A vítima

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Estou sozinha. Sem meu casaco, sem calça, sem roupa. Tenho cicatrizes em todo meu braço, cicatrizes feitas por mim mesma, cicatrizes que iriam ser vingadas... a água cai em meu corpo... Em poucos meses, talvez dias, eu não precisaria mais fazer isso, meus problemas iriam acabar. As pessoas que me fizeram chegar a tais coisas iriam sumir, e por sorte, nunca mais as achariam... A água caia, e eu não parava de pensar nisso, não pensava em mais nada... Ações que eu fiz comigo mesma, socar espelhos por não ter coragem pra socar as pessoas. Cortar os próprios pulsos por ter medo de cortar os outros, de ataca-los. Se julgar, apenas porque me julgam também.
Agora, de um dia pro outro, do nada, sinto que não preciso de mais nada disso, pois tenho alguém em quem confiar agora, alguém que vai me ajudar. E me sinto com sorte por isso. Alguém... que eu não sei nada, e nem fiz questão em saber. É como se ele fosse uma nova fonte de energia. Quero saber mais, conhecer mais sobre ele. Não que eu o tema, justamente ao contrário, eu confio em alguém que nada sei. Isso é possivel? Se não for, estou fazendo o impossivel agora... junto de Aaron.

Chego ao meu pequeno pesadelo chamado School of Champions, ou simplismente, escola. Vou direto a sala de aula, estou 10 minutos, ou mais, atrasada por culpa dos meus pensamentos. E entro na sala de aula, todos olham pra mim. Abaixo a cabeça, não por vergonha dessa vez, e sim pra evitar gargalhar da cara de todos esse patéticos, todos iguais, roupas de marca, só ligam pra aparência, famosos... e zombam dos que apresentam algo diferente, pois não são capazes de entender.
Vou pro meu lugar, e olho pra Aaron, que encara de volta e... solta altas risadas, muito altas, apontando pra mim. Não entendo nada, o professor olha pra nós, furioso, com seu rosto redondo vermelho. E diz, ironicamente:
-Posso saber o que os engraçadinhos então fazendo, se é que posso me intrometer?
-Kaylee é hilária,-diz Aaron, em meio a gargalhadas- meu Deus.
-Muito bem, os dois vão pra Sra. Diretora com suas mochilas, e fiquem lá.-Diz o Sr. Melvis, o professor.
E fazemos. Estou furiosa,possivelmente vermelha de raiva, por que esse desgraçado colocou a culpa em mim por seu ataque imbecil de risadas? E como se pudesse ler meus pensamentos, ele diz:
-Desculpe, precisava fazer isso, ou não iamos conseguir fazer a... brincadeira... com a sua amiga.
Então é hoje mesmo. Agora. Finalmente vou começar a agir contra os fantoches do mundo. Minha raiva já não existe mais, substituida por gratidão, ele não se esqueceu.
-Como vamos fazer? -pergunto.
E então ele para na escadaria, abre sua mochila, e pega duas facas. Uma GhostFace, e outra Mr. Crocodile Dunde, ambas com lâminas afiadas e mortais. Ele me passa a GhostFace.
-Acho essa bastante parecida com sua personalidade,- Diz Aaron- aparência simples, porém perigosa.
-Não sou perigosa- digo, sem saber o que era o certo a se falar
-Então você não se conhece.- ele responde- Vamos ao plano então. Tenho certeza que Brenda irá pra diretoria também, confie em mim. Eu escrevi algo pro professor, e ele deve achar em poucos segundos, é bastante ofensivo.
"Você vai ter quer estar no banheiro, por onde ela vai passar no caminho, e puxa-la, tapando sua boca. Eu vou estar também, mas ficarei trancado, até você me chamar, por precaução. Entendeu?"
Respondo que sim, e seguimos o plano. Da porta do banheiro feminino, avisto ela se aproximando, e quando sua sombra se aproxima da porta, eu a agarro. Tapo sua boca, que vibra com os gritos abafados delas, e a puxo pra dentro. Não é preciso chamar o Aaron, que já está me ajudando a mante-la quieta. E ele coloca uma venda escura em seus olhos e boca, a inpedindo de gritar.
Faz sinal para que eu fique quieta, pois ela não conseguiu ver nossos rostos, e não queriamos ser descobertos. Ele tranca a porta. Iremos começar, e vai ser apressados, porém, dolorosos.

[...]

Ninguém vai no banheiro do 1° andar, estamos seguros. Ele só é usado em eventos e ocasiões especiais... como essa.

E então, pressiono a faca contra seu rosto, e desta vez, sinto uma pontada de alegria em ver o sangue sair, e ouvir seus berros abafados, e perceber o choro impedido pela venda negra. Aaron não diz nada, apenas olha. Quis fazer isso sozinha, não queria ajuda dessa vez. E não tive. Brenda... a querida Brenda, a linda Brenda, agora estava feia, por minha causa... assim como meu coração estava feio, por sua causa... estávamos quites agora. Mas ainda não acabou... ainda vai ter mais...

E então Aaron faz sinal com a cabeça em direção á um dos sanitários, onde eu devia trocar a roupa, por uma bem parecida, e assim não ficaria com sangue. E fiz. Fomos então para a diretoria, onde ouvimos as regras da escola, repreensão por mal comportamento, entre outros... e fomos mandados pra casa, já que somos ambos praticamente órfãos. Os pais de Aaron o abandonaram em um abrigo, de onde fugiu com 14 anos. Agora com 17, mora sozinho. E então, na minha casa, ele diz:
-Sua frieza me cativa Kaylee...
E isso foi o suficiente pra mudar meu dia, de bom, pra perfeito. E então anoitece, e ele dorme lá mesmo, no sofá, e eu só o admiro.

Mas também outra coisa passa pela minha cabeça, além dessa coisa que não sei o que é, que cresce dentro de mim... Quem será o proximo?

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