isso é muito grave filha, eu nunca imaginária isso, ele disse que você é muito cabeça dura.
— Não importa,- Limpo as lágrimas.—Ainda bem que foi agora, antes de casar.
— Se seu pai souber ele mata o Bruce. Temos que ter cuidado.
Meu pai é do tipo grandão, ao contrário de mim, ele é moreno e todo cheio de músculo, nem parece um jardineiro.
Dei uma desculpa qualquer e subi para o meu quarto. Minha cama fica na frente da janela, de lá posso ver o palácio, mas precisamente atrás do palácio, onde maioria dos quartos estão vazios.
— Droga.- Meu celular toca, — Bruce.
Miro meu celular por um tempo, depois faço a única coisa que me vem a mente. Arremesso ele na parede com toda a minha força, deixo os cacos no chão.
— Tenho coisas melhores, como por exemplo receber o príncipe Mathew.
Deito na cama e olho para o palácio, gosto de dormir olhando para ele.
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O Príncipe e Eu. DEGUSTAÇÃO.
FanfictionOlha só quem está sozinho.-Ela aponta com o queixo. -Se ele não fosse tão orgulhoso eu até iria falar com ele.-Imito a expressão dele.-Mas eu não gosto de dançar.-Falo grosso, imitando a voz dele. -Ele está olhando para você. -Não tá não. -Tá sim. O...